domingo, 28 de agosto de 2011

Jeitinho de educar

Todo pai ou mãe de criança pensa no dia em que seus filhos se tornarão adolescentes e começarão com aquelas atitudes aversivas absurdas, as variações agressivas de humor, as tentativas de chamar a atenção sempre pelos meios mais estúpidos, a rejeição à família, a vergonha de tudo, etc. Nem todos lidam bem com isso (eu, p. ex., nem vejo como). Afinal, sempre desprezei esse argumento de hormônios, já que somos seres sociais, não meros joguetes da química!

Tenho um amigo, cujo filho acabou de completar 5 anos, que diz que se um dia o menino começar a manifestar vergonha dos pais e lhes rejeitar a presença, ele, só de sacanagem, vai se despedir (na escola, p. ex.), com um beijo e uma passada de mão na bunda. Sempre achei uma promessa justa.

Noiva: uma das 170 fantasias.
Mas hoje o Fantástico me apresentou a um cara que, nesse quesito, se tornou meu ídolo instantâneo.

O cidadão é americano e se chama Dale Price. Ao ser instado pelo filho a não o levar ao ônibus escolar,  teve contra si declarada "guerra". Uma guerra bem humorada, que envolveu levá-lo ao ônibus todos os dias com uma fantasia diferente, inclusive algumas meio escandalosas. O mais divertido é que ele teve o apoio dos vizinhos para nunca repetir uma caracterização. Vai ver que todos lavaram a alma juntos, em alguma medida.

Difícil encontrar outra pessoa que fosse tão longe sem perder a compostura (dar uns catiripapos no moleque ainda seria uma solução mais simples, porém decerto menos eficiente). No meu caso, que sou pai de menina, sequer posso seguir a sugestão do meu amigo, pois um sujeito que passasse a mão na bunda da filha adolescente acabaria na cadeia, além de desmoralizado na grande rede.

Como não me imagino imitando Dale Price, é bom que Júlia assimile meus ensinamentos ao longo da infância. Vergonha da família é comum, mas não admissível. E eu nunca fui lá o melhor modelo de tolerância. Logo, melhor levar as coisas com bom humor.

Texto atualizado em 16.3.2020.

6 comentários:

Juliana Santos disse...

Nossa!O que é que os filhos não pedem chorando que os pais não fazem sorrindo?

Yúdice Andrade disse...

Neste caso, Juliana, gargalhando. Sorte do moleque que ele acabou tomando gosto pela coisa. Acho que ele aprendeu algo com a experiência. Melhorou como pessoa. Se continuasse com medinho do ridículo, seria somente mais um moleque ridículo.

Anônimo disse...

poxa yúdice.nisso não concordei.achei que tu generalizaste todos os tipos de vergonhas de todos os adolescentes.a impressão que tenho ,é que pensas em "vergonha de adolescente" como sinônimo de "frescurinha de aborrescente".óbvio que eu não entendo certas vegonhas que presenciei na minha adolesc~encia,como vergonha dos pais serem pobres ou outras parecidas e que considero bastante estúpidas.mas há de se convir que hormônios mudando não são desculpa,são um fato.adolescência é momento de transição e qualquer momento de transição é um problema.a pessoa fica sem saber como vai agir,o que esperar,é necessário uma adaptação que não é fácil(se é que alguma adaptação é realmente fácil.pior ainda é saber que a pessoa não é adulto e nem criança.não é dona do próprio nariz pra várias coisas,mas também não é criancinha pra outras tantas.alguns pais simplesmente imsistem ou não conseguem ver isso e teimam em tratar filhos de 14 anos como se tivessem 6,e ainda acham o fim do mundo quando os mesmos se sentem injuriados.é uma nova fase(a pior ,eu diria)uma personalidade se moldando,e alguns pais precisam aceitar isso.(mas atenção!eu não disse aceitar tuoda e qualquer besteira que adolescentes fazem.e geralmente são muitas)aceitação não exclui boa educação. e nisso os pais tem papel fundamental.como mulher que sou,só posso desejar que mudes,pelo menos um pouco,tua visão.lidar com menstruação chegando,seios crescendo,espinhas surgindo,homens desconhecidos dizendo gracinhas no meio da rua,não fazem da adolescência a fase menos constrangedora pela qual o ser-humano passa.achei uma tristeza o comentário do amigo de passar a mão na bunda e dar beijo aonde quer que seja.ele poderia arrumar uma maneira bem mais educativa de dizer ao filho que não devemos nos importar tanto com o que os outros pensam ou falam sem fazer o filho sentir mais vergonha ainda dele e junto com isso provavelmente conseguir mais alguma raiva adolescente direcionada a ele próprio.

Yúdice Andrade disse...

Da meia noite, não quis generalizar sobre "tipos de vergonhas", apenas dizer que esses discursos são recorrentes entre os adolescentes. Mas devo dizer que não consegui compreender o teu ponto. Se puderes me esclarecer, tentarei elaborar um outro ponto de vista.
No mais, nunca podemos esquecer os pais malucos. Com efeito, muitos têm atitude tão absurdas que justificam qualquer vergonha ou desespero de seus filhos. É por isso que eu e minha esposa defendemos o teste psicotécnico como pré-requisito para quem deseje ter um filho.

Anônimo disse...

só queis dizer ,yúdice,que a adolescência é um momento de transição que exige adaptação e por isso,causa inúmeros desconfortos e constrangimentos,e alguns,são simplesmente inevitáveis.é necessário um pouco de sensibilidade por parte dos pais pra conseguir ajudar o filho a deixar pra trás essas dificuldades,sem usar de métodos que só aumentem os referidos constrangimentos.é isso.tentei simplificar ao máximo meu ponto de vista.gostei da ideia do teste psicotécnico.

Yúdice Andrade disse...

Quanto a isso estamos de acordo: realmente, precisamos compreender a fase que é a adolescência e ter paciência. Faz parte do pacote da p(m)aternidade. Existe, sem dúvida, um limite que é determinado pelos hormônios, pela inexperiência, pela insegurança, além de que todos nós fazemos bobagens. Mas nós podemos, penso, apelar às vezes.
Quando digo "apelar", refiro-me a métodos heterodoxos, como este, que no final das contas o adolescente alvo assimilou. Deixou de ser um constrangimento e hoje, provavelmente, ele é um garoto popular (o que para um americano é quase questão de vida ou morte).
Para mim, a ênfase deve ser a boa fé. O pai desse menino não quis humilhá-lo, segundo entendo. E ninguém melhor do que ele para saber o que o garoto estava precisando ou poderia suportar. No fim, deu certo.