Seis mulheres marroquinas e muçulmanas estão presas em São Paulo, sob a acusação de tráfico de drogas, presumo que internacional. O fato é que elas se julgaram impedidas de professar a própria religião, pois não podiam orar como manda a tradição, com as cabeças cobertas por um lenço chamado hijab. O pedido, a princípio, foi negado pela casa penal por razões de segurança, mas depois da intervenção da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da seccional paulista da OAB, foi encontrada uma alternativa: as mulheres receberão lençois brancos, com os quais poderão cobrir-se.
A Secretaria de Administração Penitenciária informou, através de nota, que "em contato com as reeducandas marroquinas, as mesmas verbalizaram que realizam suas preces dentro de suas respectivas celas e fazem o uso do lenço. Enfatizaram que o lenço no Brasil, é diferente do lenço que se usa comumente em seu país de origem, pois as mesmas usam o lençol branco para cobrirem a cabeça e a região lombar. Deve ressaltar que em nenhum momento houve impedimento por parte do corpo funcional para que realizem suas práticas religiosas".
Ao final da matéria publicada pelo ConJur, deparei-me com este bostejo de um comentarista:
O pior é que o sujeito se identifica como advogado, o que me leva a ter uma vã esperança de que fosse uma pessoa minimamente informada e se deixasse influenciar menos pelo senso comum, por posturas meramente vindicativas e pela histeria que hoje domina as mentes quando o assunto é crime, histeria que andou dando ares de sua desgraça aqui mesmo no blog, esta semana.
A assertiva acima parte do pressuposto maniqueísta de que se as mulheres estão presas, é porque não prestam. O raciocínio, se é que se pode classificá-lo como tal, é muito bom para as polícias, porque legitima de imediato toda e qualquer prisão. Obviamente, não faço nenhuma defesa dessas mulheres, seja porque não tenho motivos, seja porque me irrita profundamente alguém vir do exterior para cometer crimes aqui, como se já não tivéssemos transgressores made in Brazil o suficiente. Minha questão não tem a ver com elas, mas com as implicações desse tipo de pensamento: as pessoas não são presas porque são ruins; elas são ruins porque foram presas e isso se torna uma prova cabal. Qualquer ponderação a respeito fará você sofrer incontáveis apupos de ódio.
Nem direi que a Constituição e a Lei de Execução Penal asseguram ao preso a liberdade de exercer seus costumes religiosos, porque isso está além da compreensão dos donos da verdade. O mínimo que me dirão é que preciso me trancar atrás de milhares de cadeados, porque os bandidos estão na rua, e se algo me acontecer é bem feito para mim.
Sem dúvida que é melhor ler esse tipo de coisa do que ser analfabeto...
2 comentários:
Coincidência ou não, há algum tempo atrás houve um caso parecido com um judeu, que foi preso em flagrante no aeroporto de guarulhos com diversos relógios de luxo e mais outros equipamentos, entrando no Brasil. Não sei ao certo qual acusação lhe foi imputada, mas, sabe-se lá porque, a notícia foi admitida pela rede globo, em pleno fantástico (que há anos perde audiência, mas se mantem líder do horário). O fato foi que o procedimento padrão com homens, salvo engano, é raspar as barbas e cortar o cabelo. Esse judeu era hortodoxo, então era barbudo e usava aquelas trancinhas esquisitas. Daí a rede globo esqueceu do delito praticado pelo judeu e veiculou a matéria como sendo um absurdo o que fizeram com um distinto estrangeiro. Dois pesos e duas medidas? Ainda bem que o conjur e você noticiaram essa.
A ideia é mesmo desvelar os abusos, as imprecisões e a falta de senso das autoridades e da imprensa.
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