Longe de mim embarcar nesses discursos punitivos ensandecidos, tão comuns, mas a notícia de que, passados dois meses, não há indícios apontando para a punição de nada menos do que seis mortes no campo, aqui no Pará, preocupa.
Compreendo perfeitamente que a justiça não decrete a prisão preventiva diante da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que não considera materialidade e autoria como fundamentos suficientes para a medida excepcional. Compreendo perfeitamente todas as necessidades de cautela por parte do poder público, assim como o dever de evitar posturas estrepitosas, que só servem à mídia. Mas o problema é o longo e vasto histórico de violência no campo em nosso Estado, sempre caracterizado pela mais indecente impunidade.
Não é possível que tantas pessoas sejam executadas sumariamente e outras tantas vivam no fio da navalha, umas poucas sob proteção policial, a maioria contando apenas com a fé em Deus, e quase não haja condenações por esse tipo de crime. Quando há, é sempre dos executores, da raia violenta porém miúda, mas nunca dos mandantes. Assim como não se concebe que não haja punições efetivas pelo crime de redução à condição análoga à de escravo. Deve ser porque não existe trabalho escravo no Brasil, como sustenta o deputado federal Moreira Mendes (PPS-RO), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, dentre outros. A tal frente nada mais é do que um dos braços da nefasta bancada ruralista do Congresso Nacional, aquela desgraça da qual a morte não se lembra.
Graças a essas situações, em nosso Estado a violência do campo não cessa, não diminui; as relações de trabalho continuam sendo de exploração; a produção deixa de ser otimizada; o meio ambiente é brutalizado desnecessariamente; e a nossa imagem pública é degradada. Já passou da hora de atitudes concretas serem tomadas, mas é claro que não adianta serem apenas medidas judiciais. E não adianta que sejam só depois da porteira arrombada.
4 comentários:
Ou seja, fazem parte dos números do sistema policial de crimes não solucionados como um todo, não tendo nada de especial em relação aos demais. Eu odeio esse negócio de gente achar crimes mais graves do que outros, como os ligados a terra serem uma afronta aos direitos humanos, como se um homicídio simples, ou um latrocínio não o fossem. Fosse assim, todos os crimes deveriam ser federalizados no Brasil para ver se conseguiam algum desfecho, uma vez que se a polícia federal já não consegue dar conta das investigações, quiçá a estadual.
Enquanto alguns crimes forem mais aclamados que outros não sei como conversar sobre política criminal com alguém porque sempre aparece um revoltado com um determinado tipo.
Fora isso, é interessante ver alguém tão ponderado, apesar de arbitrário, se demonstrar tão reacionário quanto a uma bancada parlamentar, que sim defende interesses de seus eleitores. Ao que sei, parte do PIB brasileiro é sustentado pelo agronegócio. Só por isso eles não deveriam ser representados, pois já possuem poder econômico o suficiente? Não fossem eles, quem iria sustentar o país nas costas? Os industriais recebem inúmeras regalias do governo; os bancos nem se fale; quem enfrenta diversos problemas de ordem ambiental, trabalhista, fiscalizatória e tributária são sempre os envolvidos no agronegócios. No Pará isso ainda é mais delicado e enquanto for encarado com ódio esse Estado que vai de mal a pior só tende a piorar. Quem irá sustentar o Estado: funcionários públicos e professores? Acho difícil.
Pensei longamente, até mais do que deveria, sobre este comentário. A princípio, pensei apenas em ponderar que a divisão dos crimes em mais ou menos graves é inevitável, ou você vai me dizer que uma difamação se equipara a um estupro? Que uma lesão corporal leve se equipara a um homicídio? Que um furto se equipara a um roubo?
Se você acha que sim, não temos como iniciar qualquer conversa.
Mas depois que você manifestou com ardor e paixão sua fé no agronegócio - nas atividades como elas efetivamente são - como sustentáculos do país, como se esse setor carregasse o país nas costas; que tratou o setor como coitadinho, perseguido e incompreendido, enquanto outros setores são privilegiados; e por fim que debochou de mim pessoalmente e, por tabela, de duas categorias profissionais (servidores públicos e professores), não acho que seu comentário mereça nem um centésimo na enorme atenção que já lhe dispensei com esta resposta.
Aliás, se você tivesse aproveitado bem seus professores, talvez soubesse ler um pouco melhor a realidade.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/958666-agronegocio-brasileiro-registra-superavit-de-us-7-bi-em-julho.shtml
Assim como você reclama das notícias envolvendo o sistema penal, aqui vai uma envolvendo o agronegócio. Quem lê isso realmente acha que o agronegócio, explorador de mão-de-obra escrava, vendendo cativos, está de vento em popa. Trata-se aqui de um número restrito de produtores rurais EXPORTADORES. Esses sim detêm o poder econômico-financeiro que você tanto odeia. Eles representam os interesses deles, unicamente. O produtor rural independente que dê seu jeito de se filiar em alguma cooperativa para conseguir escoar a sua produção e não possui plantadeira, colheitadeira. Tente entender melhor o setor antes de classificá-lo como você faz, pois até nele há diferença entre os produtores. Esses números não são os amargados pelo produtor rural médio, que isso fique claro.
Agora você colocou a questão em melhores termos!
Se entendi direito, você está separando os grandes produtores rurais, exportadores, dos pequenos produtores, que trabalham pela subsistência e pelo direito a um lucro decente e justo; afinal, é contraprestação de trabalho honesto. Só não tenho certeza de que admitiu que os primeiros efetivamente praticam trabalho escravo.
Posso fazer um mea culpa e admitir que, talvez, tenha tratado de forma genérica o agronegócio, não separando o joio do trigo. A generalização é um recurso retórico necessário, para simplificar ideias, mas é perigoso e volta e meia causa esses embaraços. Reli a postagem e não me pareceu que fiz isso, porque a crítica contundente não foi ao agronegócio nem aos produtores, mas à bancada ruralista. Creio que a generalização surgiu em seu repto. Mas se dei margem a isso, penitencio-me.
Então que fique claro: eu não tenho nada contra o agronegócio em si ou contra produtores rurais. Aliás, seria tolo e insano ter. Minha indignação é contra os bandidos do setor, que obviamente são uma minoria, mas que aparecem infinitamente mais do que os outros. E em relação à bancada ruralista, eu suponho que nenhum merece misericórdia.
Agora que admiti minha culpa, você pode dizer se concorda ao menos um pouco comigo, postas as coisas em seus devidos termos?
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