segunda-feira, 28 de julho de 2008

Licencinha de nada

Para um pai que não presta para nada — no máximo, tirar algumas fotos e bater no peito dizendo que foi fértil a ponto de produzir descendência —, qualquer meia hora é demais. Todavia, para um pai que deseja fazer a diferença na existência, nos cuidados e na educação de seus filhos, a atual licença-paternidade é um acinte.

A Constituição de 1988 a prevê como um dos direitos sociais no inciso XIX do art. 6º, instituindo uma das famigeradas normas programáticas ("nos termos fixados em lei"). Adiante, no art. 10, § 1º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, dispõe que até a vigência de lei específica, a licença durará 5 dias. Só isso. No silêncio da Constituição, sempre se entendeu que eram 5 dias corridos, contados do dia seguinte ao parto, ou do dia do parto, se neste o trabalhador já se ausentasse do serviço.

Graças a esse direitinho mixuruca, os banhos de sol matinais com minha filha duraram apenas dois dias. Sendo bastante realista, não adianta sonhar com uma ampliação considerável da licença — até porque a grande verdade é que a esmagadora maioria dos pais usaria esse tempo para seus interesses pessoais, para coçar o saco ou cair na sacanagem. Reconheço que é um anseio insuscetível de ser levado a sério. Assim, penso que seria razoável ampliar a licença para 7 dias de efetivo expediente do trabalhador. Do jeito que as coisas são hoje, a superveniência do final de semana faz com que poucos trabalhadores realmente gozem 5 dias. Para tanto, é preciso que a licença comece a ser contada na segunda-feira ou na terça, especificamente para quem trabalha no sábado.

O fato é que a sociedade, de um modo geral, ainda não compreende nem valoriza o papel do pai na criação dos filhos. Fala-se disso nas publicações especializadas, nos grupos de discussão específicos e as mulheres dizem querer homens assim. Mas, na prática, a teoria é diferente. Quando anunciei que pretendia ser o acompanhante de minha esposa operada, na maternidade, só ela mesma me levou a sério e insistiu para que eu ficasse as duas noites. O restante do mundo bem que tentou dar muitas explicações para me convencer a desistir, mas no fundo o motivo era um só: duvidavam que eu fosse capaz.

Eu e minha sogra cuidamos de Polyana e de Júlia durante sua estada na maternidade. Ambos cuidamos das duas, embora eu estivesse ali mais por causa da Polyana (para ajudá-la a movimentar-se, devido à dificuldade de locomoção no pós-operatório) e minha sogra pelo bebê. Para mim, a coisa era muito simples: não fazia o menor sentido a minha filha nascer e eu ir para casa sozinho.

Enfim, amanhã volto ao batente. O Brasil ainda precisa evoluir muito para que os discursos a respeito da nova família dos tempos da globalização passem a ter lógica na cabecinha das pessoas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pô, mas assim já é demais, fessô. Não vale o homem querer se equiparar a mulher. Afinal de contas, quem é que fica prenha? Quem é que tem as dores do parto? Quem é que amamenta? O homem é simples merda diante da maternidade. A licencinha tá de bom tamanho. Não tem que reclamar. Aguenta o tranco, cara. E volta logo ao trabalho ou pede demissão.

Yúdice Andrade disse...

Viram o que falei, senhoras e senhores? O comentário acima confirma o que asseverei: o povo não entende o cerne da discussão. Precisamos evoluir. E já.

Polyana disse...

Duvido que o anônimo tenha filhos. Se é uma anônima então... não tem a menor idéia do que está falando.