quarta-feira, 28 de março de 2007

Construindo porcaria

Belém está repleta de edifícios em construção. Repleta mesmo; a quantidade é impressionante e constitui, para mim, um grande mistério. Afinal, considerando o baixo nível de renda do belenense padrão, somado ao fato de que nesta cidade somente se constroi para uma classe média com alta capacidade de endividamento, ou daí para cima, não consigo acreditar que existe público comprador para todas essas unidades em vias de lançamento.
Mas falemos sobre isso outra hora. Escrevo para dizer que, em minhas andanças, tenho vista dezenas e dezenas de canteiros de obras. Nenhum, contudo, tão imundo e pernicioso quanto o que a Village mantém na esquina da Almirante Wandenkolk com a Antônio Barreto, no Umarizal. Ali, a poucos metros de onde a construtora pretende manter seu escritório (basta atravessar a rua em diagonal), a calçada desapareceu: restos de construção, amontoados de pó, pilhas de caixas de papelão rasgadas e muitos pedaços de madeira — perigosos, porque quebrados e cheios de ponta —, isso considerando apenas o que vi numa rápida passada, compõem um cenário tétrico, que ajuda a disseminar o aspecto caótico que toma conta da nossa Belém. Passei por ali há poucos minutos, por sorte de carro. Quem for a pé, tem que descer para a rua e desviar das poças de água suja. Deplorável.
Estive em outras cidades em que uma obra, por menor que seja, só vai adiante se o responsável mantiver contêineres no local diuturnamente. Entulho na rua, nem pensar. Tais contêineres são pagos, claro, e existem empresas cujo objeto comercial é, justamente, disponibilzá-los aos interessados. Essa despesa faz parte do custo da obra e existe fiscalização. Fiscalização que é um dos maiores nós de Belém, para variar. Embora tenhamos lei disciplinando a disposição de entulho na rua.
Considerando que a empreiteira em questão se jacta de que ninguém vende, constrói e entrega mais do que ela, Belém corre o risco de - não bastasse o lixo do cidadão comum, o lixo dos camelôs, o lixo residencial lançado ao Deus dará, o lixo não recolhido pela prefeitura — tornar-se um imenso lixão da construção civil. Graças ao misericordioso Deus, os demais canteiros que vi estão ao menos decentes.
No campo da construção civil, ninguém emporcalha a cidade mais do que a Village. Ninguém.

Atualizado em 4.4.2007, às 12h46:
Esqueci-me de informar que há dois dias passei novamente pela mencionada esquina e observei que ela fora limpa. Não por senso de higiene ou cidadania, mas simplesmente porque a construtora precisava de espaço para acomodar o seu carregamento de tijolos. E providenciou um. Na calçada.

6 comentários:

Ivan Daniel disse...

Putz!! Passei duas vezes hoje por lá e não percebi... talvez pela pressa... ou pior, pelo costume de ver lixo pelas nossas ruas e "não se importar"... é uma tristeza... estou como a maioria, só vendo se alguém gritar... mereço um tapa pra acordar.

Anônimo disse...

Yúdice,
Inclusive aquela construção na Wandekolk onde será o escritório da Village, repare que eles não estão obedecendo a legislação municipal para construir, não deram o distanciamento que a lei impõe, salvo engano 1 metro da casa ao lado, constituindo uma afronta à lei. Agora detalhe, a SEURB não fiscaliza, CREA não fiscaliza, resumindo: é uma ZORRA TOTAL.
Para encerrar, um servidor da UFPA, nível médio, pessoa simples e lutadora, estava construindo a casa, isto é, trocando a madeira pelos tijolos, na Pedreira, de repente apareceu um fiscal do CREA exigindo o projeto com a assinatura do engenheiro e etecetera e tal...
Argh!!!

Yúdice Andrade disse...

Ivan, quanto mais o tempo passa, mais as pessoas - todos nós - ficamos assim. Por isso precisamos ser despertados e foi essa a intenção da postagem. No teu caso, não precisamos do tapa.
Pedro, isso cria um impasse que os agentes fiscalizadores deveriam responder. Sejamos utilitaristas: quem tem mais dinheiro para pagar multas por infração às normas edilícias? O modesto servidor público ou as grandes empreiteiras? Estas. Logo, elas é que deveriam ser fiscalizadas com mais freqüência, urgência e eficiência, já que constróem mais e em maior porte. Mas se elas não são fiscalizadas e o cidadão comum é, surge aí um nó cuja resposta eu não direi neste blog. Mas é uma conclusão razoável, não achas?

Anônimo disse...

É possível que ninguém emporcalhe mais a cidade que a Village, mas todas, literalmente todas as construtoras executam suas obras à margem do Código de Postura, ocupando às vezes toda a calçada, fechada com tapume, jogando entulhos na rua, deixando cair material dos andares mais altos nas casas vizinhas e até nas pessoas, num desrespeito de proporções amazônicas e não se vê ninguém ou ouve nenhuma voz combatendo isso. E a observação do citadinokane é pura realidade: se um cidadão deixar um montículo de areia na calçada é multado, se po~e ou tira um tijolo é admoestado pelo CREA.
As construtoras, bem, essas pertencem a empresários que trazem o "progresso" e o "desenvolvimento" à cidade, além de garantirem "emprego" a outros.

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, nós sabemos disso. Se considerarmos o Código de Posturas, não escapa uma.
Tenho um amigo que, por razões éticas, não quis envolver-se em negociatas para conseguir liberar obras. Resultado: deixou o emprego e agora trabalha por conta própria, fazendo projetos sem, entretanto, executá-los pessoalmente.
Sintomático, não?

Frederico Guerreiro disse...

A Village é a pior de todas. Além de ser a que mais emporcalha, é a que mais lança prédio sem projeto aprovado pela Secretaria de Obras e Urbanismo e sem registro no Cartório de Registro de Imóveis. Lembram-se das duas torres, dupla "Mussum", Village Moon e Village Sun da Doca? Pois é um dos casos. A construtora enfrenta atualmente ação por danos morais (CDC). A segunda. Perdeu a primeira, mais de 1 milhão de reais.
Mais: sabem de onde vem o tutu da Village? Dizem, eu disse dizem ein?, que é dos desgraçados ex-associados da extinta Pró Saúde. Breve teremos os desgraçados da Village, como por exemplo, os pedestres, ou, até um prédio deles cair, o desgraçado consu ... deixa p'ra lá.
Ainda mais agora que estamos sem prefeito para mandar fiscalizar...
Triste.