Já que resolvi chutar o balde e combater as bobagens que se repetem a todo momento, ataco agora a tosca concepção que o paraense tem acerca das estações do ano.
O Brasil se situa no hemisfério sul. Por isso, quando o ano começa, estamos em pleno verão, iniciado no dia 21 de dezembro. Em 21 de março, passamos ao outono. Em 21 de junho, começa oficialmente o inverno e, finalmente, em 23 de setembro, temos a bela primavera. Mas isso, naturalmente, apenas em latitudes mais altas, que correspondem às regiões de clima mais próximo ao temperado. É por isso que, no réveillon, as praias catarinenses estão abarrotadas de turistas e, em julho, come-se fondue na serra gaúcha e em Campos do Jordão, enquanto neva em Urubici e São Joaquim (SC).
À medida que nos aproximamos da linha do Equador, a incidência mais direta dos raios solares torna o clima mais indistinto, quente e chuvoso o ano inteiro. Na região amazônica, onde estamos, a sucursal do inferno está em plena atividade de janeiro a janeiro, com muita chuva. Temperaturas causticantes com uma impressionante umidade relativa do ar. Por estas bandas, o máximo de diferenciação climática que temos é o período de mais chuvas (de dezembro a março, em média, variando conforme as contingências globais, tais como o El Niño) e o de menos chuva, como o insuportável segundo semestre.
O Zé Povinho, porém, entendeu que se tem sol, é verão; se chove, é inverno. Daí que toda hora escuto alguém dizer que "este inverno está terrível", pois as chuvas mandam Belém para o fundo. Inverno que na verdade é um baita verão, ao menos sob uma perspectiva macroclimática. Contudo, duro mesmo é aguentar o tal "verão" no mês de julho, quando é, sabidamente, inverno.
Como, ainda por cima, é o mês de férias, e férias rimam com verão, ficou instituído que julho é verão e ponto final. Só falto morrer quando, todos os anos religiosamente, toda a imprensa solta pérolas do tipo "conheça a programação do primeiro final de semana do verão", "não desperdice o último domingo do verão". Ou seja, além de terem inventado que julho é verão, ainda por cima definiram que o verão dura apenas o exato número de dias de julho.
O que é necessário para as pessoas acreditarem que, em julho, estamos no inverno? Será preciso nevar? Será que as pessoas não podem curtir uma praiazinha, felizes, num inverno ensolarado? Quem manda viver no hemisfério sul?
Isso é coisa de brazuca que passou a vida inteira vendo enlatados americanos e mede as estações do ano de acordo com padrões estadunidenses ou europeus. Enquanto isso, a boa informação se vai pelos bueiros entupidos de Belém, levada pela força das chuvas deste nosso verão.
Um comentário:
Mas que, por aquí, faz mais frio no verão e fica mais quente no inverno , isto é! faz e fica!
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