terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Medicina vs. comércio

"A Medicina não pode, em qualquer circunstância, ou de qualquer forma, ser exercida como comércio."
Art. 9º do Código de Ética Médica

A bela declaração de intenções acima precisa ser relembrada por um famosíssimo médico de nossa cidade, que também exerce funções empresariais em seu estabelecimento, que não para de crescer. Não direi seu nome por razões óbvias, mas acredito que seja muito fácil deduzir de quem não se trata. Por isso mesmo, vou logo avisando que não publicarei comentários identificando o nobre senhor.
O motivo desta postagem é o ressentimento que guardo pela forma como fui tratado por ele. Não diretamente. No trato pessoal, ele é um gentleman, educado e gentil até demais. Mas considero inadmissível que meu tempo e minhas necessidades sejam sumariamente desprezados. É certo que isso acontece hoje em 99% dos consultórios médicos, mas alguns abusam. E o senhor em apreço abusa.
Na recente gestação de minha esposa, tivemos dois contatos com ele. Poderiam ter sido três, mas no que seria o primeiro preferimos recorrer a outro médico, pois a "reunião de diretoria" do nosso medalhão não tinha hora para acabar. Depois, pagamos os nossos pecados na sala de espera. Idem no mês seguinte, quando demos entrada na clínica às 8 da manhã, mas o bonito só começou a atender às 10h30, após terminar as suas reuniões. Ia dar meio dia quando finalmente nos atendeu, numa consulta que dura pouco mais de dez minutos. Nesse dia, avisei minha esposa que não poria mais os meus pés ali. Promessa cumprida, as duas últimas consultas foram realizadas com outro profissional, sem nenhuma crítica à qualidade e com um diferencial que para mim é crucial: saí de sua clínica antes das 9 da manhã (entrando um pouco depois das 7), com tudo resolvido. E só demoramos mais porque optamos por esperar o laudo do exame.
Hoje, fiquei sabendo que uma amiga gestante fez a mesma troca, em definitivo. Motivo: você telefona para a clínica e marca consulta com o medalhão. A secretária confirma. Contudo, no dia marcado, um imprevisto sempre aparece e as funcionárias começam a induzir o público a ser atendido pelos demais médicos, o que será mais rápido. Você já saiu de sua casa, quer e precisa do exame, não aceita perder mais tempo. Fará o quê? Irá ao outro médico. O nosso amigo, assim, fica numa condição curiosa: seu nome atrai os pacientes, mas estes não conseguem o que desejam.
Para mim, as coisas são muito simples: se você decidiu ser empresário e não médico, assuma isso e toque sua vida para a frente. Só não iluda ninguém.

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