quinta-feira, 26 de julho de 2007

Sextas-feiras paraenses

Não sei em que calo Ana Júlia pisou na emissora de Silvio Santos, mas não é de hoje que ela sofre umas vergastadas de lá. Esta madrugada, p. ex., quase uma da manhã, o simpático Carlos Nascimento apresentava o Jornal do SBT e dedicou uns minutinhos para falar do decreto governamental facultando o expediente às sextas-feiras do mês de julho, nas repartições públicas estaduais. Pessoas foram entrevistadas para demonstrar inconformismo com a ausência de serviços necessários. Não bastasse a matéria, ao final o apresentador fez uma crítica, destacando que a medida não seria má se não fosse custeada pelo contribuinte e se valesse para todos os trabalhadores.
A assessoria de comunicação da governadora, citada nominalmente na reportagem, e que teve seu nome exibido na tela, quando foi exibido o decreto publicado no Diário Oficial, limitou-se a dizer que a decisão oficializava uma prática já consagrada no Estado, por ocasião das férias de julho. A reportagem tinha uma clara intenção de atingir Ana Júlia, tanto que sugere um governo reincidente em medidas polêmicas, mencionando o caso da dispendiosa reforma da casa alugada para servir de residência à governadora.
Mais uma vez, acredito que o governo fez por merecer a crítica. Pessoalmente, não acho que as sextas-feiras devessem ser facultadas. Bem a propósito, esse é mais um eufemismo, pois "facultado" significa que existe opção mas, nesse contexto, significa "liberado" (ou "desista, não trabalharemos de jeito nenhum"). Também sou contra esses enforcamentos por conta de feriados às quintas ou terças. E falo também como trabalhador. Como professor, muitas vezes sou prejudicado em minhas atividades pelo excesso de liberações, que me impedem de dar regularidade a um trabalho que exige concentração. Mas o brasileiro é permissivo. Muita gente desaprovará a minha opinião.
Enfim, causa-me estranheza que a matéria do SBT tenha sido exibida na madrugada de 26 de julho, véspera da última sexta-feira a ser "facultada". Se ela tinha alguma intenção nobre, creio que está perdida, pois nada mudará. Não teria sido mais sensato levar o caso ao conhecimento público no início do mês, já que o decreto foi publicado no dia 4?
Mistééééérios de D. Milú.

PS — Por alguma razão, o caso ganhou repercussão agora, já que a Folha também publicou, hoje, notícia a respeito. De quebra, nós, paraenses, ganhamos fama de vagabundos em cadeia nacional.

3 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Já dizendo, preferiria até não me manifestar. Já sabes o que eu penso daquilo que está aí sem ser o que se autoproclama. Faz-me lembrar do filme Cidade Perdida, no qual Fidel e sua troupe pensam que o que é melhor para eles é melhor para o povo; e toda crítica é conspiração, jamais democracia.
Mas, seguindo meu lema sobre a situação de demagogia que se instalou no Pará, "a misericórdia não me é mais afeita". Estamos reféns dessa súcia.

Val-André Mutran  disse...

Estava sonolento demais para registrar, porém, você o fez com a elegância de sempre.

O quê mais teremos de surpresa nestas hostes, caríssimo professor?!

Yúdice Andrade disse...

Penso que nem é o caso de ter misericórdia, amigo Fred. E sim de cobrar, cobrar, cobrar.
Gracias, Val-André, quanto à elegância. Eu tento.