A mais rasa explicação clássica acerca do surgimento e da justificação do Estado tem a ver com assegurar o bem estar, suprir as necessidades e proteger os interesses legítimos do povo. Diante disso, não creio que haja uma classificação para o governo de Mianmar, que tem recusado ajuda humanitária para as milhares de vítimas do Ciclone Nargis, há uma semana, fato amplamente comentado pela imprensa mundial.
Agora, anuncia-se que um Hércules C-130, enviado pelos Estados Unidos, será autorizado a pousar naquele país, com água potável e comida, para atender, ainda que minimamente, a algo em torno de dois milhões de pessoas.
A recusa da junta governativa que há 50 anos oprime a antiga Birmânia em receber ajuda, que a princípio pode parecer estarrecedora, tem a ver com a rejeição internacional ao governo e os apelos, no sentido de se redemocratizar a nação. Daí porque os militares não deram a menor para a ONU. A deliberação não é estarrecedora porque sem motivo, mas porque absolutamente cruel.
Diga-se, ainda, que os poderosos de Mianmar decerto não sofreram os reais efeitos do ciclone. Para eles, não faltam água, alimentos, médicos, remédios, energia elétrica, meios de transporte, comunicações, etc. Isso falta para o cidadão comum. E não se trata simplesmente de não faltar. Para eles, tais itens estão disponíveis em abundância. Portanto, negar auxílio a quem morre de inanição, em meio à devastação e a corpos apodrecendo ao ar livre, leva a palavra cinismo a um extremo para o qual descabe qualquer tentativa de definição.
Pergunto, então: para que serve o governo de Mianmar? Para que serve o Estado de Mianmar?
Uma resposta a estas questões pode fazer toda a diferença para o pobre e sem dúvida abandonado povo birmanês.
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