Dentro de menos de 14 horas começa a vigorar a reforma ortográfica da Língua Portuguesa, tema de polêmicas há bastante tempo. Por falta de habilitação técnica, não posso debater essa polêmica. Neste caso, sou apenas um observador — e curioso, já que apaixonado pelo nosso idioma e obcecado pela ideia de empregá-lo sem falhas.
Abstraindo o fato de que o idioma também é resultante de um processo histórico e dos referenciais culturais de um povo, acredito que o comodismo ainda é o fator preponderante nas críticas que o cidadão comum tem feito às mudanças. Resistência à mudança, sobretudo. O engraçado é que a língua muda, inexoravelmente, devido aos apócopes, aos neologismos (muitos vindos do mundo da tecnologia), aos estrangeirismos, à expressão de segmentos sociais (gírias, principalmente), dentre outros fatores. E, quanto a estes aspectos, não há resistências. Desconheço se alguém protestou no dia em que vossa mercê virou você.
E não reclamou porque esse foi um processo natural. Pelo visto, as pessoas estão incomodadas com as mudanças artificiais (a opinião não é minha), decretadas por autoridades que as mesmas não reconhecem como tal.
De minha parte, achei algumas mudanças esquisitas. Gosto mais de vôo que de voo, de idéia que de ideia, por considerar os acentos úteis a identificar a entonação das palavras e, até mesmo, por darem um certo estilo. Não imagino os franceses escrevendo fraternite, em vez de fraternité. Além do mais, há um quê de globalização nessas medidas que me incomoda um tanto.
O fato é que não me convidaram a decidir, sabe-se lá quando, que farmácia seria escrito com "f" e não com "ph" ou, ainda mais remotamente, que haveria dígrafos e hiatos; que na separação silábica nenhuma letra pode ficar sozinha, mesmo que corresponda a uma sílaba inteira; que o "i" e o "j" são as únicas letras a possuir pingo e apenas quando minúsculas; que "m" é uma letra minúscula grande e não um "M" maiúsculo e incontáveis outras coisas que um dia aprendi e jamais esqueci, embora não me recorde mais das regras ou das explicações. Do mesmo modo, não me convidaram a opinar sobre as palavras que devem ou não ter hífen a partir de 2009. Diante disso, resignadamente e tendo fé que há uma boa razão para tanto, eu obedecerei. Daqui a algumas horas, porém não antes, começarei a usar a nova grafia das palavras.
Contudo, dou-me conta de que estou muito inseguro acerca das mudanças. Já li a respeito e nos últimos dias intensifiquei minhas buscas. Estou ciente de que as alterações serão mais intensas para os países de português lusitano. Mas de repente não tenho certeza se estarei grafando de modo correto certas palavras, o que me leva a pedir desculpas antecipadas por eventuais lapsos. É dificil vencer quase uma vida inteira de hábitos.
E uma dúvida me corroi. José Saramago — entusiasta do Português de Portugal, tanto que jamais permitiu a adaptação de seus textos para o Português brasileiro, como as editoras informam ostensivamente nos títulos do autor — já começou a escrever seu próximo livro. Estará ele respeitando as novas regras do idioma?
Um comentário:
Olá Primo!!!
Primeiro comentário de 2009 será de uma 'postagem' do ano passado hehe
Faço de tuas palavras as minhas.
Há muita insanidade e oportunismo de uma parcela significativa das pessoas que 'exalam' tal pérola:
"O que se esperar de um presidente que nem completou o ensino primário?!"
Tal asneira é facilmente desconstituída quando se questiona a 'evolução' de 'vossa mercê' até 'você'. Ora, não imagino que alguém tenha ficado tão horrorizado.
Minha conclusão é de que não fosse o Lula nosso presidente, muitos aceitariam com muito mais agrado tal reforma.
Não sou petista e/ou defensor do Lula, apenas acho simplista reduzir o debate à uma questão incidental.
Abraços Primo!!! Feliz Ano Novo
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