domingo, 15 de julho de 2007

O Caçador de pipas


Terminei de ler O caçador de pipas, de Khaled Hosseini, há uns dois anos na lista dos livros mais vendidos pelo mundo afora. E merece. É uma bela obra que, de saída, proporciona algo que pouco temos e muito precisamos: a possibilidade de conhecer um pouco sobre o mundo fora da Europa e dos Estados Unidos. Ficamos sabendo um pouco sobre o Afeganistão, além do que os noticiários disseram na assim chamada "guerra (dos norteamericanos) contra o terror".
No livro, conhecemos um pouco sobre a cultura afegã: sua religião, costumes, culinária e, principalmente, sobre o sofrimento do povo após a invasão soviética. Ficamos sabendo como eles comemoraram quando os talibãs expulsaram os soviéticos, fazendo-os acreditar que voltariam a ser livres. Mas acabaram se tornando escravos de outros senhores. O livro não aborda, mas sabemos que depois apareceram os americanos, que expulsaram os talibãs e... ninguém está totalmente feliz por lá mesmo assim.
Isso tudo, porém, é pano de fundo, pois o cerne da narrativa gira em torno da figura de Amir, contando sua trajetória da infância à maturidade, numa sequência cronológica bastante linear. Em apertadíssima síntese — pois quem quiser detalhes deve ler o livro —, Amir se ressente de ser pouco amado pelo pai (assim ele acredita) e, no afã de conquistá-lo de uma vez por todas, toma decisões egoístas envolvendo a sofrida figura de Hassan, que vem a ser o caçador de pipas do título. Egoísta e covarde, ele dissemina sofrimento e, uma vida mais tarde, precisa re-encontrar o seu passado e se redimir. O livro fala sobre redenção, um tema que me é bastante simpático.
Confesso que, diante da badalação em torno da obra, criei expectativas e, ao final, acabei um pouco frustrado. As emoções dos personagens são bastante plausíveis, mas a narrativa apresenta alguns elementos que me remeteram às telenovelas brasileiras — vilões perversos que voltam para fazer novas maldades, reviravoltas sobre relações de parentesco, um vilão que dispensa parte de seu poder para um ajuste de contas mano a mano, etc. Alguns pontos me incomodaram, mas pode ser uma impressão estritamente pessoal. Deus me livre agir como um crítico e querer ser o dono da verdade! Se você assiste a novelas, vai amar incondicionalmente.
Acima de tudo, O caçador de pipas nos proporciona visões diferentes do mundo oriental, que quase ignoramos por completo. Somente por isso ele já merece a nossa atenção. Não deixe de ler.

2 comentários:

Anônimo disse...

Professor! Sem dúvidas, um livro maravilhoso! Principalmente por ele abordar maravilhosamente o tema amizade.

Yúdice Andrade disse...

Engraçado, Laila, o foco na amizade é o que mais se ressalta quando se fala nesse livro. Todavia, a minha percepção é diferente da do resto do mundo, pois entendo que essa é a premissa, mas não a essência da obra. Não a encaro como um livro sobre amizade, mas sobre redenção espiritual, digamos assim. Basta ver que a amizade é abordada (lindamente, sem dúvida) no começo. Eu diria que ocupa no máximo um terço do livro porque, mesmo nessa etapa inicial, já avultam as questões de inveja e ciúme de Amir. Por fim, depois da agressão contra Hassan, parece-me que a obra abdica desse tema e passa a tratar do que realmente lhe interessa.
Enfim, são as minhas impressões. Nada disso compromete a qualidade dessa leitura, certo?

PS - Adoro debater livros com as pessoas. Devíamos fazer isso mais vezes.