Lições de Byafra
Byafra e pôneis malditos: melhores anúncios publicitários do ano, na minha opinião. |
É um anúncio (publicitário adora usar “filme”, mas não vou tão longe) bem engraçado e espirituoso.
Eu, pessoalmente, preferiria mil vezes comprar um carro com o Byafra dentro do que com o Marcelo Camelo ou Seu Jorge. Mas entendo porque Byafra foi escolhido: ele é brega, não tem vergonha disso, e é um alvo fácil para chacotas do bom gostismo classe média.
Byafra impressionou por seu bom humor. Ele teve cabeça para entender que uma brincadeira dessas não compromete sua carreira, muito pelo contrário.
Porque, no Brasil, artista acha que é realeza. Com raras exceções, nossos atores e cantores parecem se julgar seres divinos, colocados aqui na Terra para nos entreter.
Nos Estados Unidos, ao contrário, muitos astros não têm problema em brincar com a própria imagem.
Quantas vezes Stevie Wonder não apareceu no “Saturday Night Live”? E o rapper Eminem, que topou ser alvo da bunda de Borat caindo em cima de sua cabeça na entrega de prêmios da MTV?
No Brasil, acontece o oposto: artistas fazem de tudo para “proteger” sua imagem.
Há o caso recente da modelo/atriz Juliana Paes, que processou Zé Simão por comentários sobre um personagem que ela interpretava em alguma novela.
E não dá para deixar de falar de Roberto Carlos, certamente o maior caso de complexo de realeza de nossa cultura pop.
Sonho com o dia em que o “Rei” chegue na TV e diga algo do tipo: “Eu sou Roberto Carlos, sou o maior astro popular que esse país já teve, e sou deficiente físico!”
Já imaginou o efeito que teria uma declaração dessas?
No dia seguinte, todas as esquinas do país teriam rampa para deficiente, todos os prédios teriam acessos para cadeirantes e empresas pensariam duas vezes antes de não contratar um profissional com necessidades especiais. Seria uma revolução.
Mas não é isso que acontece. Em vez disso, RC se satisfaz em processar jornalistas que fazem biografias. E o país todo aplaude.
Alguém pode perguntar: “Mas será que Roberto Carlos não tem o direito de não querer falar sobre o assunto?”
Claro que tem. Mas que uma declaração dessas ajudaria muita gente, isso ajudaria.
2 comentários:
Putz. Uma das manias mais conhecidas do Roberto Carlos é não andar de ré no carro. Eu estive no Rio há uns meses, e um taxista relatou que o RC chegou a parar o trânsito só para poder estacionar sem usar a ré... ficou esperando o carro que o "atrapalhava" sair para poder deixar o seu de um jeito "admissível" para si.
O pior é que quando indaguei se ninguém teve alguma ideia de usar um taco de baseball ou afim naquela situação, o cara respondeu "não, não... ele pode, ele pode..."
Mas o pior, Caio, é que o brasileiro médio endossa com a maior naturalidade os abusos, desmandos, manias e perversões de quem reconheça como poderoso. E isso não tem a ver com simpatia. Não se trata de licenciar o Roberto Carlos porque se gosta dele, como artista ou como pessoa. Mesmo que fosse um político odiado, p. ex., a mesma licença seria dada, porque o brasileiro acha perfeitamente normal haver pessoas melhores do que outras, mesmo que ele próprio esteja no polo desfavorecido dessa relação.
Vai entender...
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