Não costumo sair felicitando ninguém apenas por ser mulher e, justamente por isso, todos os anos sou cobrado. Então, antes que me cobrem aqui no blog, faço minha saudação — que é honesta, sim —, mas o faço do meu jeito, roubando versos que eu escutava há pouco, no caminho do trabalho, de um queridinho da mulherada: Chico Buarque.
Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente
Minha homenagem às mulheres que se lançam ao amor com urgência e necessidade, recomendando-lhes entretanto que não percam a lucidez. Amor e lucidez não são incompossíveis.
Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Meu respeito às mulheres que não receberam de volta o amor que ofereceram. Admito que parcela expressiva dos homens não compreende nem valoriza o amor. Azar o deles. Infelizmente, não são os únicos que sofrem nem os que mais sofrem.
Esperando, parada, pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido, cada dia mais curto
Com seu único velho vestido, cada dia mais curto
Minha solidariedade às gestantes abandonadas. E minha admiração pela capacidade de criarem seus filhos sozinhas. Não sei como conseguem.
Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo
Meu agradecimento às nossas mães, por o serem. Isto não precisa de explicação.
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré
Meu carinho às mulheres que perderam laços a tal ponto que se esqueceram da sensação de serem queridas por alguém, recorrendo às ilusões do mundo para sentirem menos solidão.
Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
Meu profundo desejo de que seus filhos sejam tão importantes para o mundo quanto são para elas, crescendo em inteligência e bondade graças a suas lições, para que não acabem nos subterrâneos do crime, da guerra, da exploração, da doença e outras pestes.
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor
E que Deus as abençoe sempre. Foi Ele que as inventou e sabia o que estava fazendo.
PS — O título da postagem não se resume a uma alusão à maternidade. Mulheres não são importantes apenas porque podem ser mães. Elas também nutrem nossas vidas inteiras como irmãs, avós, tias, primas, amigas, mestras, colegas de trabalho, dentre outras missões, e é nesse sentido que o vocábulo foi empregado.
2 comentários:
Yudice, obrigado, mas somos isso mesmo: mulher, que gera o mundo!
Bonito, inclusive, concordo com a afirmação "Chico, o queridinho das mulheres", eu mesma ouço suas músicas a caminho do Cesupa.
Obrigada pela homenagem...
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