sábado, 28 de julho de 2007

Homens e livros

Monteiro Lobato certa vez disse que um país se faz com homens e livros. Claro, ele era escritor e metido em política. Seus conterrâneos, contudo, não lhe deram muito crédito. O Brasil jamais foi um país de leitores. Quando adolescente, li uma notícia de jornal sobre o hábito da leitura, informando que os argentinos liam, em média, quatro livros por mês. Senti vergonha dos 25 romances que lera no ano anterior (naquela época, eu anotava os nomes dos livros que lia e as datas de começo e fim da degustação; sempre tive essas manias).
De todo modo, eu dei sorte. Até os anos 90, existiu o Clube do Livro e duas pessoas de minha família eram sócias. Recebíamos o catálogo mensal, escolhíamos os títulos de nosso interesse e recebíamos a mercadoria nos correios, pagando lá mesmo as despesas. Uma delícia. Como o Clube tinha autorização das editoras para reproduzir as obras, encontrávamos ali o que não se achava em livraria alguma. Foi graças a ele que li e me apaixonei por O diário de Anne Frank (o primeiro livro que encheu meus olhos de lágrimas) e penetrei no universo de Edgar Allan Poe, H. G. Wells, H. P. Lovecraft e Ray Bradbury. Confesso que lia pouco autores brasileiros, assim como escutava pouco música brasileira. Minha redenção a respeito da arte autóctone aconteceu anos mais tarde. Mas aconteceu!
O Clube do Livro não existe mais. Ignoro o seu destino. Mas veio a Internet e, hoje, compra-se através dela de agulha a avião. Armas de fogo e bombas, também. Fico feliz porque, agora, posso encontrar aquele livro de que ouvi falar anos atrás e sequer sei o nome do autor. Com as palavras certas em sítios de busca, os Googles da vida, fico sabendo todos os dados da obra e posso encontrá-la para aquisição, até fora do país, se preciso. Esse é um lado da tecnologia que me enche de satisfação.
Entretanto, essas facilidades todas não comovem os brasileiros. Este país se faz com bolas de futebol, música ruim e artigos relacionados a sexo. Entendam o que pretendo dizer: o brasileiro médio não perde tempo lendo porque precisa acompanhar, pela TV ou radinho, as últimas do campeonato, qualquer que seja; a música ruim vende muito, muito mais do que os inúmeros artistas de valor que possuímos; e sexo será sempre um chamariz, tanto que me isento de críticas.
Muitos alunos se queixam do preço dos livros. Realmente, o Brasil vende livros por preços que, a par de cínicos e extorsivos, são irreais. Concordo, repito e assino embaixo. Mas uma coisa é o sujeito que não dispõe de recursos para comprá-los. Outra, bem diferente, é o camarada que paga 30 reais para entrar numa boate e que sai quase todos os finais de semana e, depois, reclama do preço dos livros. Aí o problema não é de dinheiro, mas de prioridade. Ou, por outra, é sim um problema de valores: de valores invertidos.
Antes que me torne muito chato dando lições de moral, que nem é a minha intenção (pois aprendi com Maria Clara Machado, autora de teatro infantil, que crianças detestam lições de moral), paro aqui. Tenho um romance de autora brasileira para terminar. Depois conto como foi.

Um comentário:

Anônimo disse...

Apoiado, Yúdice. Ainda abaladíssimo pela ida de Lauande.
Abs