Quando fui voluntário no setor de oncologia infantil do Hospital Ophir Loyola (durante quatro anos), e via crianças morrendo uma após outra, amargurava-me a sensação de impotência. Foi quando comecei a desejar uma tarefa que fosse realmente capaz de dar uma guinada na vida dos beneficiados. Trabalhar com menores em situação de risco, p. ex., para o que a minha formação jurídica poderia ser útil. Mas os anos foram passando e a ideia não chegou a ser concretizada. Mas também não foi esquecida.
Por isso, acabei me sensibilizando muito ao ler esta reportagem sobre jovens sem família. Foram abandonados pelos pais biológicos, não tiveram pais adotivos e passaram as vidas em abrigos. Para eles, o Código Civil de 2002, que reduziu a maioridade civil para 18 anos, não foi benéfico. Afinal, aos 18 eles não podem mais permanecer nos abrigos: precisam sair e prover a própria subsistência, mas invariavelmente não têm nenhuma fonte de renda, tiveram instrução escolar baixa e, como é fácil deduzir, são emocionalmente frágeis, já que lidaram sempre com a perspectiva do abandono e não passaram pelas experiências próprias de quem teve um lar.
Somente por isso, chegar à idade adulta e seguir seu caminho honestamente já é, no caso deles, digno de elogios.
Achei interessante a experiência desenvolvida no Estado de São Paulo, citada na reportagem, mas ela me provocou como reação imediata a pergunta sobre como seriam as coisas em outras unidades federativas. E a matéria fornece algumas pistas, através de um infográfico. Naturalmente, cliquei no Pará. Eis aí a informação que aparece:
Relata-se uma experiência restrita à capital. E no restante do Estado, como será? Esses jovens recebem alguma assistência além de ficarem amontoados em abrigos públicos? Para piorar, as informações sobre Belém estão indicadas com um "segundo a prefeitura", o que dispensa explicações.
Em suma, esse é um campo onde há enorme necessidade de apoio. E onde podemos fazer a diferença nas vidas de muitas pessoas. É um caso a se pensar.
3 comentários:
Falando em excluídos, leia esta reportagem sobre a Advogada que escreveu um livro sobre o descasso do Judiciários para com as pessoas.
O interessante, também, é a vida da autora do livro, pois ela sofre de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença degenerativa que a impede de falar e movimentar qualquer parte de seu corpo (a não ser os olhos e o nariz).
Seu nome é Alexandra Lebelson Szafir, 42, advogada criminalista.
Vai abaixo o link:
http://www.portalibahia.com.br/falabahia/?p=30239
Yúdice, o que parece um nada para muita gente, é um tudo para outras tantas.
Às vezes, apenas conversamos, damos atenção a um jovem desse e eles sentem-se tão bem, a autoestima deles dá uma guinada. E o que nos custa dar atenção a alguém?
Não devemos jamais esquecer que são os jovens de hoje que farão o Brasil de amanhã, e detalhe, nossos filhos e netos estarão presentes no Brasil de amanhã.
Aí fica uma pergunta: Que tipo de país queremos para eles?
Que assunto valioso, não, Liandro? Se o livro for bom, deveria tornar-se leitura obrigatória para os concurseiros. Porque para quem já está dentro, só com boa vontade pessoal.
Verdade, Ana. Às vezes eu queria saber como fazer para chegar a esse estágio de sentir que ajudei de fato.
Postar um comentário