Fossem as coisas como deveriam ser, Belém teria uma belíssima orla, organizada e cheia de equipamentos públicos, respeitada a acessibilidade dos portadores de necessidades especiais de locomoção, desde a Universidade Federal do Pará até Icoaraci. Não haveria instituições militares, empresas pilantras e portos clandestinos impedindo o acesso à Baía do Guajará e ao Rio Guamá. Espaços como o Mangal das Garças, a Estação das Docas e o Ver-o-Rio teriam sido concebidos como integrados à orla e não como janelas para o rio, nomenclatura que, por si só, revela a indevida ocupação do território, fechando os nossos olhos para a linda visão da água.
Espremidos que fomos nas tais janelas, tentamos usufruir delas da melhor forma possível. Ontem, no final da tarde, o Ver-o-Rio e a Estação das Docas estavam bastante movimentados (foram esses dois lugares que vi pessoalmente). Quem se permitiu caminhar por ali, foi brindado com um vento simplesmente maravilhoso. Apesar de que o sol declinou rapidamente, prenunciando a chuva que, de fato, caiu no começo da noite, foi possível aproveitar uma horinha deliciosa.
Para quem fica numa cidade quase desprovida do que fazer (quase nenhuma opção cultural*, museus fechados no final de semana (!!!), insegurança para passeios ao ar livre em ambientes abertos, etc.), é preciso saber como encontrar satisfação nas pequenas coisas, como o por-do-sol, a brisa, a caminhada de mãos dadas com quem se ama e, se possível, um sorvetinho da Cairu para arrematar, combatendo o calor.
* Procure os bons espetáculos teatrais.
3 comentários:
Ontem fomos à feira de cultura regional do São José Liberto e nos deparamos com uma entrada sem rampa de acesso. Nunca prestamos atenção nisso, mas como agora precisamos por causa do carrinho do bebê, de vez em quando encontramos essa dificuldade. Existe rampa apenas da rua para a calçada, mas estava bloqueada por um carro estacionado bem na frente.
O problema que percebeste melhor por causa do carrinho de bebê, caro amigo, eu já percebera por andar com uma tia velhinha e com meu irmão operado. Belém é extremamente cruel com qualquer pessoa que tenha alguma limitação. Sorte daqueles cuja limitação é passageira, como os contundidos do esporte.
Um segundo problema que o teu comentário também revela é a crônica e igualmente cruel falta de educação do belenense. Indiferença e menosprezo pelo semelhante. Rampa bloqueada por um carro estacionado?
Por princípio, sou civilizado (será esse o termo?) demais para pegar um objeto metálico e fazer uns rabiscos na lataria de um carro desses. Mas se flagrar alguém fazendo, especificamente por um motivos desses, faço de conta que não sei de nada.
O prefeito fica alardeando aos quatro ventos que está melhorando as calçadas com o projeto das calçadas cidadãs, uma iniciativa muito boa, mas incompleta. Se você for observar, elas só estão sendo colocadas em ruas que já têm alguma condição de recebê-las, ou seja, que já são razoavelmente planas. Observei isso enquanto caminhava pela J. Malcher (que tem a calçada cidadã em alguns perímetros) e, ao chegar na esquina da 9 de Janeiro, percebi que a calçada cidadã termina (convenientemente) justamente onde começa a profusão de "pedaços de calçada": aquelas calçadas que cada um constrói na frente da sua casa, com uma altura diferente, inclinação diferente, e degraus absurdos para que se possa transitar (será?). Tentem andar na 9 de janeiro, no perímetro entre a Mag. Barata e a J. Malcher pra ver só!
Longe de mim afirmar que as calçadas cidadãs não são necessárias nas calçadas que já são planas. São sim. Mas nessas, uma pessoa consegue transitar. O que precisava mesmo (mas isso custa muito dinheiro e indisposições com os eleitores que moram naquelas ruas) era TORNAR planas as calçadas como as que descrevi, para colocar nelas as calçadas cidadãs. Isso sim sairia caro, mas melhoraria bastante a condição de cadeirantes, pessoas cegas, idosas, grávidas (e carrinhos de bebê) que não conseguem atualmente passar por lá.
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