terça-feira, 4 de maio de 2010

Progresso ou morte!

Em resposta à postagem "1º de maio", um comentarista anônimo me deixou esta graça de crítica:

São opiniões como a sua, Yúdice que fazem com que essa cidade e estado se atrase em comparação com outras grandes cidades. Seu raciocínio é simplista e cooperativista. Em um país que cada vez mais precisa de novos empregos, você colabora com o pensamento raso e tacanho de quem mistura alho com bugalho. Mas fazer o quê? Quem quer trabalhar não mede esforços e é para isso que existe escalas de trabalho, que derruba sua cantilena tese.

Convenhamos, o sujeito merece uma resposta à altura.

1. Antes de mais nada, fico feliz de saber que a culpa do atraso do Pará é minha. Assim, basta que eu vá embora ou morra e o Estado poderá seguir seu caminho glorioso rumo ao progresso e ao desenvolvimento.
Sim, eu sei que este mote foi idiota. Mas não fui eu quem começou.

2. O comentarista é um nítido defensor das atividades econômicas predatórias que sempre caracterizaram a vida deste Estado. Representa o vetusto e mofado discurso desenvolvimentista dos procedimentos econômicos intensivos que, mal intencionado aos extremos, não se peja de passar recibo. Por outras palavras, faz-se de besta para vender sua ideologia, sem sequer colocar a questão em termos. Não saber ou não querer identificar o âmago da questão é um sintoma preocupante e desqualifica o debate.
Prova disso é o ataque pessoal. Diz que meu raciocínio é "simplista e cooperativista", mas ao invés de me iluminar com a força de seu conhecimento, conclui a frase com um raciocínio simplista e corporativista: "pensamento raso e tacanho que mistura alho com bugalho". Mas não esclarece qual foi a confusão que cometi. Será que ele sabe?

3. Qual é o meu reducionismo, anônimo? Eu defender o repouso do trabalhador? Nem fui eu quem inventou isso; foi uma tal de Constituição! Gostaria que o meu pecado fosse posto em termos, ao menos para eu saber onde errei. Até lá, o que identifico é isto: para os empresários brasileiros, qualquer coisa que reduza seus lucros minimamente é burrice, é atraso, é simplismo... Características que lhes vestem bem.

4. O cinismo do comentário se revela, principalmente, na alegação "quem quer trabalhar não mede esforços". Ou seja, se tá satisfeito, cala a boca e trabalha. Se não, cai fora, que tem um monte de gente de olho na vaga. É esse oportunismo impiedoso, construído sobre a necessidade econômica do trabalhador, que rende tantos dividendos aos maus empresários. E o cara ainda me fala de escala de trabalho! De novo, não tem vergonha de passar recibo. De fato, existem tais escalas. Mas se o meu nome aparece nela todos os dias, de que adiantou?

5. No mais, gostaria que o bem intencionado crítico respondesse duas perguntas: a) É verdade ou não que os empregados do setor trabalham quase sem folga? b) Se a questão é gerar empregos, porque os cordeirinhos patronais não contratam mais gente, ao invés de impor sobrejornadas sempre aos mesmos funcionários?
Emprego não se gera com pessoas trabalhando muitas horas por dia, nem muitos dias por semana, e sim com mais contratações para uma jornada humana. Alguém pode desmentir isso?

6. Ratifico integralmente o teor da postagem e acrescento o que respondi ao comentarista Tadeu, que mencionou a sua experiência pessoal no serviço aeroviário:

Mas veja a diferença, meu caríssimo Tadeu: a atividade aeroviária não pode parar, assim como o transporte público urbano, os serviços médicos, o fornecimento de energia elétrica e de água, além de diversos outros, hoje indispensáveis.
Já no caso do comércio, a situação é completamente diferente. O mundo não acabará se eu precisar esperar o dia seguinte para comprar um sabonete. E insisto: se não me lembrei de comprar antes, azar o meu.
Meu amigo, o funcionamento do comércio já é extenso demais. As lojas abrem muito cedo e fecham muito tarde, quando não são 24 horas. Até as mais luxentas dondocas sempre têm um horário possível, entre a academia e o cabeleireiro. Acima de tudo, o comércio até pode funcionar de domingo a domingo, desde que contratando mais trabalhadores. A questão não é proibir o comércio aos domingos, e sim não obrigar o mesmo empregado a trabalhar quase que sem descanso, semana após semana.
Espero ter me feito entender. Abraço.

8 comentários:

Anônimo disse...

Cara sua reprimenda foi mordaz e acertou o alvo na ilharga.

Yúdice Andrade disse...

Vamos esperar a tréplica, que deve vir de com força...

Ana Miranda disse...

Yúdice, quando você vir a Juiz de Fora vou te colocar para fazer uma palestra para os integrantes do Comitê Central Popular e para os moradores das nossas comunidades.
E tenho dito.

Anônimo disse...

Prezado Yúdice,

me permita falar de método. Por indução (eu tenho encontrado muitos deste tipo, infelizmente) o autor do comentário deve trabalhar pouco, ser funcionário público de alguma altarquia à qual só vai quando necessário e tem um dinheirinho pra comprar algumas coisas. Assim, fica indignado quando o comércio não funciona, pois a esta se restringe a sua atividade socio/cultural elementar. Uma outra possibilidade é a de ele ser dono de supermercado...
É fácil defender o trabalho quando não se sofre com ele. É fácil defender o "desenvolvimento", prioritáriamente quando este é entendido como possibilidade de oferta de mais bens de consumo - por exemplo como nos filmes americanos.
Na verdade eu creio ser esse senhor um elo perdido, flutuando entre o colonialismo escravocrata dos colonizadores e o positivismo simplista do trator, como os militares e agora como os governos federal e estadual que atropelam a constituição, os direitos e a cidadania em favor da absoluta certeza política. Todos esses, inclusive o visitante do seu blog são assustadores.

Tudo de bom e mantenha o bom humor.

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, vale a pena debater com anônimo (não tem interrogação neste notebook do Paraguai). O sujeito pode não valer uma sinapse tua.

Yúdice Andrade disse...

Mas para falar sobre o quê, Ana? Não sou um ativista. Sou apenas um sujeito marrento por trás de um computador...
Mas pretendo visitar Juiz de Fora. Já te perguntei qual é a boa da cidade, não?

Das 23h49, pode deixar que, depois de ter recuperado o meu pen drive, o bom humor veio junto. Agradeço pela sua manifestação, muito correta e empática (estou com uma obsessão por esse negócio de empatia ultimamente).

Fred, às vezes gosto de responder. Quando o sujeito não parte para a baixaria. E quando o comentário traz em si mesmo os argumentos contra o seu autor, adoro dar destaque. Porque diminui bastante o meu trabalho de ir à réplica.

Anônimo disse...

Yúdice ,
Comentei a tua resposta no post e confirmo : os dois ultimos parágrafos refletem exatamente meu pensamento sobre a questão , com o que passei a concordar contigo.
Super abraço
acho que vc não terá tréplica.
Tadeu

Ana Miranda disse...

Qual é a boa de Juiz de Fora???
Bar.
Aqui em Minas o povo diz o seguinte: "Já que não temos o mar, vamos ao bar". Eh...eh...eh...
É uma cidade bonitinha. Você vai gostar e eu faço questão de ser sua cicerone, com alguém comigo dentro do carro, é claro, pois sou muito retardada, não sei ir 2 vezes ao mesmo lugar...