Sou completamente fascinado com o modo como a criança aprende. Não aprender alguma coisa específica, mas com o processo de aprendizagem em si mesmo. Nos dois primeiros anos de vida, com a máxima plasticidade cerebral, a criança nos oferece demonstrações cotidianas de um poder impressionante.
Já acompanhei, dentro de casa, o desenvolvimento de duas crianças desde o nascimento delas. Contudo, a mais nova delas hoje está prestes a completar 14 anos. Se hoje eu sei bem pouco sobre a mente humana, avalie naquela época! Mas hoje, pelo menos, sou um curioso pelo assunto e já li alguma coisa decente a respeito. Por isso, graças a Júlia, pude me encantar com o desenvolvimento de seu raciocínio. Recordo-me dela olhando perdida para uma bola que desaparecia atrás de um objeto e, tempos depois, concluindo sozinha que bastaria afastar o tal objeto para rever a bola. Aprendera a noção de continuidade, de permanência dos objetos que não podem ser vistos.
Incontáveis exemplos poderiam ser fornecidos. Fico com um de hoje, porém.
Eu estava dentro d'água e ela, da borda da piscina, me pediu um brinquedo que flutuava atrás de mim.
— Qual? — perguntei, apontando para o brinquedo flutuante. — Este aqui?
— É, aquele.
Aprendemos nas aulas de Língua Portuguesa que este, esse e aquele são pronomes que indicam uma relação de proximidade entre o indivíduo e o objeto. Perto de quem fala, perto do interlocutor e longe de ambos. Ao me responder, esta manhã, Júlia demonstrou compreender, de algum modo, que o brinquedo estava longe dela. Conversei com Polyana e nenhum de nós sabe explicar como Júlia pode ter alcançado essa percepção. Não é algo que tentássemos fazê-la entender. Fiquei encantado com o raciocínio dela, mas não encontro nenhuma explicação para a aprendizagem dessa minúcia. Não pode ter sido apenas um copiar o nosso jeito de falar, porque esses pronomes, para variar, são mal empregados pela maioria das pessoas.
Obviamente, o correto a dizer seria "esse" e não "aquele". Mas aí também você já quer demais, não?
Apaixonado pelo idioma, continuarei a perscrutar esse instigante processo de aprendizagem da habilidade de comunicação, em geral, e da língua, no particular.
3 comentários:
Yúdice, por favor, por favor, por favor, não me interprete mal, não esqueça que eu também sou mãe e vou te fazer uma perguntinha que não é ofensiva, mas que também nos remete as indagações quanto à aprendizagem:
Você nunca teve cachorro não? Eu sempre tive e sempre comparei, te juro, a aprendizagem dos filhotinhos às das crianças.
Concordo contigo, é incrível a capacidade de ambos de entendimento, às vezes, com meias palavras.
Você não ficou chateado comigo não, né? Eh...eh...eh...
Não precisavas pisar tanto em ovos, Ana. Hà muitas semelhanças no processo de aprendizagem de animais e de crianças. Muita coisa é puro condicionamento. A maior diferença é que os cães ficam estacionados numa espécie de infância eterna. Não há nada de ofensivo em teu comentário. E ele é bem sensato.
Falando em condicionamento, quando o Rodrigo era pequeno, depois que eu colocava o tênis no pezinho dele, eu dava um tapinha do lado para ele mudar de pé, depois eu dava um tapinha no outro pé para avisar que já tinha terminado. Quando ele começou a se calçar sozinho, por muito tempo, ele dava um tapinha no pé dele também. Eu achava isso o máximo!!!
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