segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dos 70 para os 80

Minha obsessiva inclinação para relacionar os números das postagens do blog aos anos me fez pensar, neste final de semana, sobre o término da década de 1970 e começo dos gloriosos, inesquecíveis e breguíssimos anos 1980. De imediato, pensei em João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), aquele que se notabilizou por dizer que preferia cheiro de cavalo ao do povo. Se esse acontecimento não for verdadeiro, de tanto que o repetem, agora é.
Eu ainda nem completara quatro anos quando Figueiredo se tornou o 30º presidente da República e o último da ditadura militar, em 15.3.1979. Mas foi olhando para a careta dele que escutei, pela primeira vez, a expressão "presidente da República", àquela altura sendo capaz de entender, apenas, que era o sujeito que mandava no país.
Mais de uma década depois, assistindo às excelentes aulas de História do Brasil do Prof. Haroldo Trazíbulo, soube que Figueiredo assumira o governo com o compromisso de promover a abertura política, redemocratizando o país e o preparando para devolvê-lo aos brasileiros, por meio de governos civis. Essa foi a tônica de seu discurso de posse e, com efeito, foi em 1979 que as acusados de crimes políticos foram finalmente beneficiados pela Lei de Anistia. Adolescente, vi imagens de arquivo de exilados políticos nos aeroportos, retornando à pátria e às suas famílias, emocionadíssimos. Contudo, tenho uma vaga lembrança de, ainda criança, ter visto pela TV que alguém decidira, em definitivo, que as eleições presidenciais seriam indiretas e o primeiro presidente civil seria escolhido por um Colégio Eleitoral. Lembro-me destas palavras, mas não sabia o que significavam.
Também me recordo de haver dois candidatos: Tancredo Neves e Paulo Maluf, vencendo o primeiro, em meio a manifestações de desbragada emoção por todo o país. Falava-se muito em liberdade naqueles tempos. Eu podia ver que algo grandioso estava acontecendo, mas admito que o assunto me enfarava e eu acabava voltando para os meus carrinhos. De plástico, pois naquela época não existiam os Hot Wheels.
Hoje, sinto uma certa emoção em ter testemunhado a História, mesmo que pela TV e sem aproveitar o calor dos acontecimentos. Hoje tenho a dimensão do que significaram esses episódios e dos motivos que levavam às pessoas a reações tão dramáticas, sobretudo quando Tancredo morreu, sem tomar posse. Penso que, depois do retorno dos governos civis, não aconteceu nada mais tão portentoso assim. Até porque a redemocratização do país é mais uma declaração de princípios, formal, do que uma realidade. Como disse em outros momentos, aqui no blog, não vivemos uma verdadeira democracia. Nossos representantes não nos representam, nossas instituições mal funcionam, o Estado não nos serve, o voto continua sendo comprado, a sociedade continua drasticamente desigual, a concentração de renda é maior do que no passado, a terra continua distante de quem a merece, os verdadeiros criminosos não são punidos e o Estado os protege... Enfim, muita coisa deu errado.
Há, contudo, diversas outras razões para isso e muito mais a ponderar. Isso fica, entretanto, para outras postagens desta testemunha televisiva e pouco consciente da História.

8 comentários:

Leo Nóvoa disse...

É professorm, muito se passa e o país continua na mesmice.
hehe
À propósito, o Prof. Haroldo Trazíbulo foi meu professor de história no vestibular há alguns anos, e continua lecionando, tendo sido professor este ano agora do meu irmão.
=)

Abraços

Anônimo disse...

Você foi aluno do Colégio Nazaré?

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, não estudei no colégio Nazaré e fiquei curioso sobre esta pergunta.

Léo, sempre quis saber por onde anda o Prof. Haroldo. Por sinal, esta não foi a primeira vez que o citei aqui no blog (clica aí ao lado, no marcador "História", e procura uma postagem com o título "História dos vencedores e dos idiotas"). Isso acontece porque, de fato, sempre adorei História e minhas melhores aulas dessa disciplina foram ministradas por ele.
Folgo em saber que continua lecionando e deve continuar a fazê-lo, pois esta garotada de hoje precisa de um professor desse nível. Espero reencontrá-lo qualquer dia e lhe dizer o quanto ele foi importante em minha formação naquela época.

Anônimo disse...

É que o Prof. Haroldo Trazíbulo lecionou história no Nazaré nos anos 90.

Yúdice Andrade disse...

Meu amigo, em 1992 eu já estava na UFPA, por isso de qualquer modo não acompanharia a carreira do meu dileto professor nesse momento. O fato é que ele lecionou também em outros locais, o que me permitiu ter o privilégio de aprender com ele.

caio disse...

ah, o Haroldo! sendo do mesmo convênio do Nazaré que o Nóvoa, também fui aluno dele. Era uma das aulas que eu mais gostava... sempre gostei de História Geral (a parte que coube a ele naquele ano) e História do Brasil pós-Ditadura.

Adorei a parte final do texto. "Nossos representantes não nos representam, nossas instituições mal funcionam, o Estado não nos serve, o voto continua sendo comprado". Genial!

Sei mais ou menos como o senhor se sente ao se dizer "estemunha televisiva e pouco consciente da História". Comigo também foi assim. Lembro que as primeiras eleições que acompanhei foram as de 1994: torci para o Lula ganhar a presidência porque a minha babá torcia; no Estado, torci pro Passarinho porque achava o sobrenome dele engraçado...não me lembro das eleições para o Senado. O primeiro governador que vi foi o Carlos Santos. O primeiro presidente, o Itamar Franco. O primeiro prefeito, Hélio Gueiros. Cheguei a comprar algo com cruzeiros.

Nasci antes do fim da Guerra Fria, mas cresci com uma Alemanha e com URSS e Tchecoslováquia desmembradas. Iugoslávia para mim sempre foi reduzida à Sérvia e a Montenegro. As bandeiras da Iugoslávia, Romênia e Bulgária sempre se constituíram em listras limpas para mim, sem brasões com estrelas, foices e/ou martelos. Só fui descobrir o que era socialismo na oitava série. O primeiro país "novo" que realmente vi surgir foi o Timor Leste.

Nasci em 1989, mas só fui começar a memorizar coisas a partir de 1996... antes disso, só tenho alguns flashes justamente das eleições, da morte do Senna e do tetracampeonato em 1994; e de alguns episódios dos Power Rangers, X-Men e Cavaleiros do Zodiáco e da final do Campeonato Brasileiro em 1995 - o Santos do Giovanni merecia, mas ficou com o Botafogo do Túlio...

A propósito, prof, há um fake na comunidade de Belém que, se não for um alter ego do senhor, está no mínimo "plagiando" um post seu sobre a Infinity Corporate Tower...

Abraço!

Leo Nóvoa disse...

Caio viajando, mas os 90's deixaram muitas saudades. Guaraná Taí, essa final de 1995, super nintendo, porcarias como os backstreet boys e é o tchan. Enfim. auuahuha
Poisé professor, o Prof. Haroldo continua lecionando até hoje no 3º ano do Colégio Nazaré e no 3º do Colégio Moderno.
=)
Ah, e também não vi o sr. comentando da baixa do clima na cidade ontem, trazendo aqueles céus nublados, ventos amenos e clima natalino.

abraçoss

Yúdice Andrade disse...

Caio, muito bacana o teu comentário. Daria uma crônica bem legal. E captou bem o espírito do meu texto: mostrar como encarávamos o mundo com nossos olhos infantis.
Quer dizer que estão me plagiando, é? Vou dar uma olhada lá.

Léo, os anos 1990 ainda são muito recentes! E os 1980 foram bem mais divertidos, mesmo eu não os tendo aproveitado como devia e podia.
Quanto ao clima, adorei como estava ameno ontem, por volta de 14horas. Mas a chuva prolongada me preocupou, já que conhecemos as implicações.

Abraços aos dois.