Uma pesquisa comparou o número de pessoas que se declara sem religião em países de diferentes graus de desenvolvimento e concluiu: no futuro, quando mais desenvolvido um povo, mais ateu ele é.
Será? Precisamos esperar maiores informações sobre a pesquisa, porque a exígua matéria a seu respeito nada informa sobre outras variáveis que podem influenciar as pessoas a professar uma religião. Vamos ver.
7 comentários:
Faz sentido. Pessoas com maior nível de renda têm mais segurança pra enfrentar a vida e acabam se tornando mais independentes, de tudo, enquanto que pessoas pobres, com poucas perspectivas concretas de melhoria de vida, acaba buscando a ajuda divina, já que sabem que, por conta própria, não tem muitas chances.
Já havia lido sobre isso. Na Europa, está havendo uma baixa significativa na quantidade de pessoas que seguem algum credo religioso, mesmo em alguns países com tradição milenar de carolismo, como os ibéricos.
Discutir as consequências disso é sempre complexo, mas sem dúvida há pontos positivos e negativos. Eu vejo mais positivos, diante das circunstâncias as quais as religiões foram levadas na atualidade.
Penso que a influência das religiões sobre pessoas mais humildes é um fato bastante óbvio, meus caros. Nos bairros de periferia, os pequenos comércios geralmente têm nomes religiosos. Não é o que ocorre, porém, nas lojas de shopping nem nas ruas badaladas da cidade. No entanto, pessoas abastadas costumam professar (ao menos da boca para fora) alguma religião e, inclusive, veem um certo status nisso. O ateísmo, entre nós, sempre foi algo relacionado a defeito de caráter.
O que me preocupa nessa discussão é que alguém acabe vendendo a ideia de que ter uma religião é coisa de gente pobre, intelectualmente limitada, o que está longe de ser verdade. Preocupa-me que o sentimento de espiritualidade, que todos deveríamos cultivar independentemente de legendas religiosas, seja prejudicado por conclusões precipitadas. Em suma, pessoas mais vulneráveis aderem mais facilmente a religiões dogmáticas, dominadoras e até exploradas econômicas. Mas daí a dizer-se que pessoas mais ricas e cultas não terão religião vai uma longa distância.
Não sou rica, não sou culta e sou ateia.
Meu filho é ateu desde os 12 anos de idade, foi o primeiro a "perder" a fé aqui em casa, depois minha filha, aos 15 e eu, bem depois deles.
O mais engraçado é que nunca, jamais, discutimos o assunto. Simplesmente não acreditamos em Deus.
Somos uma família muito bem estruturada, somos felizes, somos pessoas honestas, de bom caráter, pessoas que respeitam o próximo, a natureza, as coisas alheias e não temos problemas em aceitar as pessoas como elas são.
Eu relutei muito a aceitar que eu não cria em Deus. Fui criada em colégio de freiras, era católica praticante, mas sempre tive questionamentos, sempre buscava alguma coisa e um dia descobri que, na verdade, eu não acreditava em Deus, eu queria acreditar, mas eu não cria.
Depois que passei a buscar em mim mesma as respostas, vi que Deus não existe.
Mas garanto que não é fácil, pelo menos para quem já creu algum dia. De repente já não existe mais o "se Deus quiser", "Deus vai me ajudar", "está nas mãos de Deus" e principalmente nas horas de aperto, em que reza-se e sente-se confortado.
Depois acostuma-se, aí fica mais fácil.
Não tenho problema algum com nenhuma religião, (pois eu cri um dia) só não acredito mais nelas.
Yúdice, quando morei na Alemanha, há cerca de 20 anos, tive a clara sensação de que os católicos (a minoria) eram vistos como fanáticos e discriminados pelos ateus (quase 100% das pessoas no ambiente universitário, assim me parecia) e pelos evangélicos.
Hoje acredito que a porcentagem de ateus mencionados na matéria (42%) é na verdade muito maior naquele país.
Um abraço.
Eu entendo perfeitamente a tua posição, Ana, e não a critico em nenhuma medida. O que me preocupa em relação aos ateus é um aspecto que tu mesma destacaste: a falta de algo em que se agarrar quando tudo parece desfavorável. Mas meu sentimento é de solidariedade, não de crítica.
Pessoalmente, sou espírita e, para nós, não importa se o indivíduo crê ou não em Deus, mas se vive com retidão. Portanto, tua família há de estar bem na foto.
Scylla, tenho dificuldade em compreender um mundo em que os católicos sejam uma minoria e ainda por cima discriminada. Gostaria de viver de perto a dinâmica de um país assim.
Em todo caso, ambos tem que ter muita fé. Os crentes, para acreditar que Deus criou o mundo e as pessoas. Os ateus tem que muita fé para acreditar que tudo se originou de uma explosão e evoluiu de uma ameba.
Enquadro-me nos que creem em Deus e na ameba (que coisa!).
Acredito sim que haja uma tendência a desconsiderar opiniões fundadas unicamente na religião. É uma intolerância, tal qual achar que o ateu é um pária.
Não se pode esquecer ainda que sociedades desenvolvidas tendem a ser mais igualitárias, justas e com população mais educada, de forma que a religião perde um de seus papéis principais: o de controle social.
O cidadão não se abstém de matar porque é pecado, mas porque a lei funciona (e porque sua própria condição de vida, digna, talvez não dê espaço para aflorar alguns sentimentos).
Quando as pessoas se sentem respeitadas, elas tendem a respeitar. Uma sociedade com valores prescinde de Deus para muitas coisas. A religião passa a ser um elemento estritamente pessoal.
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