Em geral, as pessoas ficam vivamente impressionadas quando digo que não gosto de futebol, como se houvesse algo de surpreendente nisso. Conheço uns tantos que igualmente são avessos ao mito meio espontâneo e meio construído da indispensabilidade desse esporte na vida dos seres humanos. Basta que se diga que a loucura hoje reinante pelo mundo afora se deve, como não poderia deixar de ser, à atuação de segmentos empresariais, a mídia inclusa, ávida por vender produtos — jogos, campeonatos, transmissões, produtos licenciados de times e de jogadores, etc.
Tive um professor de alemão que, comentando sobre os tempos em que morou na Alemanha, narrou a ocasião de uma copa do mundo, em que a seleção alemã jogava contra uma outra qualquer. Ele estava com amigos num bar e uma solitária TV exibia a disputa enquanto o público bebia e conversava. De repente, eis que os alemães fizeram um gol. Meu professor e seus amigos, na maior brasilidade e querendo ser simpáticos aos donos da casa, comemoraram aos gritos o tento. De imediato, os cidadãos locais os repreenderam e exigiram silêncio. Eles ainda argumentaram que a Alemanha acabara de fazer um gol. Os nativos, contudo, nem se interessaram e exigiram que o grupo se comportasse. Sabemos como os alemães são extremamente civilizados.
Isso tem mais de 20 anos. Fosse hoje em dia, decerto, a civilidade seria bem menor. Assim como em outros países, muitos dos quais sequer praticavam o tal esporte e, um belo dia, alguém decidiu importá-lo. No Japão e no Oriente Médio foi assim. Eles contrataram profissionais bem sucedidos — vários brasileiros, como Zico — e inventaram uma nova moda. Que está valendo fortunas, agora, claro.
Enfim, não consigo entender como alguém pode não gostar de açaí. Mas de futebol, compreendo perfeitamente.
E se me perguntam a razão, sempre falo do caráter imbecilizante que esse esporte tem sobre as pessoas. Duvida? Então o que dizer do torcedor vascaíno que tentou se matar após o merecido rebaixamento de seu timinho à segunda divisão? Ele culpa o álcool pelo gesto tresloucado. Isso é verdade. Mas culpa também o Eurico Miranda. Só não culpa a si mesmo. É assim.
Há dois anos, um desses times medalhões foi rebaixado também. Não me lembro qual nem farei pesquisas na Internet para descobrir, porque não gastaria meu tempo com isso. Tanto faz se foi o Curíntia, o Botafogo, o Grêmio do primo catarinense Jean (que vai me odiar por isto), o São Caetano ou o Paysandu (não, pensando bem, este não tem a menor chance de cair para a segunda divisão; aliás, nem de subir). Times de futebol, para mim, são tudo a lesma lerda.
E eu já gastei 2.202 caracteres com o assunto, fora os espaços.
Enfim, daqui a um ano, pode ser que o Vascão do meu amigo José Antônio Coimbra, que ontem não atendeu a minha ligação porque sabia que eu o sacanearia — esta, sim, a única coisa útil no futebol, pois como não torço para time algum, estou imune às reviravoltas desse mundinho —, esteja de volta à — como é que se diz? — elite do futebol brasileiro.
Mas isso só porque vice-campeão também sobe, né?
5 comentários:
2002- Palmeiras e Botafogo
2004 - Grêmio rebaixado
2005 - Atlético Mineiro
2007 - Corinthians
2008 - Vasco da Gama
Informação inútil para você, mas estes foram os times rebaixados de 'grande expressão' nos últimos anos hehe
Mas então, po, poderias ter poupado meu Grêmio né, afinal voltou de maneira épica que renderia uma belo filme de "autoajuda" hehe
Quanto ao futebol, concordo que seja o ópio do povo. Já tentei algumas vezes somente o praticar, sem me apegar muito a selvageria que fizeram com o esporte sob a falsa impressão de "profissionalismo". Mas tudo aquilo que começa a dar muito dinheiro estraga,é incrível isso. A essência vai embora em prol do lucro a qualquer custo, esta é a tônica, inclusive, das artes.
Eu procuro creditar ao tal e ecoado "profissionalismo" o meu desinteresse crescente no futebol.
Não é a toa que o significado de Amador deve vir de amar, ou seja, fazer aquilo sem pretenções de remuneração.
Abraços Primo
Sabia que passarias por aqui. Mencionei o Grêmio para te atrair, mas sem nenhuma intenção maldosa. O vice-campeonato deve ser uma conquista importante, presumo.
No mais, só posso dizer que na lista de medalhões rebaixados está faltando um nome: Flamengo. Esse é o mais esperado. Mas será que a Globo deixaria isso acontecer?
Nunca tinha parado para pensar no sentido da palavra "amador", apesar de ser etimologicamente simples. Obrigado pela dica e pelo complemento. Afinal, ratifica minha idéia de que a industrialização do futebol compromete os valores que ele poderia ter.
Abraços.
Amigo Yúdice,
Finalmente, algo que não concordamos. Não somente amo jogar futebol, mas também assistir. Talvez por ter aprendido com meu pai a "ler" o que acontece em um jogo, tenho esse esporte, para mim, como uma representação da vida. Quando jogo, penso para encontrar soluções. Quando assisto, também, mas a partir das idéias dos técnicos e os jogadores. O homem é que é o problema. Aqui, no Rio, SP, Londres, Madri, onde quiser. Dependendo do nível de ética, civilidade e desenvolvimento humano, tudo fica melhor.
Sei que a essa altura, não conseguirei mais convence-lo a gostar de futebol, mas posso garantir que faltou alguma iniciação, pois inteligente como é, perceberia os fatores extremamente positivos do esporte.
Abraços
Edyr
Para quem não gosta, até que tu entendes alguma coisa de futebol, meu caro. O que não é legal são os exageros, a histeria coletiva a ponto de tirar o sujeito de si. Nesse ponto tal qual a religião.
Meu amigo Edyr, divergir é preciso!
Esclarecendo melhor, o meu problema não é com o futebol em si. Sem dúvida, isso não ficou bem posto no texto, mas hoje em dia a histeria é tanta que fica difícil separar o esporte do componente humano, que mencionaste, acertadamente.
A começar, o futebol é um esporte coletivo. Gosto disso. Visualmente, fica bonito e o momento do gol é realmente animador. Se minha filha um dia quiser praticá-lo, não oferecerei obstáculos, pois é bom para a socialização das crianças.
Esse emaranhado de regras do futebol, alvo de recorrentes comentários entre seus amantes, também é interessante. Afinal, sou advogado. Adoro um emaranhado de regras malucas que só os iniciados entendem, mesmo que eu não seja um deles!
Enfim, seria bom se as pessoas curtissem o esporte com a paixão de antigamente, quando não se jogava para ficar milionário, quando não se compravam decisões, quando os campeonatos não eram decididos de acordo com a conveniência de emissoras de TV e quando os torcedores não tentavam se matar!
Muito bom estarmos em geral de acordo. Abraços.
É que eu leio muito jornal, Fred, e acabo me lembrando das manchetes esportivas, embora não leia as matérias. E sempre posso pedir uma consultoria. Para isso, nunca faltam especialistas. Abraços.
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