Cumprindo sua função de mimar os empresário, Mauro Bonna noticia hoje, em sua coluna de negócios, que a construtora Gafisa executará simultaneamente as quatro torres de seu empreendimento Parc Paradiso — modelo importado de São Paulo, caracterizado por quartos minúsculos, farta área de lazer no condomínio e nada menos do que quatro apartamentos por andar, o que lhe vale o apelido de "favelão".
Informa o jonalista que a empresa manterá quatro bate-estacas funcionando no local. Não sei se ele espera que batamos palmas para o grande empreendimento. O que sei é da minha piedade em relação aos moradores próximos. Há dois edifícios bem na esquina, cujos moradores viverão meses de inferno. Conheço pessoas que moravam ao lado de obras (uma torre só) e queriam arrancar os cabelos com o bate-bate, o dia inteiro.
Evidentemente, na hora de elaborar o projeto e de lienciá-lo, ninguém pensou nisso. Alguém pagará a conta. Minha solidariedade.
7 comentários:
Eu sei o que é isso, Yúdice. Lembro-me da época em que eu morava em Batista Campos. Sofremos muito com a construção do Ed. Bandeira Coelho, bem coladinho aos nossos quartos. Mas o pior veio depois: poeira, muita poeira de cimento. Fui bater em um hospital, com crise alérgica a pó de cimento (minha mãe me levou - uns 16). Isso sem falar na educação da peãozada, um primor de vocabulário e descompostura, com os quais tínhamos de conviver diariamente; durou uns dois anos.
Quatro torres, quatro apartamentos por andar, será realmente um favelão. Não agora. Mas no futuro, quando deixar de ser uma novidade. Ademais, construtoras adoram Belém, justamente pela falta de uma política urbana que evite o adensamento do já adensado centro da cidade e de fiscalização, o que só piora a situação do caos urbano. A cidade é um entrave no meio da floresta. Pouco nos damos conta de sua região. Pouco há que lembre o citadino de que ele vive envolto por águas e floresta. Vejo Belém virar um paliteiro do medo. Cada vez mais as pessoas pensam em se isolar nos altos de um "pombal"; acham que estão seguras em um 'apertamento'.
Por outro lado, a Gafisa lembra muito uma certa construtora e incorporadora que cresceu barbaridade na década de oitenta, para, na década seguinte, quebrar e deixar milhares de compradores com um monte de papel sem valor nas mãos. Provavelmente isso será muito difícil de acontecer agora, em virtude da Lei n º 10.931 - Lei do Patrimônio de Afetação. Mas já que nesse país tudo é possível...
Construtoras fazem o que querem nessa terra. Bastam-se em distribuir aquela pontinha para colunistas socias de empreendedores, para construir a própria reputação ilibada no mercado. Por trás disso tudo, acumulam-se as ações de indenização por danos morais e danos materiais. Breve darei uma bocanhada nesse naco. Breve escreverei sobre uma certa construtora que diz que ninguém faz mais por você, mas é capaz de lhe vender um imóvel de um empreendimento que sequer foi licenciado ou teve projeto arquivado regularmente no cartório de registro de imóveis.
Lembremo-nos: na hora de comprar um imóvel, todo cuidado é pouco. É preciso saber o que está por trás de todo esse glamour empresarial. Na planta é tudo muito sedutor. E é aí que mora o perigo.
Abraço
Já sabem das "torres gêmeas" de 40 andares da Village? Boatos indicam que a estrutura de uma delas estaria rachando. Leiam mais em:
http://blogdoespacoaberto.blogspot.com/2008/05/village-cutuca-concorrncia-com.html
Caro Yúdice,
Vez por outra vejo na internet um desses comentários depreciativos quanto a condomínios novos. De fato, via de regra, ao menos para simples mortais como eu, são apartamentos pequenos, quartos pequenos, suítes pequenas, etc, etc...
O que adquiri não é diferente. Embora o prédio ofereça todas aquelas comodidades, hoje em dia ditas como essenciais, nosso apartamento será pequeno. Agora, quer saber? Embora caro, isto porque com o mesmo valor compraríamos um apartamento bem maior em Fortaleza, por exemplo, eu acho o nosso apartamento lindo! Sabe a justificativa? Foi o que coube no nosso orçamento e atendeu a nossas expectativas! Sim, nós queremos piscina, academia, quadra de jogos, espaço gourmet, salão de jogos, churrasqueira e outras coisinhas ditas supérfluas, mas que para nós, são essenciais. Talvez seja uma forma de compensar coisas que nunca tivemos a oportunidade de ter. Mas, seja o que for, é isso o que queremos.
E, se Deus quiser, nosso "filho" será entregue até o final do ano.
Sei que somos vítimas de especulação imobiliária, preços absurdos pregados pelo mercado e por essas construtoras, mas, o que fazer? Deixar de comprar?
Ademais, tenho certeza, Frederico, que a construção de seu imóvel foi inconveniente para alguém. Claro que todos os cuidados mínimos devem ser tomados visando à diminuição de transtornos ordinários de uma obra, mas, estranho, a meu ver, seria pensar que, por conta deles, deveria ser impedida a construção de novas residências...
E aos que compraram algum apartamento das tais 4 torres, a exemplo de um colega de trabalho meu, dou os parabéns. Tenho certeza de que muitos, muitos mesmo gostariam de morar em um "favelão" como aqueles.
Abraços.
Rita, querida, não se perturbe. A crítica não se dirige, de modo algum, aos compradores. Isso seria uma insanidade. Afinal, as pessoas compram o que está disponível, seja em termos de oferta, seja em termos de disponibilidade financeira. Eu mesmo poderia estar num prédio desses, não fosse minha firme resolução, com minha esposa, de morar numa casa - o que felizmente acabou se consumando, mas que podia não ter dado certo.
A crítica se destina às práticas adotadas pelas construtoras. A começar pelo modelo, que reduz cada vez mais o espaço, porém custa caríssimo por conta de uma área condominial que a maioria das pessoas não usará.
Meu texto se baseia em muitas conversas informais com amigos do ramo. Não é uma especulação minha. Eles, analisando sob a ótica de quem projeta, vão apontando os defeitos. O que me disseram pareceu razoável. Com efeito, o termo "favelão" é usado em São Paulo e faz sentido: imagina como será o trânsito na Conselheiro, na hora em que as 320 famílias do Parc paradiso precisarem sair para o trabalho, escola, ou voltar para casa, etc., praticamente ao mesmo tempo. Esses aspectos são omitidos dos compradores. Meus amigos acreditam que, daqui a algum tempo, quando as pessoas começarem a morar nesses prédios, perceberão os problemas e virá a fase do desencanto. Espero que não aconteça contigo. O comentário deles não é individualizado: tem a ver com tendências de mercado.
No mais, o Fred tem razão numa coisa, inegavelmente: as construtoras de fora estão chegando porque aqui é uma terra sem lei e se faz o que quer. Como trabalhei na Câmara Municipal de Belém, sei bem o que a indústria da construção civil é capaz de fazer para alcançar seus objetivos. A legislação edilícia muda sempre que eles querem.
Por fim, toda obra traz aborrecimentos para alguém. Isso é inevitável. Para eu corrigir uma infiltração em minha casa, precisarei incomodar o vizinho. Mas pedirei autorização e o pedreiro trablhará nas horas e condições que me forem autorizadas. E sei que precisarei indenizar quaisquer prejuízos. O problema está no excesso: quatro bate-estacas simultaneamente é demais para qualquer ser humano. Essa é a crítica que a postagem traz: o excesso, não o fato em si.
Espero que estas explicações ajudem a dissolver a má impressão. Felicidade na casa nova.
Anônimo, trata-se de um boato e já meio velho.
Dissipada a primeira - e equivocada - impressão.
Felicidades para vocês também!!!
Ah, só para registrar: meu pai, assim como você, não troca a casa "super" "mega" "ultra" espaçosa dele por nenhum desses apartamentos... :)
Abraços.
Más impressões dissipadas, fico te devendo um presente para a casa nova. Depois me diz a cor da decoração. Outro abraço.
Realmente, Yúdice, a crítica não era aos compradores, que, como se vê, é a parte vulnerável e hipossuficiente do mercado de consumo. Todavia...
Vejo que eficácia da sedução do mercado chega ao ponto subjetivo da construção de uma prosopopéia (perdoe-me o tosco trocadilho). É lindo o que ainda não existe e será tal qual um "filho" em algum tempo. E se Deus quiser... Imagine se ele não quiser, por opor-se aos opróbrios, geralmente compradores de primeira viagem, entusiasmados, empolgados.
O destinatário (consumidor) do estratagema mercadológico se convence da própria torpeza e pouco caso faz das diligências necessárias para aquisição tão séria. Na maioria das vezes não é ele quem paga. Roberto Justus deveria dizer: você está demitido do setor patrimonial dessa família. Você não comprou com prudência. Convenceram-lhe a comprar. Seduziram-lhe a fazer o que todo mundo faz, sob o sofisma de que o que todo mundo faz é acobertado pelo véu da legalidade e certeza da segurança jurídica. É o tipo de cidadão que pára o carro novo que comprou no consórcio de 70 meses em fila dupla, e acha isso muito normal. No caso de imóvel, só aprende com a frustração da primeira infiltração, das medidas inexatas, dos atrasos na entrega, no acabamento desconforme, dos erros de projeto, da inutilidade das mórbidas áreas de lazer, dos resíduos contratuais, das variações das parcelas em função da TR ou variação do preço do material de construção, do juro, enfim, tudo o que não levou em conta na hora de assinar o contrato, bastando-se em brilhar os olhos de bobo diante da falácia de algum corretor de imóveis, que balança uma bela planta como um pêndulo de hipnose e um preço com prestação que cabe no bolso; típico do pensamento popular de imediatismo. Não pensa no amanhã. Não sabe, sequer, onde está o registro da incorporação imobiliária, se está regular, ou sequer leu o contrato que assinou. Apenas comprou porque "cabe no bolso". Conheço o tipo. É, de fato, um aprendiz.
Construtoras adoram Belém do Pará por poderem trabalhar com a liberdade que lhes permite a libertinagem no respeito à cidade, aos consumidores, aos pedestres, aos confinantes, aos aprendizes, dentre tantos outros sujeitos de direitos. Em vez de se pensar em comentários depreciativos em relação às contrutoras, dever-se-ia pensar no acinte da relação das empresas privadas de construção civil com o poder público exposta a rodo nas colunas socias.
Parabéns aos pipoqueiros de construtoras. Que mal fazem à autonomia da vontade? Que mal podem fazer àqueles que costumam pensar com exatidão? Há o direito para socorrê-los. Mas até lá, se esconderão no anonimato para abafar a insentatez que lhes levou ao fracasso.
Nota zero em utilização racional do espaço urbano. Nota zero em cidadania. Nota zero em interpretação de texto. Mas dou um dez em individualismo. Se o que é meu não presta, então proíba-se o que é dos outros, certo? Vamos proibir a "construção de novas residências, porque toda "construção de residência" causa inconvenientes. Um Império Amazônico cai como uma luva. Mas, se quiser, pode ser PAAR, Riacho Doce, Cidade Nova, à escolha.
Só posso desejar boa sorte, que esse "filho" não se torne um adolescente rebelde.
Um abraço, Yúdice, e obrigado pela perspicácia.
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