sábado, 1 de maio de 2010

1º de maio

Já manifestei, aqui no blog, mais de uma vez, a minha solidariedade aos trabalhadores que, por necessidade, venderam as suas almas ao demônio leia-se: shopping centers e grandes supermercados(*)  e, ao fazê-lo, perderam o direito ao repouso, à convivência familiar, ao lazer e a outras pequenas alegrias da vida. Aquelas que, dizem, são indispensáveis para a saúde, bem estar e sanidade mental de todo ser humano.
Agasta-me ver essas pessoas trabalhando em jornadas escorchantes, ganhando mal, com direito a quase nada, cobrados aos extremos e, ainda por cima, expostos ao permanente risco de desemprego, se tirarem o sorriso dos lábios. Quantas vezes vi caixas de supermercado se queixando de febre, de dor, de exaustão ou de uma simples urgência de ir ao banheiro, sem poder. Muitas dessas pessoas se esforçarem por ser simpáticas comigo e eu tentei devolver-lhes a gentileza e ser compreensivo. Pode contar comigo para criticar a exploração do trabalho pelo capital.
Decorre daí que, a meu ver, a Justiça do Trabalho deveria ser mais rigorosa com os empresários, na preservação das folgas dos trabalhadores. Muito mais rigorosa. Inclusive se valendo de seu poder normativo para impor, nas negociações coletivas, padrões mais razoáveis. Aliás, mais humanos.
Por seu significado histórico, o dia 1º de maio, mais do que outros feriados, deveria ser respeitado. É um absurdo que tantos estabelecimentos tenham aberto suas portas hoje. E o dano causado pelo cumprimento de uma liminar dada pelo TST somente na parte da tarde não será ressarcido. O sindicato profissional promete cobrar uma multa de 5 mil reais por empregado que trabalhou. Sabemos que essa multa, se chegar a ser imposta, jamais será paga. A meu ver, seria mais realista compensar os obreiros com novas folgas, levando em conta, inclusive, que se as portas dos supermercados foram fechadas as 13 horas, com certeza os empregados saíram bem depois disso, porque ainda precisaram limpar, arrumar, etc. E isso também é trabalho, claro. No final das contas, eles perderam o dia todo.
Não desejo que voltemos ao tempo em que a cidade fechava para o almoço. Sei que isso é um caminho sem volta. Mas não podemos confundir necessidade com conveniência. Vi gente, em reportagens de TV, defendendo o seu direito de comprar alguma coisinha de última hora. Ora, me compre um bode! Você sabia que seria feriado e qual feriado seria. Não queira que milhares de pessoas paguem o pato por você ser desorganizado ou esquecido. Esse tipo de mentalidade é própria de quem não tem empatia pelo prejudicado. O sujeito não se bota no lugar do trabalhador, mas com certeza conta os dias, no calendário, para o próximo feriado que ele mesmo gozará. E defende, com fúria, a interrupção do expediente nos dias dos futuros jogos do Brasil na Copa. Vagabundagem, pode. O trabalhador descansar, não.
Mas com tudo isso, não sei o que faria se, por alguma razão, estivesse eu entrando num supermercado, hoje, e fosse impedido por um sindicalista. Vi cenas de um cara literalmente quase dando com o dedo em riste no rosto de um consumidor. Como se ele fosse o culpado. E como se ele não tivesse o direito de ir e vir. Como sou um nanico, não poderia partir para o desforço físico. Mas que pelo menos o mandaria à merda, lá isso mandaria. Abuso eu não tolero, venha de onde vier.

(*) Sem esquecer, contudo, que os verdadeiros representantes de Satanás na Terra são os bancos.

9 comentários:

Anônimo disse...

Para complementar seu raciocínio consegui ouvir nas ruas que era um absurdo as lojas estarem fechadas em pleno sábado feriado.

Anônimo disse...

E os feriados de natal e ano novo, os supermercados de belém só não trabalharam por causa de uma liminar dada pelo juiz Vicente Malheiros do TRT, que merece aplausos Mas quando foi no feriado da semana santa, a outra juíza Rosita acabou permitindo o trabalho, que é um absurdo para nós trabalhadores.
Zé do Batente.

Ana Miranda disse...

Os professores estaduais de Minas estão em greve e o nosso Comitê em apoio ao direito de greve dos professores, fomos à feira de um bairro da zona norte de Juiz de Fora fazer um ato explicando o motivo da greve e por lá, TODO o comércio estava aberto. Não havia uma única loja fechada, pelo menos nas ruas por onde panfletávamos.
Só para você ter uma ideia, a secretária de Educação de Minas ameaçou os grevistas com demissão, substituição de professores e corte de ponto. Por sua incompetência em dizer que todos os grevistas seriam demitidos se não voltassem ao trabalho, foi obrigada a enviar outro ofício retirando do 1º ofício enviado o ítem em que demitiria os professores, quanto às substituições os professores entraram na justiça. Agora, quanto ao corte de ponto eles fizeram uma frase maravilhosa: "Se o que eu ganho não enche o meu armário, dane-se o corte no meu salário".
Posso até concordar que algumas pessoas, por razões pessoais, sejam contra a greve, agora, querer negar um direito que consta na constituição já é demais, né não?!

Anônimo disse...

Olha só o que a gente ganhou na justiça.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Supermercados proibidos de funcionar no Natal e Ano-Novo
O desembargador federal do Trabalho Vicente José Malheiros da Fonseca, o mais antigo do TRT-8ª Região (Pará e Amapá), designado para funcionar no plantão judiciário da Justiça do Trabalho, indeferiu, na tarde desta quarta-feira (23), pedido liminar ajuizado pelas empresas Nazaré Comercial se Alimentos e Magazine Ltda. e Líder Supermercados e Magazine Ltda.
As empresas pretendiam sustar os efeitos da conciliação celebrada no dissídio coletivo da categoria, que proíbe o trabalho nos dias de Natal de Ano Novo nos supermercados e hipermercados.
O magistrado considerou que o acordo, homologado por unanimidade pelo Tribunal no último dia 17 deste mês, abrange todas as empresas do ramo, associadas ou não à entidade sindical patronal.
Portanto, nesta quarta-feira e na próxima, 31 de dezembro, os supermercados funcionarão somente até as 20h e até a saída do último cliente que estiver nos estabelecimentos, conforme a norma coletiva em vigor.
http://blogdoespacoaberto.blogspot.com/2009/12/supermercados-proibidos-de-funcionar-no.html
E agora como fica os outros feriado? Alguem sabe dizer?

Yúdice Andrade disse...

Jean, isso porque o sujeito não se dá ao trabalho de pensar no motivo do feriado. Falta de empatia, como sempre. Individualismo. O cara só pensa no próprio benefício.

Não quero levantar nenhum falso, Zé do Batente. Mas a magistrada referida costuma aparecer em colunas sociais, o que me faz pensar se ela tem empatia (vou insistir neste aspecto) com os setores patronais. Não quero fazer nenhum determinismo. É apenas uma especulação.
Como jurisdicionado-trabalhador, eu me sentiria desconfortável de ser julgado por um juiz que vivesse nas tais altas rodas. Quanto a Vicente Malheiros, é tio de minha esposa - meu tio por afinidade -, por isso minha manifestação pode soar tendenciosa. Mas confio no senso humano e na alta capacidade técnica dele.

Realmente não se deve negar qualquer direito constitucionalizado, Ana. Mas todos devem ser exercidos com coerência e respeito com os demais membros da sociedade, que não são culpados de suas mazelas.

Das 23h08, quanto aos outros feriados, renovo a minha solidariedade.

tadeu disse...

Yúdice , uma vez já fiz comentários a respeito , trabalhei em aviação por muitos anos e cansei de passar o natal , ano novo , domingos e feriados paletizando ou despaletizando vôos.Nunca achei que tivesse vendido minha alma , há setores que tem que funcionar independente do dia , tudo se resume a acordos trabalhistas.Aceita-se ou não em função de necessidades ou própositos na carreira.Imagina se estendermos essa visão a saúde , segurança , aviação etc.
Abraços
Tadeu

Anônimo disse...

São opiniões como a sua, Yúdice que fazem com que essa cidade e estado se atrase em comparação com outras grandes cidades. Seu raciocínio é simplista e cooperativista. Em um país que cada vez mais precisa de novos empregos, você colabora com o pensamento raso e tacanho de quem mistura alho com bugalho. Mas fazer o quê? Quem quer trabalhar não mede esforços e é para isso que existe escalas de trabalho, que derruba sua cantilena tese.

Yúdice Andrade disse...

Mas veja a diferença, meu caríssimo Tadeu: a atividade aeroviária não pode parar, assim como o transporte público urbano, os serviços médicos, o fornecimento de energia elétrica e de água, além de diversos outros, hoje indispensáveis.
Já no caso do comércio, a situação é completamente diferente. O mundo não acabará se eu precisar esperar o dia seguinte para comprar um sabonete. E insisto: se não me lembrei de comprar antes, azar o meu.
Meu amigo, o funcionamento do comércio já é extenso demais. As lojas abrem muito cedo e fecham muito tarde, quando não são 24 horas. Até as mais luxentas dondocas sempre têm um horário possível, entre a academia e o cabeleireiro. Acima de tudo, o comércio até pode funcionar de domingo a domingo, desde que contratando mais trabalhadores. A questão não é proibir o comércio aos domingos, e sim não obrigar o mesmo empregado a trabalhar quase que sem descanso, semana após semana.
Espero ter me feito entender. Abraço.

Das 7h53, você merece uma resposta com destaque.

Anônimo disse...

Yúdice , bem esclarecido.Concordo integralmente com a colocação dos ultimos parágrafos da sua resposta.É isso que penso
Que legal discordamos concordando.rsrsrsrsr
Bacana e um abração
Tadeu