John le Carré, pseudônimo de David John Moore Cornwell (1931-), é um famoso escritor inglês, notabilizado por suas obras centradas no tema da espionagem. Certamente, para escrevê-las, aproveitou-se de sua própria experiência, já que passou pelo serviço diplomático inglês. O jardineiro fiel, p. ex., revela essas pessoalidades, na medida em que o protagonista, Justin Quayle, era um diplomata de segundo escalão e um típico "etoniano", ou seja, egresso do Eton College, onde o escritor chegou a lecionar.
O jardineiro fiel, romance escrito em 2000, tornou-se mais conhecido por estas paragens em 2005, quando o cineasta brasileiro Fernando Meirelles realizou, com grande liberdade criativa (segundo ele mesmo), a versão cinematográfica. Belíssima, um dos melhores filmes do ano. Um provável injustiçado do Oscar, sem qualquer bairrismo.
A premissa é ótima: um diplomata de segunda categoria, com fama de abestado e conhecido por sua dedicação à jardinagem, casa-se com uma linda mulher, cerca de 20 anos mais nova. Tessa é pura adrenalina e se envolve com assistência social no Quênia, para onde Justin é mandado. Mas não a assistência de coluna social que as mulheres de diplomatas costumam fazer. Ela é obcecada por justiça e, em sua sanha, compra briga com uma multinacional farmacêutica, que usa os miseráveis africanos como cobaias de uma nova droga contra a tuberculose. Acaba estuprada e assassinada (esse é o começo da história), além de difamada.
Justin, então, sai em busca de verdade e descobre quem era a mulher que ele teve pouco tempo para amar.
Sem pieguice, a história é excelente. Porém, se quiser um conselho, veja o filme. A versão cinematográfica é bem melhor do que o romance, não apenas pelas belas atuações de Ralph Fiennes e Rachel Weisz, mas porque o roteiro de Jeffrey Caine é muito mais centrado na investigação do amargurado Quayle. Enquanto o romance perde um tempo enorme com tolices (como as aspirações pessoais de Sandy Woodrow, um personagem secundário que domina as primeiras 100 páginas, ou os detalhes de uma festa diplomática), o filme se concentra nos elementos que fazem sucesso no gênero: a coleta de provas, peças de um grande quebra-cabeça, aumentando a cada momento o perigo que correm os envolvidos.
Sem pieguice, a história é excelente. Porém, se quiser um conselho, veja o filme. A versão cinematográfica é bem melhor do que o romance, não apenas pelas belas atuações de Ralph Fiennes e Rachel Weisz, mas porque o roteiro de Jeffrey Caine é muito mais centrado na investigação do amargurado Quayle. Enquanto o romance perde um tempo enorme com tolices (como as aspirações pessoais de Sandy Woodrow, um personagem secundário que domina as primeiras 100 páginas, ou os detalhes de uma festa diplomática), o filme se concentra nos elementos que fazem sucesso no gênero: a coleta de provas, peças de um grande quebra-cabeça, aumentando a cada momento o perigo que correm os envolvidos.
No filme, existe um trabalho de investigação. No romance, Quayle apenas precisa entrevistar as pessoas certas. Fica parecendo que ele, como uma espécie de marido traído, era o único que desconhecia a verdade.
Não deixe de ler o livro, claro. Nada substitui o prazer de uma boa leitura. Mas realmente acho que John le Carré deve agradecimentos a Fernando Meirelles e sua equipe.
2 comentários:
Achei hilária a descrição: um diplomata britânico "com fama de abestado" é ótimo! Fico imaginando como ficaria esta adjetivação em inglês... Hahahaha...
Ficou parecendo aquelas respostas de alunos que ganham a internet, como exemplo do que não fazer, certo, Francisco? Não quis ser banal, mas de fato o pobre do Quayle é tratado com piedade o tempo todo. Abestado é pouco. Ele é tratado como corno manso.
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