domingo, 11 de maio de 2008

Horror urbano

Na última quinta-feira, três jovens se uniram para assassinar friamente, com pauladas na cabeça, um mendigo que dormia na calçada, sem saber do risco que corria. Na madrugada de hoje, uma jovem de apenas 16 anos e grávida de 1 mês, foi queimada viva.
Não eram criminosos, que recebessem essas sentenças de morte sumária, sem processo, sob os aplausos de nossa sociedade cada vez mais sequiosa de sangue. Eram apenas desvalidos sociais. Gente que precisava de ajuda. Mas que acabou morta durante o sono, porque alguém entendeu que deveriam morrer. Simples assim.
A imprensa divulgou os dois casos. Mas será que haverá uma investigação policial à altura do grotesco que representam? Haverá perícias? Reunir-se-á um exército de peritos e de testemunhas para provar de modo cabal quem os matou? Alguma prisão preventiva será decretada em atenção à gravidade desses delitos? Aliás, a sociedade considerará tais tragédias como realmente graves ou só mais dois exemplos do que acontece nas ruas noturnas?
Situações assim colocam à prova cada cidadão brasileiro. Especialmente aqueles que bradam por justiça, quando um crime de repercussão ocorre. Se não nos indignarmos com essas duas mortes gratuitas do mesmo modo que nos indignamos quando crianças são arrastadas por seus carros ou atiradas das janelas de apartamentos da classe média, estaremos dizendo muito sobre quem somos. E o que diremos não será nada bom.
Aqui mesmo em nossa cidade, uma defensora pública foi assassinada dentro de sua casa. As investigações avançam. Mas com uma diferença de poucos dias, um ator de teatro, pobre e homossexual, foi assassinado, também dentro de sua própria casa, com 17 facadas. Foi degolado. Olhando os fatos, o segundo delito foi mais violento. Entretanto, não sabemos sequer se há uma investigação policial. Tombada ela foi, mas terá dado algum passo? A notícia foi dada pela imprensa, sem maior interesse. Esta semana, artistas fizeram uma espécie de ato público em memória de Benedito Rodrigues Neto. Somente os artistas, meio no qual ele transitava. Você tomou conhecimento desse ato público? Ou dessa morte?
Neto, como o chamavam, também não era um criminoso. Era um jovem lutando por seu lugar ao sol, na carreira artística que escolheu. Professor universitário, ator, diretor de teatro, estudioso das artes cênicas, como o define meu irmão, em postagem em seu blog. Morreu enquanto elaborava o projeto de um espetáculo, para solicitação de patrocínio.
Se penso que alguém pode entrar na casa de um brasileiro, degolá-lo e dar-lhe 17 facadas sem jamais ser incomodado, definitivamente, isso me dá muito medo. Na boa, acho que você também devia se importar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ah! isso é fichinha. Pior é a violência explícita que a polícia de SP impõe ao casal Alexandre-AnaCarolina. Só pra se exibir. Alguém se lembra que a polícia sempre é corrupta, arbitrária, violenta, incompetente e insensível?
E a imprensa medíocre vende tudo pra se alimentar dos furos, às custas da população alienada.

Anônimo disse...

Obrigado, meu irmão.
Penso que as pessoas que acessam o teu blog, conscientes de sua responsabilidade social, hão de ao menos se indignar com esses fatos.
Que maiores providências, nós, cidadãos comuns, podemos tomar? Claro, denunciar qualquer forma de corrupção. EVITAR qualqur forma de corrupção, da cola na prova ao jeitinho no trânsito pelo sinal conscientemente não respeitado.
Precisamos de atitude. Real. E digo isso inclusive pelo comentário anterior. A polícia não é "sempre corrupta, arbitrária e violenta". Há desvios de caráter e conduta em todos os setores da sociedade, mesmo nos religiosos, que deveriam nos ajudar a suportar as dores das nossas almas.
Quanto à imprensa medíocre, desliguemos nossos aparelhos sempre que uma emissora se aproveitar de uma data e do sofrimento de uma mãe para ganhar ibope. Desliguemos nossos aparelhos. Os índices de audência, sempre monitores, vão atestar o nosso desagrado e situações como essa serão banidas.
Que Deus nos proteja a todos.

Sergio Lopes disse...

A Violência Urbana é uma realidade difícil de solucionar. Encontra-se atrelada a uma melhor qualidade de ensino, a uma oferta de emprego elevada, a um apego espiritual maior, e principalmente a uma policia bem aparelhada e motivada para a função repressiva e preventiva.
Penso que somente com o apoio da sociedade civil, e investimento maciço poderemos obter resultados consistentes. Os tempos atuais são assustadores , muitas pessoas já deixam de sair a noite, deixam de frequentar praças e ruas, aquartelando-se em suas casas e seus condôminios fechados, deixando sua vida afetar por essa realidade social que vivemos.
Fico triste por deixar a meus filhos uma sociedade devastadoramente aterrorizada e submetida a uma violência atroz.
Precisamos reagir, antes a violência, o roubo, o sequestro, o estupro era uma história que contavam para nós, hoje é uma realidade que se ainda não foi vivenciada pessoalmente, é de conhecimento por algum amigo vitimado.Alguns acham que somente a saída do País é a solução, entendo tal posicionamento , porém não abro mão de viver nessa terra onde nasci , cresci e dela tanto recebi. Prefiro lutar e tentar a mudança. As entidades de classe como a nossa OAB, deveriam patrocinar essa revolução.
Desculpa o desabafo, amigo, ainda estou um pouco chocado, no final de semana fui mais uma vitima desta violência, fui roubado na saída de um restaurante conhecido de nossa cidade, e senti como as pessoas já se conformaram com o estado de coisas, eu não consigo me conformar, aceitar que não posso nem mais jantar com amigos, ir a uma danceteria, passear por uma praça, ler um livro ao ar livre, como muitos já me disseram não poder fazer. Não vou entregar a cidade a eles(bandidos, menores revoltados, criaturas do mal) , vou lutar , nem que seja uma luta solitária e quixotesca, prefiro continuar assim, eles vão ter que me aturar. O difícil disso tudo, e após todo o trauma do assalto, você se dirigir a delegacia e encontrar o delegado ausente, o escrivão mal humorado, o investigador procurando uma forma de conseguir alguma vantagem e após 08 horas de espera para lavravatura do famoso BO, ouvir a autoridade policial dizwer que a policia não tem estrutura e que o crime se alimenta disso. Isso nós sabemos. Gostaria de ouvir da dita autoridade ,era que providencia seriam tomadas, que a area do delito seria monitorada, que diligência investigativas seriam realizadas. Porém , na saída da delegacia , o investigador chegou até mim e disse que para as diligências de investigação era necessário cooperar com a gasolina da viatura, me pedindo R$ 100,00.É essa amigo, a policia que nos protege e nos ampara. Assim fica difícil alcançar êxito na diminuição da violência urbana.

Obs: passei a manhã de hoje na Corregedoria de Policia, perdi trabalho, posso sofrer ameaças, porém, esses funcionários públicos responderão administrativa e penalmente pelo pessímo trabalho que desempenharam.
Desculpe o desabafo.Parabéns pelos assuntos ventilados no blog.
abraço.

Anônimo disse...

Obviamente que quando a violência atinge as classes sociais "modelos" do país, os efeitos são mais devastadores. Falando de forma simples, pobre morrer é comum, é algo natural. Entretanto quando a vítima e/ou acusado é de classe mais abastadas, o afrontamento vai além da vida suprimida da vítima. É um crime cotra a "familía modelo" que se criou, contra os "moralmentes corretos", contra a idéia de "cidadão de bem". Como ousaram denegrir a imagem e a honra das nossas classes? (alta e média, não sei por que não gosto destas denominações).

Aí que vemos que também somos ptencialmente criminosos, sacode nosso ego e nos faz sentir que podermos ser sujeitos passivos e o que é pior, ativos de um crime. Nós faz então entrar numa contradição, num imbróglio de pensamentos, afinal a "nossa classe" não é assim e não posso, nunca admitir que ela cometa este tipo de agressão.

Enfim, as classes "média" e "rica" não aceitam a possibilidade de serem sujeitos ativos e passivos de um crime e, aqueles que o cometem, merecem ser punidos com o rigor máximo que a Justiça possa aplicar, para tentar explicar que situações como estas são raras e extraordinárias e manter inatingível a "honra" da classes.

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, o que estão fazendo com a dupla Nardoni-Jatobá está errado. Mas daí a dizer que é pior do que os casos narrados na postagem, por favor...
E, não, nem toda a polícia é corrupta e tudo o mais que você escreveu. A instituição, em si, pode estar carcomida, mas conheci pessoas altamente decentes, tanto na civil quanto na militar. Em respeito a elas, faço esta ressalva.

Mano, espero que essa "responsabilidade social" corresponda às tuas expectativas.
Denunciemos, sempre. Mobilizemo-nos. Façamos pesquisas e divulguemos os resultados. Façamos barulho. É o pouco que nos resta, mas pode ajudar.

Amigo Sérgio, lamento profundamente o ocorrido. Há um ano e meio foi a minha vez, com direito a tiroteio. Meus relatos aparecem aqui no blog. Podes procurar no marcador "crime".
Fiquei quase dez horas na delegacia, para concluir todos os procedimentos. Vitimização secundária. Pelo menos ninguém me pediu dinheiro algum, talvez porque dois assaltantes foram presos em flagrante.
Espero que não haja retaliações e que teu esforço chegue a algum bom resultado. Um abraço solidário.

É, Jean. É isso mesmo. Um dos maiores problemas que nossa sociedade vive hoje é, justamente, o maniqueísmo.