quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O bom-mocismo

Como detesto futebol e não me interesso por nada que lhe diga respeito, ignorei a ampla exploração midiática em torno da eleição de mais um brasileiro como melhor jogador do mundo. Mas eis que me cai nas mãos uma revista falando que a eleição de Kaká inaugura uma era de "bom-mocismo" no futebol.
Não li a matéria. Ignoro o seu conteúdo, mas me pus a refletir sobre o assunto e aqui vai mais um de meus arbítrios.
De fato, agora estou feliz com a eleição de Kaká como melhor jogador de futebol do mundo. E o meu motivo é o que ele pode representar a essa massa descomunal de pessoas que fazem desse esporte praticamente a sua razão de existir. Fazendo um restrospecto, veremos que os tidos como grandes jogadores brasileiros em geral tendem para o lado selvagem da vida.
Pelé, demagogo até a raiz dos cabelos, vive falando de proteger as criancinhas mas repudiou a filha que teve fora do casamento até o último instante, até na hora da morte da moça. Não mostrou humanidade nem apreço à família.
Romário é o arrogante, que se acha o máximo e por isso se considera acima de responsabilidades e compromissos. A meu ver, desestimula o espírito de grupo e o senso de dever profissional.
Ronaldo é o mulherengo incorrigível, ícone dos machos que vêem nas mulheres apenas o entorno daquela coisa comestível. E é um gastador compulsivo, seja com Ferraris, seja com casamentos de experiência, que só duram três meses. Não estimula o respeito ao dinheiro e aos benefícios que ele pode trazer.
Edmundo é a expressão de uma trágica realidade brasileira: a mistura de bebida, direção, morte e impunidade. Todo dia tem alguma família nova chorando por causa disso.
Podemos ainda nos lembrar dos jogadores que fogem das concentrações para festejar nas boates, bebendo e futricando, apesar de o técnico ter dado ordens expressas em sentido contrário. E mesmo que se trate de uma Copa do Mundo.
E o que oferece Kaká? Quando ele, evangélico, anunciou que se casaria virgem, pois essa era a sua fé, foi ridicularizado. Chamaram-no de louco, de idiota e de bicha. Mas ele se casou e, até onde sei, vive bem com sua esposa, valorizando a família constituída de boa fé, e não no turbilhão dos holofotes de celebridades.
O mundo é cheio de pessoas viciosas e elas parecem se concentrar no Brasil. Aqui, se você não bebe, não fuma nem vive na night, é tachado de tudo que não presta. Sei disso por experiência própria, já que não gosto de nenhuma dessas coisas. Sou testemunha do quanto penamos, do quanto nos olham com piedade ou puro menosprezo. Dentre as muitas coisas feias de que nos chamam, uma das mais leves é que somos chatos. E aí está Kaká: jovem, bonito, famoso, bem sucedido e feliz. Tem uma vida linda e, para isso, não precisou ser baladeiro, nem viciado, nem matador. Sim, um cara desses é um exemplo.
Espero que Kaká ganhe o título de novo, por mais alguns anos. Assim, os jovens terão nele o seu referencial. A prova de que uma vida maravilhosa não precisa ser irresponsável. Gostaria que ele soubesse disso.
Sucesso, Kaká.

9 comentários:

Citadino Kane disse...

Yúdice,
Gostei também da escolha do Kaká, muito legal!
Engraçado, depois de ter lido o teu post, fiquei muito pensativo, e vi o quanto sou brasileiro, a minha reflexão, o esforço de memória, levou-me a seguinte conclusão: "Nunca fiz amigo bebendo leite..."
Mas não estou querendo exaltar o álcool ou outros vícios, apenas uma constatação...
Abraços futuro papi.
Pedro

Anônimo disse...

Para quem não gosta de futebol, estás bem a par de tudo que rola na vida dos craques e "ídolos" brasileiros.
Concordo em número, gênero e grau, os mencinados em teu post, são uns péssimos exemplos para nossos jovens, já o Kaká, até onde se sabe, tem uma conduta digna de um bom moço. Que continue assim.
Em tempo: sou até hoje anti-Santos, torço por qualquer um que estaja jogando contra ele, só por causa do Pelé.

Yúdice Andrade disse...

Amigo Pedro, eu nunca fiz amigos bebendo nada. Mas não te preocupes com isso. Minha crítica foi só às pessoas viciosas e as que maldizem quem não bebe. Por mim, quem quiser beber, que beba. Só não me encha o saco nem me atropele depois. A mesma liberalidade não se estende aos fumantes. Esses podem ser execrados, pura e simplesmente.

Ana Paula, querida, eu assisto e leio jornais. Com a superexposição da mídia em torno do assunto (e em geral, dos assuntos relacionados a futebol), não dá para eu estar tão desinformado. Agradeço o apoio ao meu arbítrio.

Anônimo disse...

Adorei o post, professor. Nunca tinha constatado isso.
O kaká realmente é exemplo e além disso é lindo!hahauahaa

Yúdice Andrade disse...

Ele é um rapaz casado, Laila. E a julgar pelo que aparenta, fiel. Abraços.

Vladimir Koenig disse...

Yúdice,
interessante seu ponto de vista. Mas discordo do jornal quando diz que foi inaugurada uma nova era, a do "bom-mocismo".
A eleição do Kaká em nada muda a imagem dos craques e tampouco influenciará uma mudança de paradigmas para os amantes do esporte bretão (e chato!).
Algo mudou depois do Sócrates e seu irmão Raí? Ou depois do Zico?
Tivemos muitos jogadores centrados, exemplos de "bom-mocismo", mas nada mudou.
O Kaká não inaugura nada. Mas pelo menos relembra que é possível ser jogador de futebol com inteligência, cultura e civilidade.
Abraços,
Vlad.
P.S.: Se não me engano, quando o Raí saiu do Brasil para jogar na Europa, ele tinha convite para dois países diferentes e escolheu jogar na França, pois lá, apesar de ganhar menos, poderia fornecer aos seus filhos educação que mais lhe agradava. Isso sim é exemplo! :^)

Yúdice Andrade disse...

Meu caro Vladimir, meus conhecimentos futebolísticos não vão além da notícia da semana, por isso não podia comentar as questões que trouxeste. Fico feliz com elas, portanto, porque mostram que as boas ações são mais antigas do que Kaká.
Aliás, pensando bem, são antigas, sim. O problema é que quanto mais industrializado e midiatizado ficou o futebol, mais dinheiro correu e mais deslumbrados ficaram os espíritos frágeis. Por isso, talvez seja mais apropriado dizer que Kaká marca um retorno à boa conduta de alguns jogadores antigos.
Grato pela nova dimensão ao texto.

Anônimo disse...

Professor amei o comentário, sempre torci pelo kaká.
Que bom o sr. comentar sobre esse perfil do jogador que eh mulherengo e farrista, colocando o Kaká como exemplo a ser seguido. Ele teve personalidade ao assumir sua virgindade e religiosidade, eu bem sei como eh ser taxada levianamente por não beber e não fumar, infelizmente somos sempre perseguidos.Odeio essa cultura de quem eh "beberrão" eh feliz, descolado e tals, basta lembrar daquele comercial cervejeiro do "Zé ruela", até parece que quem não aprecia o álcool eh idiota...Idiota mesmo é esse publicitário.

Yúdice Andrade disse...

Tietagem explícita e indesmentível, Nayama. Mas tudo bem, o rapaz merece, considerando o cerne da postagem. Entendo como te sentes: nós, os sem-vícios, somos considerados aberrações e ouvimos todo tipo de esculacho. Mas somos nós que lembramos o que aconteceu a noite passada.