terça-feira, 27 de maio de 2008

Previsível desobediência

Dois desembargadores do trabalho — Vicente Fonseca e Vanja Mendonça — concederam em tempo hábil liminares para determinar que 40% da frota de ônibus de Belém operassem durante a greve. Foi cominada multa de 10 mil reais em caso de descumprimento. Como era de se esperar, face aos antecedentes, o sindicato ignorou solenemente a ordem. Passou o dia de hoje e nenhum ônibus circulou. Nenhum. Se você viu algum, por favor me corrija, mas eu estive na rua logo cedo, toda a tarde e parte da noite. Passei por vários bairros. Ao longo de horas e horas, não vislumbrei o menor sinal de ônibus.
É sempre assim: o Judiciário pode determinar o que quiser, mas os rodoviários só fazem o que bem entendem. E nunca obedecem. E, mesmo diante da desobediência, nunca acontece nada. Impunes, reforçam-se para continuar agindo como bem entendem. Vale lembrar que o Sindicato dos Rodoviários é um dos mais organizados da cidade; tem um imenso poder de mobilização. A categoria sabe que a cidade fica à sua mercê e sabe explorar isso. Temos incontáveis exemplos de verdadeiros pandemônios que provocou, inclusive para resolver suas picuinhas internas. A bem da verdade, os rodoviários sentem prazer na transgressão; para eles, é uma delícia enfrentar a todos e vencer a quebra de braço. Esse é um comportamento perigoso, que precisa ser coibido.
Eu teria cominado multa maior, em caso de desobediência. Mas, acima de tudo, teria determinado a prisão dos infratores. Acima de tudo, porém, a questão é que não se promete o que não se pode cumprir. Se o Judiciário disse que a transgressão de sua ordem teria conseqüências, então que elas venham. A jato. Do contrário, prepare-se para mais um dia infernal.

Em tempo: Junto com os rodoviários, os agentes de trânsito também sumiram. Só os vi nos locais mais óbvios, p. ex. nos pontos onde foram instalados aqueles ridículos picolés e na Pedro Álvares Cabral, por causa das obras do binário. De resto, nada. E olha que o trânsito difícil pedia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amigo, comungo do seu posicionamento, realmente a cidade numa greve como essa, fica refém dos grevistas em uma situação de dificil solução. Escolas não funcionam, pessoas faltam o trabalho, perueiros exploram a necessidade da população e o poder público fica inerte, ainda por cima em ano de eleição.
Quanto a deobediência a ordem judicial, que os responsáveis sofram as reprimendas de lei (prisão, assim, talvez poderemos colocar um pouco de ordem nessa bagunça.
Marcos Brandão.

Yúdice Andrade disse...

Caro Marcos, nem imaginas como estes quatro dias estão tumultuando a minha vida e a de minha esposa, que leciona na mesma faculdade que eu. Atividade suspensas, avaliações canceladas, tudo num momento em que o calendário acadêmico aponta para o final, deixando-nos com pouco tempo para minorar prejuízos.
É uma lástima. Olha o caso de meu irmão, cuja companhia teatral está encenando "A comédia dos erros": que público terão, se não houver transporte.
Em suma, não importa que tenhamos carro e condições de nos locomover. De algum modo, a greve prejudica concretamente todas as pessoas, sem exceção. Tomara que termine ainda hoje, embora minhas esperanças estejam minguando.
Um abraço.