quinta-feira, 3 de julho de 2008

Contra os arroubos

Qualquer que fosse a situação da gravidez de minha esposa, chegado a este momento — nono mês gestacional —, eu procuraria na vertiginosa fonte de informações (boas e más) que é a internet coisas para ler. Após descobrirmos a circular de cordão, na terça-feira passada, meu interesse naturalmente se conduz às páginas que enveredam por essa peculiaridade. Está muito claro, agora, que acabamos em meio a duas opções extremas, relacionadas ao tipo de parto a ser tentado.

Da ultrassonografia para cá, já vi diversas informações sobre que circular de cordão (mesmo mais de uma volta) e cesáreas anteriores, que são as hipóteses mais comuns, não desrecomendam, isoladamente consideradas, o parto normal. Na consulta com o anestesiologista, anteontem (por sinal uma pessoa muito acessível e afável, que nos passou bastante segurança), ele não descartou o parto normal, dizendo que o nosso médico era competente e experiente o necessário para tomar uma decisão.

Temos consulta de pré-natal mais tarde. Neste momento, a posição de Polyana é: se o cordão não desenrolar, não quer nem tentar o parto normal. Como homem, marido e pai (não necessariamente nessa ordem), sinto que não é meu direito pressioná-la. Claro que a prioridade zero é a vida e segurança de nossa filha (Polyana diria o mesmo), mas também há a vida e a segurança da mãe em jogo. Se ela optar pela cesárea, tem desde logo a minha compreensão e o meu apoio.

Apesar de não ter lido tanto assim — e mesmo correndo o risco de ser desmerecido, por ser homem e não poder entender a complexidade dos fenômenos gravidez e parto (opinião corrente das mulheres em geral) —, já me cansei desses relatos de mulheres que vão às últimas consequências pelo sonho ou pelo ideal do parto normal. Não me passou despercebido não ter encontrado nenhum relato de experiência malsucedida. Todos os que vi são positivos, como o que acabei de ler: a mulher decidiu fazer um VBAC (vaginal birth after cesarean), lutou contra a família e a médica para obtê-lo, passou um dia inteiro em trabalho de parto, sofrendo dores e angústias, pediu analgesia mínima quando não suportava mais (e se culpou por isso), para enfim dar à luz, sem episiotomia, um bebê de 4,4 quilos e 53,5 centímetros! Isso é demais para a minha cabeça.

Posso até respeitar, mas não compreender, muito menos endossar esse idealismo desenfreado, que até se divorcia da realidade. Sempre serei defensor do parto normal. Mas quero que mães e bebês tenham tanta serenidade quanto possível, para enfrentar o momento dramático do nascimento e iniciar uma nova etapa, com saúde e paz.

4 comentários:

Hellen Rêgo disse...

Yudice tenho acompanhado todos os seus posts sobre a vinda de sua filhinha, assim como acompanhei toda a gravidez da minha prima-irma que deu a luz ao Gustavo ha 20 dias.
Sei que embora seja muito melhor o parto normal, certamente a decisao a ser tomada tem que ser a melhor para mae e filho.
O Gustavo, por exemplo, teve que nascer antes da hora por conta da pressao mt elevada da mae, e após alguns dias em casa, infelizmente voltou a uti neo-natal da Santa- Casa (que ao contrario do que a impressa ta fazendo o favor de divulgar, tem sido muito bem tratado).
Tenho certeza que ocorrerá tudo bem para vcs, e que a Julia virá ao mundo com muita saúde. Abraços para vcs.

Yúdice Andrade disse...

Hellen, agradeço pelo permanente carinho. Suas palavras também me reconfortam. Aliás, não entenda por "reconfortam" que estamos tensos ou coisa do gênero. Nada disso. Estamos também muito confiantes de que, seja qual for o desfecho da gestação, nossa Júlia chegará saudável, pronta para uma vida feliz.
Boa sorte para o Gustavo e um forte abraço para toda a família.

Anônimo disse...

Quem quer ser mãe tem que sofrer na terra e no paraíso. Quem mandou foder. Afora, aguenta o tranco.
Vai pelo parto normal mesmo, cara, a melhor opção, natural, que até os caboclos e índios praticam.
Cordão enrolado no pescoço do bebê é fichinha. Tem coisa muito pior.
Que a N.S. do Bom Parto vos proteja. Amém!

Yúdice Andrade disse...

"Tem que sofrer na terra e no paraíso" - Isso é coisa da velha mentalidade judaico-cristã, que exige a moritificação do indivíduo como condição para o seu crescimento espiritual. Eu não dou esse valor todo ao sofrimento.

"Quem mandou foder" - Além da finesse, reduz a níveis mínimos inacreditáveis a decisão de ter um filho. Gostaria de lembrar que nossa gestação não foi um acidente: ela foi planejada e esse planejamento não surge com o sexo como premissa.

"Agora aguenta (sic) o tranco" - Viu? Totalmente judaico-cristão. Se fez alguma coisa contrária aos objetivos de mortificação do corpo, deve sofrer. Graças a Deus, não acredito nisso.

Quanto à sugestão pelo parto normal, concordamos. A decisão será tomada de acordo com critérios médicos, nos quais confiamos, no momento oportuno.

Quanto à proteção de N. Sra. do Bom Parto, amém!!! Aqui, estamos finalmente de pleno acordo! Obrigado.