Este final de semana assisti ao filme Milk — A voz da igualdade (Milk, 2008), que não pude ver quando passou nos cinemas. Já tinha excelentes avaliações a respeito e agora pude confirmar que o nada comercial cineasta americano Gus Van Sant acertou a mão e produziu um grande título para o cinema.
O filme retrata a vida de Harvey Milk, um securitário homossexual enrustido, que temia perder o emprego (e sofrer outros tipos de retaliação caso sua homossexualidade viesse a público). Ao iniciar um novo relacionamento, cria coragem para sair do armário — a conhecida expressão que o filme usa várias vezes — e se muda para San Francisco, onde se torna comerciante e por fim ativista da causa gay.
A certa altura, Milk decide se candidatar ao cargo de supervisor municipal, que basicamente corresponde ao de vereador, entre nós. Após três eleições perdidas (uma delas para a Assembleia Legislativa deles), Milk vence com votação consagradora e se torna o primeiro indivíduo assumidamente gay a exercer uma função pública nos Estados Unidos. Ele defende uma causa, um movimento, e trabalha de acordo com as suas convicções. Assume um cargo, mas não deixa de ser um ativista.
Longe de ser apenas uma cinebiografia, Milk retrata um período da história americana importante para a luta pela afirmação dos direitos humanos, na perspectiva do que eles chamam de civil rights. É nesse ponto que fico triste, porque percebo como nós, brasileiros, estamos terrivelmente atrasados em matéria de cidadania.
Os americanos têm consciência de seus direitos e se mobilizam para defendê-los, o que explica as passeatas e a ampla participação nas eleições distritais. As pessoas percebiam que as suas próprias vidas seriam afetadas pelas questões em jogo. Enquanto isso, aqui no Brasil, só se consegue uma mobilização semelhante em torno do Big Brother e do ópio supremo do povo, o futebol. Mas para alguma coisa útil, nem pensar. Sequer as eleições gerais. Nesse momento, o que mais escuto são reclamações dos eleitores. E não por causa da corrupção ou da extorsão tributária que sofremos, e sim porque o sujeito perde o domingo por causa dessa porra de eleição.
E depois reclamam.
[Daqui por diante, há um spoiler. Não leia se não quiser saber o final do filme.]
Como se trata de um fato histórico, posso registrar que o personagem-título paga com a vida por sua atuação. Não morre exatamente por conta de sua militância, apesar das muitas ameaças sofridas, mas devido a disputas políticas com o também supervisor Dan White, um reacionário frustrado com seu insucesso no cargo, que mata por inveja e vingança, sob circunstâncias que poderiam acontecer independentemente do ativismo da vítima.
Além de Milk, o prefeito George Moscone, que lhe dava suporte, também foi assassinado a sangue frio. Com a divulgação do duplo homicídio, cerca de 150 mil pessoas foram às ruas de San Francisco, com velas acesas, numa impressionante demonstração de comoção.
Foi bom ver a luta entre privacidade e preconceito, este último, como sempre, respaldado num sem número de falsos argumentos, a maioria fundamentados na defesa da "família" e na "palavra de Deus".
PS — Enquanto isso, um religioso fazendo apologia ao preconceito foi preso na Inglaterra.
6 comentários:
Rapaz, tomei um baita susto agora, pensei que estivesse no blog errado. Mudança radical no layout, hein! Ficou bem moderno, bem elegante e sofisticado. Só precisava mudar na forma, porque no conteúdo este espaço é sempre irretocável.
Parabéns!
Adelino Neto
Obrigado, Adelino. Espero que a navegação fique boa e que a qualidade que mencionas exista mesmo - e continue.
Também assisti ao filme. Chorei muito.
Mas fiquei com a sensação de que nem tudo está perdido, infelizmente, às vezes, só depois de uma fatalidade é que a maioria das pessoas acordam para o fato, mas antes tarde do que nunca, se bem que, depois dele, pouquíssimos ousaram a se assumirem.
Cara, mudaste o visual radicalmente ,na minha avaliação ficou meio dark, meio grunge, para o blog do dart wader, porém , a linha editorial continua maravilhosa , parabéns.
abraço.
ADOLFO ALVES.
Yúdice,
este filme é muito bom mesmo, tb assisti em DVD.
Outro filme que assiti e me emocionou foi "Escritores da Liberdade" nao sei se assististe...a temática gira entorno de jovens "problemáticos" da periferia de Los Angeles e uma jovem professora, com muito pique e gás para fazer a diferença.
bjs,
Anna Lins
Ana, até que cheguemos ao ponto de avançar sem que ninguém precise ser imolado, ainda será preciso muita evolução!
Obrigado, Adolfo. O visual radical não sobreviverá, por causa de leitores que relataram dificuldade para suportar o fundo preto. Mas a "linha editorial" será mantida. Tomara que agrade.
Já me recomendaram "Escritores da liberdade", Anna. Está na minha lista.
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