sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma questão de nível

Eu adoro analisar o que há por trás das atitudes aparentes, a linguagem não escrita, as mensagens sub-liminares, os exercícios retóricos, etc.
Deparei-me, há pouco, no próprio Portal ORM, com a comparação entre as capas de seus dois jornais, edição de hoje:



Para a classe média, a polidez de "Casal que esquertejou jovem em motel é preso". Para a bagaceira, "Carniceira está presa". No primeiro caso, letras da cor do banner sob o mesmo fundo da página. No segundo, fundo preto com letras em caixa alta, hoje interpretado como representativo de um grito. O objetivo é que se veja de longe a manchete dramática.
No mais, observe como a classe média lê um jornal bem mais preciso: a manchete informa que são dois os presos e localiza o crime, para melhor situar algum leitor esquecido. Já o popularesco reduz a informação para dar espaço aos aspectos emocionais.
É impressionante como o nível da informação despenca por uma diferença de apenas um real.

8 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Legal é ler "A carniceira está presa", com uma carne e tanto do lado. E bem crua. Que tesão ninfo...

Antonio Graim Neto disse...

Lembrei daquela frase: "quem manda é o freguês!". Fiquei pensando...será que o produto se adéqua ao consumidor ou o consumidor é que é (de)formado pelo produto...
Outra curiosidade é o valor do jornal. Quer dizer, apesar de se apresentar em um formato diferente, a informação substancialmente é a mesma...então por que será que o leitor de O Liberal paga mais caro?
Coisas que até entram na minha cabeça, mas que não conseguem se aquietar...

Yúdice Andrade disse...

É outra caractérística do bom jornalismo, Fred: exposição de nudez.

Antônio, o "Amazônia" é um produto relativamente recente. Sem dúvida que foi concebido para permitir a penetração do grupo jornalístico em setores antes não explorados. Mas isso poderia ser resolvido simplesmente pelo preço do jornal. Jogar o conteúdo e o estilo ribanceira abaixo não era uma necessidade, com certeza, mas demonstra a concepção que o grupo tem acerca do público.
Em suma, o público é mesmo tão tacanho ou é a imprensa que deseja fazê-lo ou mantê-lo assim?

Liandro Faro disse...

Bem colocado meu amigo...!

Sandro disse...

Meu amigo, não pude deixar de lembrar-me desse post quando anteontem, ao voltar do Rio de janeiro, defrontei-me com um tablóide na banca de revista que estampava a seguinte manchete: "Atriz pornô leva ferro em Mato Grosso" (!!!).

Mesmo dentro da linha "mau gosto", não deixa de ser genial a associação...Piada de humor negro bem ao estilo inglês.

Nossos tablóides ainda são tímidos comparados a isso, não achas?

Yúdice Andrade disse...

Andas sumido, Liandro.

Gosto muito de humor negro, Sandro. Confesso que a acidez de minhas críticas cede um pouco diante desse tipo de mordacidade.
No mais, devo admitir (e agradecer) que os nossos jornalecos não descem tão baixo quanto poderiam. Pena é pensar que é só por falta de talento, não por falta de vontade...

Anônimo disse...

só tre peço uma coisa ,yídice:se possível,nunca deixe este blog de lado,certo?tu alegras o meu dia,me informa e me faz pensar em tantas coisas da vida...tudo ao mesmo tempo.e tenho certeza de que o blog não produz esse efeito somente em mim,mas também com vários outros leitores.não nos deixe órfãos como às vezes parece que ameaças fazer.

Yúdice Andrade disse...

Obrigado, das 23h52, por toda essa gentileza. Pode ficar tranquilo(a), que ainda tenho vontade de manter o blog por muito tempo. E nunca foi minha intenção sugerir abandoná-lo. Não que eu me lembre, pelo menos.