O mês de julho, em Belém, desencadeia uma força atrativa de público em direção aos balneários. Dentre as diversas opções, duas são evidentemente as maiores referências: Mosqueiro e Salinas.
A ilha de Mosqueiro foi descoberta pelo grande público primeiro, tem mais praias, é mais perto e se notabilizou por um certo romantismo expresso pelo epíteto “Bucólica”, que lhe foi cunhado e que hoje não condiz exatamente com a azáfama julina, que envolve trios elétricos, micaretas e automóveis convertidos em aparelhagens. O Município de Salinópolis apresenta o fascínio das praias de mar e se tornou o destino natural da população mais endinheirada de Belém.
Em comum, ambos os locais apresentam incapacidade de suportar o enorme afluxo humano do mês de julho. É nesse momento que se desmascaram os discursos governamentais acerca de investimentos no turismo. Invariavelmente, os investimentos feitos se referem a obras de maquiagem, onde as pessoas possam tirar fotografias. Todavia, o que realmente precisam esses locais é infraestrutura, p. ex.: boas condições de acesso e malha rodoviária interna eficiente; transporte público seguro e suficiente; água encanada, em quantidade que suporte a explosão repentina de usuários; rede de esgoto suficiente, evitando poluição ambiental; iluminação pública; abastecimento de gêneros alimentícios; policiamento ostensivo, inclusive para coibir poluição sonora e venda de produtos pirateados, bem como atendimento idôneo em delegacias, hospitais e demais serviços públicos; fiscalização rigorosa de trânsito.
Reflita e me responda: afinal, nossos points de veraneio oferecem esses elementos? Diga-se, ainda mais, que tal infraestrutura não pode ser concedida somente aos visitantes de Belém, e sim para toda a cidade. Aliás, a prioridade nos investimentos deveria ser para quem mora no local e acaba, de certa forma, prejudicado com a invasão dos forasteiros.
4 comentários:
Ainda que tivesse infra-estrutura, a educação de nosso povo daria um jeito de anular.
Esse fator também é um gigantesco problema. Ao contrário do que se apregoa por aí, por bairrismo, o paraense não recebe bem. Nem sempre é por mal, mas por falta de jeito, mesmo. Ocorre que turistas endinheirados não estão dispostos a ser atendidos por neófitos; querem experiência e eficiência. E aí entramos num círculo vicioso que poderia ser quebrado se houvesse treinamento adequado aos profissionais de bares, restaurantes, hospedarias, etc. Mas aí passamos a depender do governo de novo.
O problema do turismo no Pará, é que as políticas públicas voltadas para o turismo preocupam-se exclusivamente com a imagem da cidade a ser vendida, esquecendo-se que o turismo não é só paisagem e sim composto por diversos elementos dentre eles a cultura e a população local. Infelizmente o que se vende é apenas o turismo contemplativo, onde a população local não se beneficia do suposto "desenvolvimento" econômico gerado pelo turismo tão propagado pelo Estado.
Deiliany, a intenção da postagem era, realmente, mostrar que o Estado pensa que turismo é isso: ter a paisagem natural ou o espaço construído e só. Mas o teu comentário foi enriquecedor pela alusão à idéia de turismo contemplativo e por acrescentar um elemento aos problemas que relacionei: o menosprezo ao fator humano local.
Parabéns pelas idéias muito lúcidas e obrigado por compartilhá-las comigo, ainda mais em se tratando de uma postagem de mais de um ano atrás. Abraço.
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