quinta-feira, 6 de maio de 2010

Momento classe média

Fiquei alguns minutos na fila para acesso ao balcão onde as notas de compra são trocadas por cupons, para concorrer a um carro. A cada 150 reais em compras, um cupom. Mas se o seu pagamento tiver sido feito com Visa ou Visa Eletron, você ganha o dobro de cupons. Antes de falar dos meus cupons, comecemos pelo começo.
A atendente, com uma gentileza artificial, me recebeu com um "boa tarde".
Boa tarde respondi. Vai ficar melhor ainda se você me der o cupom que vai ser sorteado!
Eu e minhas piadinhas... Ela me cravou um olhar de dúvida.
Como, senhor?
Vai ficar melhor ainda se você me der o cumpom que vai ser sorteado!
Ela continuou me olhando, um levíssimo esboço de sorriso nos lábios, que não se consumava porque, talvez, não soubesse que meu insistente comentário era tão somente uma piadinha de quem quer estabelecer uma relação simpática. Afinal, ela deve passar o dia lidando com gente que sequer a cumprimenta. Provavelmente desistindo de entender o sentido profundo de minhas palavras, ela começou sua tarefa de me cadastrar.
Minhas notas somavam 312,90 reais. Então vamos a um rápido esquema que, se pudesse, teria exibido à moça:

Se 150 reais = 1 cupom,
então 312,90 reais = 2 cupons.
Mais: dobro (Visa) = 4 cupons.
Sendo que "dobro" = a 2 x 2 ou 2 + 2.

A moça me entregou três cupons. Quando alertei que faltava um, ficou surpresa. Pediu que explicasse, de novo, o meu raciocínio. Expliquei de novo. Ela permaneceu com aquele semblante de incompreensão que, confesso, já me dava nos nervos.
Deixe eu lhe explicar... começou.
Achei que ela ia me falar das letras miúdas que me negariam o quarto cupom e já me irritei, mas ela aparentava perplexidade. Pediu minhas notas de novo. Começou a fazer contas numa calculadora. Terminou e repetiu. Olhou para o vazio por um tempo e perguntou outra vez o número do meu CPF. Finalmente, imprimiu o quarto cupom e me entregou. Não se desculpou.

Tudo bem que as empresas devam garantir oportunidades de emprego para pessoas com menor nível de instrução. Mas é inadmissível não fornecer treinamento. A atendente se enrolou com uma operação matemática rudimentar e quase não soube como se safar. Como bem lembrou minha esposa, isso acontece porque o empregador, em geral, diz ao empregado que botão deve apertar, mas não explica por que o botão deve ser apertado. Sem saber o que está fazendo, o sujeito simplesmente não sabe se sair de qualquer situação fora da rotina mais elementar.
Triste.

4 comentários:

Ana Miranda disse...

Eh...eh...eh...
É nessas horas que devemos testar nossa paciência.
Uma amiga disse que em uma loja deu 150,80 para abater uma compra de 128,80 e a moça do caixa começou a chorar porque não entendia quando minha amiga explicava a ela que os 0,80centavos era para faciliatr o troco. A moça chamou o gerente e mesmo assim não entendeu.
Prefiro acreditar que ela estava em um péssimo dia e não estava conseguindo pensar direito somente naquele dia...

Yúdice Andrade disse...

Decerto que ela estava num dia ruim, Ana. Vamos torcer para que a falta de pensamento tenha sido apenas naquele dia... Pelo bem dela mesma!

Frederico Guerreiro disse...

Coitada da moça. Estava em seu momento "leseira". Já trabalhei muitos anos ali dentro e sei o que acontece quando o cansaço bate na moleira.
Quero dizer que ações repetitivas levam em algum tempo à perda da coordenação, seja motora, seja de raciocínio. O exemplo do primeiro é o ritmo nos pés, ao acompanharmos as batidas de uma música. Em algum tempo, se não tivermos o treinamento como fazem os músicos bateristas profissionais, perderemos o ritmo. No segundo caso, é exemplo a leitura ininterrupta por longo tempo, quando a cognição começa a fatigar. Daí, temos de voltar uma página ou parágrafo para tentar compreender o que acabamos de ler, quando o melhor seria parar de ler. Enfim, o cérebro também cansa.
Já dei sim troco errado.
Abraço

Yúdice Andrade disse...

Essa explicação me convence, Fred. Mas ela parte do pressuposto de que a pessoa está cansada e desconcentrada. A minha premissa, aqui, foi pior: a de que a pessoa não possui realmente o preparo necessário para a tarefa. Imagina alguém assim cansada e desconcentrada!