quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Só o pneu

Dê uma olhada no objeto que aparece na fotografia aí embaixo e tente identificar do que se trata.
Sim, é um pequeno pedaço de metal retorcido. Já identificou o que é? Para esclarecer, permita que eu informe que tive uma consulta médica hoje. Por contingências do dia, minha esposa e filha me acompanharam. Na saída, por volta das 18h20, a funcionária do edifício comercial onde estávamos me abordou perguntando se eu possuía um automóvel Palio. Exibiu um papelzinho com uma placa veicular anotada. Neguei e nada me foi esclarecido. Pensei que fosse um carro trancando a garagem do prédio, mas notei que o acesso estava livre.
Caminhamos alguns metros e coloquei Júlia em sua cadeirinha. Eu e Polyana conversávamos. Saí com o carro e de imediato senti que havia algo errado. Direção dura, puxando para a direita. Encostei. O pneu dianteiro direito estava furado. Por sorte, eu estava quase em frente a uma borracharia. Dei uma ré. Durante o conserto, o borracheiro me chamou, agitado. Com certa solenidade, informou-me que o dano no meu pneu era o objeto ali de cima. Uma bala de revólver, devidamente deflagrada.
Resumo da ópera, com as informações desencontradas de praxe: um sujeito tentou arrombar um carro estacionado e foi flagrado por um policial, que me disseram talvez estivesse fazendo segurança particular (prática ilegal e cotidiana dos policiais militares). O policial, despreparado e irresponsável, não contou conversa e saiu atirando. Não sei se o assaltante estava armado e se houve troca de tiros. Também não sei se foi preso. Só sei que o policial abriu fogo na esquina da 9 de Janeiro com Pariquis, em horário de grande movimento. Estilhaçou o pára-brisa do carro que seria arrombado, o tal Palio sobre que me perguntaram. E acertou o meu pneu, em uma posição de conserto difícil, o que provavelmente me custará comprar um novo, já que perdi a confiança neste, avariado.
Guardei a bala para me recordar do dia em que meu carro foi alvejado. Para me recordar como a nossa vida pode mudar drasticamente numa fração de segundo, dependendo das escolhas que fazemos ou que alguém faz por nós. Como a escolha de um local para estacionar, havendo outros. Como a consulta que foi adiada em meia hora. Se não tivesse sido, se eu tivesse deixado o prédio meia hora antes, é possível que os tiros surgissem no momento em que eu retornava para o meu carro com minha esposa e filha, pois de fato a confusão ocorreu nesse momento.
Quando o triunfante borracheiro pôs a bala em minha mão, minha primeira reação foi de incredulidade. Achava que meu problema se resumia a um prego perdido no asfalto. Mas olhei o metal amassado e soube que não se tratava de um exagero. Escureceu e minha filha, angustiada, queria mamar. Mas estávamos parados numa calçada qualquer, esperando acabar o conserto (mal feito, o que me obrigou a parar de novo adiante). Só queria chegar em casa com as duas.
Felizmente, as únicas vítimas do dia foram um pneu e um pára-brisa.
Todos sabemos que estamos num tempo e numa cidade inseguros. Mas a coisa muda quando a insegurança chega até algo que tenha a ver com você, nem que seja um patético pneu. Graças a Deus, logo mais irei para a cama e nós três dormiremos em paz.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pôxa!!! Que bom que nada aconteceu de mais grave!

Anônimo disse...

É amigo, detentor de tão profícuo conhecimento da ciência jurídica. Sua historia e repercurssão demonstram com clareza solar o quer sempre falo aos mais chegados, devemos vivera vidadia por dia e com grande intensidade , nunca se sabe quando encontraremos situações como a que descreves eo desfecho que tera. No seu caso, um desfecho tranquilo "poderia ser bem pior", porém , que lhe levoua refletir sobre a vida e sua nuances.
Abraço.
JUSTICEIRO (HERÓI DO SERTÃO).

Yúdice Andrade disse...

Agradeço a solidariedade, meus caros, desculpando-me pela demora em responder.
Felizmente, essa é uma história sem capítulo seguinte, que se encerra aí mesmo onde a postagem a colocou. Graças a Deus.