segunda-feira, 30 de julho de 2007

O mito do turismo no Pará — 2ª parte

Nos últimos anos, alguns Municípios lançaram mão de campanhas publicitárias tentando atrair os visitantes de julho. O que mais vi na TV, desta vez, foi o filme de São João de Pirabas. Tenta-se destacar as praias, cachoeiras, trilhas ecológicas, festivais culturais ou gastronômicos e tudo mais que possa ser atrativo.
Opções não faltam e, se realmente maior público procurasse esses Municípios, Mosqueiro e Salinas respirariam melhor, além de que a riqueza circularia por outras regiões. É isso que devemos compreender como uma indústria de turismo, certo?
Mas se você dispõe de recursos para consumir nas férias, qual sua opção? Conhecer as pinturas rupestres de Monte Alegre ou as cachoeiras de Brasil Novo? Duvido. Você dará uma esticadinha ao Nordeste, enchendo os bolsos dos comerciantes de Fortaleza. Aproveitará a proximidade entre as capitais nordestinas. Ou, se preferir o frio, descerá ao sul do país, como eu faria. E sabe por quê?
Porque ninguém tira férias para ter trabalho. Se você viaja, quer ter à disposição locadoras de automóveis, hoteis limpos e confiáveis, serviços de atendimento turístico, opções de compra, internet de banda larga para as horas de descanso — enfim, as pessoas querem agito na hora do agito, mas querem a mesma comodidade que têm em suas casa na hora do sossego. E é aí que o Pará deixa a dever. Por maior que seja a boa vontade de nossos irmãos do interior, quem enfrentará uma viagem longa em estradas péssimas para, chegando ao destino, ficar num hotelzinho meia boca, com comida suspeita e sem acesso a nada, nem sequer um hospitalzinho em caso de necessidade? Quem pagará uma nota para uma viagem de avião a fim de acabar nas mesmas condições?
Os responsáveis pelo turismo precisam lembrar-se de que os jovens, audaciosos e aventureiros, que botam uma mochila nas costas e topam qualquer parada, dividindo quartinhos em Ajuruteua ou Algodoal, correspondem à menor fração dos turistas. O maior volume de recursos vêm das famílias ou de pessoas que, justamente por possuírem melhores condições financeiras, não costumam dispor-se a abrir mão do conforto.
Em suma, o governo precisa investir em vários pontos turísticos estratégicos. Quem sabe criando polos em Municípios específicos, que possam recepcionar os turistas e distribuí-los para os centros menores. Mas, em todos eles, o turista precisa sentir que não está desamparado. Esquecer que existe civilização é uma opção. E de poucos. A esmagadora maioria pode até querer esquecer, desde que tenha acesso a ela na hora que desejar.
Enquanto as autoridades não compreenderem isso, dá-lhe Mosqueiro e Salinas. Nossas outras belezas ficarão por aí e nem saberemos de sua existência.

2 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Amigo Yúdice,
conseguiste resumir tudo o que seria preciso para alavancar o turismo em nosso estado. Ademais, qual é o empresário do setor que vai querer investir em lugares sem infra-estrutura?

Yúdice Andrade disse...

Mas quando, Fred, eu só disse um pedacinho. Enquanto escrevia, pensei em outras coisas, mas quis evitar digressões. Acho que fiz uma síntese útil. Agora cabe aos responsáveis pelo setor tomar alguma atitude.