O caríssimo confrade Carlos Barretto, nosso colega de Flanar e médico intensivista, faz um oportuno esclarecimento sobre o estado de choque e sua relação com doação de órgãos, que foi mencionada na postagem "Órgãos perdidos", três abaixo desta. Ei-lo:
De fato, o estado de choque inviabiliza a doação de órgãos. Contudo, porém, todavia, existe um ítem básico na área de Medicina Intensiva, que todo intensivista tem na cabeça, que se chama "Suporte Básico ao Potencial Doador de Órgãos". Entre medidas simples, inclui manter boa oxigenação do potencial doador (o que é feito com os ventiladores artificiais disponíveis em qualquer UTI), além de manter boa hidratação (com uso de cristalóides e expansores de volume), corrigir distúrbios hidroeletrolíticos e ácido básicos (mera rotina) e até o uso de drogas vasoconstritoras (como dopamina, noradrenalina), medicamentos habituais e absolutamente livres de qualquer complexidade, utilizadas regularnente nos estados de choque.
Só considero portanto o argumento do estado de choque válido, se a despeito de todas estas medidas, o choque persistir (quando então é dito "refratário"), e de fato, inviabilizar a doação.
Quando escrevi o texto, tinha dúvida sobre se o choque era uma condição ligada ao acidente ou se poderia decorrer das circunstâncias particulares do tratamento médico recebido. Ainda não sabemos o que ocorreu no caso concreto, mas o Barretto já lançou maiores luzes sobre a importante questão.
2 comentários:
Numa sociedade, onde o número de pessoas que esperam por um transplante é imensamente superior ao número de doadores, deveria ser tomada todas as atitudes cabíveis, e com urgência, quando surge um doador.
Exatamente, Ana. Foi por pensar assim que o episódio me entristeceu tanto.
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