Minha mãe passou a noite bem e neste momento recebe a visita de amigos queridos. O maior incômodo dela é o local por onde foi introduzido o cateter, na virilha. Fora isso, tudo bem.
Gostaria de registrar dois aspectos sobre o dia de ontem. O primeiro é positivo: minha mãe foi toda elogios para os médicos que a atenderam, assim como para as funcionárias da clínica. Considerou todos gentis e bastante atenciosos. O segundo, infelizmente, é uma crítica, que eu espero seja tomada como construtiva, porque de fato esta é a minha intenção.
A clínica onde foi realizado o cateterismo (não me interessa declinar nomes) é muito pequena e isso traz uma série de inconvenientes. Para começar, há apenas seis cadeiras na sala de espera, de modo que a atendente faz uma triagem já na porta. Fiquei com a impressão de que eles atendem seis pacientes por turno (ou, por coincidência, havia apenas seis nomes na agenda da manhã).Quaisquer outras pessoas, inclusive acompanhantes, ficam do lado de fora, onde não há senão o chão para você se sentar.
A clínica pede que o paciente leve um acompanhante, cujo nome por sinal é registrado na chegada. Entretanto, pela falta de espaço físico, o acompanhante não pode ficar! Ou seja, é um acompanhante que não acompanha! Terminado o procedimento, o paciente passa as horas de repouso sozinho, o que não é nada agradável para nós, familiares.
Mais grave: a clínica se comprometeu a fornecer um lanche. Só que este lanche foi um copinho plástico, daqueles de cafezinho, com suco de laranja e três bolachas cream cracker. Como não recebemos instruções, não tínhamos providenciado nada. Saímos na hora para comprar umas frutas, iogurte, coisas simples, porque era proibido entrar no recinto com refeições. O resultado dessa situação foi que, à tarde, minha mãe passou muito mal. Hipoglicemia. Afinal, pacientes de cateterismo ficam sem se alimentar desde a véspera. Detalhe: minha mãe é diabética.
Sozinha, fraca e com a vista turva, minha mãe pediu ajuda. Foi prontamente atendida, inclusive por sua cardiologista, mas não era preciso chegar a esse ponto, certo? Essa parte me irritou bastante, quando soube. A hipoglicemia aumentou o tempo de observação e minha mãe foi liberada mais de uma hora depois de previsto. Relatou que um senhor brigara com as atendentes, pois queria sopa. Tinha vindo do interior, pelo SUS, e estava com fome. Não tinha como se virar sozinho.
Ontem foi um dia complicado na clínica. Um homem infartou na sala de espera e saiu de lá para a UTI. Uma mulher, que ficou perto de minha mãe, sentia muitas dores. Precisava de uma angioplastia, que o plano de saúde — anote aí: Bradesco Saúde — não queria liberar. O médico disse que precisou pegar ele mesmo o telefone e "desarrumar" com o plano. Finalmente conseguiu a autorização, mas até as 17 horas a paciente continuava sofrendo.
Com um cenário desses, não é à toa que o sujeito dá graças a Deus quando recebe alta... Se é para ficar desconfortável, que pelo menos seja em casa.
Em suma, ainda precisamos avançar muito em humanização do atendimento. A velha tecla, que nunca se resolve. Neste caso, pelo menos, os responsáveis pela clínica não pareciam por seus interesses econômicos acima da segurança dos pacientes, como já vi pessoalmente em vários lugares. Mas precisam repensar rotinas, comunicação com o público e a própria infraestrutura. Felizmente, ganharam boas notas no quesito mais importante.
3 comentários:
O importante é que a "boa vontade" dos funcionários não tape os olhos dos pacientes e acompanhantes às falhas...
Yúdice,
Na longa enfermidade à qual meu sogro sucumbiu recentemente, o que mais chamou nossa atenção no tratamento que ele recebeu em SP foi justamente a humanidade dos envolvidos. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, todo mundo foi muito atencioso, prestativo, rápido e seguro nos procedimentos.
Lá, também, o Bradesco Saúde funcionou muito bem. Fico preocupado em saber que aqui, o plano tem criado esses problemas - ou, ao menos, criou caso para esta situação específica.
No entanto, posso te garantir que se ele fosse cliente Unimed não teria resistido metade do que resistiu.
Abraço e, mais uma vez, saúde pra D. Jacimar.
Os meus não se fecham com isso, Ana. Procuro reconhecer o que é bom, sem esquecer o que é ruim.
É lamentável e mesmo terrível admitir, Francisco, o quão estamos atrasados, aqui em Belém, em termos de atendimento. A começar pelos restaurantes e lojas, até chegarmos a situação mais complexas, como tratamento de saúde. É desalentadora esta sensação de que os médicos, casas de saúde, funcionários, etc., não parecem nada preocupados em mudar isso.
Tenho conhecimento de que o Bradesco Saúde é muito bom lá para o Sudeste mas, por aqui, causou significativos problemas para gente que conheço, envolvendo uma paciente com câncer.
Agradeço mais uma vez a preocupação conosco.
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