Após sete anos de psicoterapia, ainda que com largos intervalos, além de algumas leituras e uma boa dose de reflexões, começo a identificar melhor certas atitudes das pessoas e o que elas podem significar, abaixo da superfície.
Tome-se o exemplo, que me ocupou esta semana, das pessoas sentimentais, facilmente melindráveis. Com elas, uma palavra mais dura, uma inflexão mais grosseira, uma cobrança mais incisiva pode disparar reações intensamente negativas. Choro, melancolia, sentimentos de incompreensão e abandono, além dos queixumes do tipo não-precisa-falar-assim-comigo, ou das explicações do tipo não-é-o-que-você-falou-mas-como-você-falou.
Mas por que as pessoas se tornam assim tão suscetíveis? Uma boa resposta pode ser encontrada em fatores que o sentimental provavelmente não percebe e, se lhe dissessem, ele negaria e ficaria ainda mais ofendido. Trata-se da incapacidade de lidar com as próprias fraquezas, que provoca no indivíduo esse excesso de emoção. Inconscientemente, ele deseja ser poupado das críticas e cobranças. Ao chorar e sofrer, ele espera que o interlocutor não lhe diga o que não quer escutar nem lhe instigue ao que não deseja fazer. Então se vale de um expediente malicioso porque, se o interlocutor não atender aos apelos de uma pessoa magoada, acabará com o estigma de cruel, insensível, detestável ou no mínimo mal educado.
Re-edita-se, assim, o papel da vítima e do algoz. Porém, frequentemente quem se apresenta como vítima é, na verdade, alguém que precisa urgentemente repensar a sua vida, os seus atos, os seus sentimentos e a sua forma de se relacionar com os outros. Não conseguindo fazê-lo sozinho, ou através do diálogo ou de conselhos, quem ama esse sentimental por vezes se vê obrigado a subir o tom, tornar-se áspero ou negar o apoio que até então ofereceu. Como ocorre com as crianças, há casos em que só largando o indivíduo consigo mesmo, em um momento de dificuldade, ele poderá superar as próprias fraquezas e aprender lições fundamentais para a continuidade de sua vida e para sua felicidade futura.
O algoz, assim, deixa de ser tão mau. Ele pode ser, apenas, alguém querendo, sinceramente, ajudar.
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