quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Num outdoor de Ribeirão Preto
Há passagens na Bíblia que repudiam de maneira expressa o homossexualismo. Natural, considerando o momento em que tais ideias foram sistematizadas (e até porque esse repúdio subsiste até hoje). Assim, em princípio, se uma igreja evangélica defende essas ideias, tais manifestações devem ser reputadas mero exercício da liberdade de expressão, que é um direito assegurado de modo ostensivo pela Constituição de 1988. Nela, está inserida a liberdade de professar uma religião e o verdadeiro fiel deve seguir a liturgia do seu credo; se não acreditar nele ou se não viver de acordo, melhor será que mude de religião ou abandone qualquer uma delas.
Mas o ato de colocar um outdoor, como fez uma igreja de Ribeirão Preto (SP), não é mera manifestação dessa liberdade. Afinal, ela deixa de ser uma expressão interna ao templo, destinada tão somente àqueles que procuraram por ele, para se tornar um ato que atinge toda a coletividade de forma indistinta. A questão assim se complica.
Pessoalmente, sempre fui avesso àqueles cultos em via pública, que evangélicos adoram fazer. Independentemente dos valores religiosos, sou contra porque é um incômodo, pelo barulho e pela ocupação da via pública. Mas se o ato for realizado sem obstruir a passagem (na garagem de uma casa, p. ex.) e em volume de som moderado, reconheço que não restam argumentos capazes de impedir a manifestação. Aplicando raciocínio análogo, não vejo nenhuma apologia à discriminação sexual nesse outdoor. Ela decerto existe, mas não é explícita, porque se limita a transcrever trechos da Bíblia. Está certo que há um grande desvalor ("coisa abominável") e uma conclamação a mudança de atitude ("arrependam-se"). No entanto, esses são chamamentos a decisões individuais. Em nenhum momento se sugere às pessoas que tomem a iniciativa de fazer isto ou aquilo com os homossexuais. Posso estar sendo simplista, mas é por isso que recuso a ideia de apologia.
O comportamento do grupo religioso em tela é reprovável no plano ético, notadamente porque a questão homossexual anda na ordem do dia há muito tempo, sendo explorado pela mídia em várias frentes, com grande estardalhaço. Ela tem sido repercutida também nos parlamentos, o que demonstra que mexer num vulcão ativo pode ter consequências maiores do que a simples opinião externada.
Em suma, oponho-me à atitude dos evangélicos de Ribeirão Preto, por razões éticas. Mas não me convenço de que haja medidas legais que possam impedi-los de manter o outdoor em apreço, a menos que o conteúdo seja modificado para expressões mais agressivas, demeritórias dos gays e, principalmente, exigindo posturas não pecadoras da sociedade em geral.
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