domingo, 22 de julho de 2007

Venezuela não é Brasil

A nova de Hugo Chávez é ameaçar expulsar do país todos os estrangeiros que "denigram a imagem da Venezuela". A novidade foi anunciada quando o fanfarrão comentava a atitude do presidente da Organização Democrática Cristã da América (ODCA), o mexicano Manuel Espino, que declarou, em coletiva de imprensa realizada em Caracas, que o governo venezuelano é "um exemplo da tendência demagógica, populista e autoritária que atenta contra as liberdades e os direitos fundamentais dos cidadãos".
Eu, que sou bicho, entendo que a crítica, embora contundente, não foi de baixo nível e está nos limites do direito de crítica (liberdade de expressão) assegurado pelas constituições mundo afora, pelo menos dos países que se pretendem democráticos. Claro que sempre é muito complicado criticar questões internas de um país, dentro de seu próprio território. Todavia, não se pode perder de vista que o governo Chávez não é um problema meramente interno. Basta que se vejam as grandes polêmicas envolvendo a América Latina como um todo, do qual ele e seu colega Evo Morales têm sido protagonistas.
Num mundo em que a liberdade não seja apenas um verbete de dicionário, qualquer ameba saberá que um presidente da república não pode re-eleger-se indefinidamente. Isso, por sinal, atenta contra a própria essência do republicanismo, que tem no revezamento no poder um de seus principais atributos. E não basta haver mecanismos constitucionais e legais para assegurar as pretensas liberdades. É preciso que sejam asseguradas na prática. Do contrário, quem estiver no poder vai se locupletar, espoliar, fraudar e perseguir, tornando a liberdade uma absoluta falácia.
Para este bicho, a atual Venezuela é uma falácia.
Em 2005, o jornalista Larry Rohter escreveu uma reportagem depreciativa sobre o Brasil, falando mal de Lula, pessoalmente, destacando um certo gosto do presidente pela marvada. Numa atitude que eu não tomaria, mas valendo-se de prerrogativas legítimas de nosso ordenamento jurídico, Lula anunciou que o jornalista seria expulso do país. Foi um Deus nos acuda. Afinal, aqui é a casa da mãe Joana. Além do mais, o passado de lutas democráticas de Lula, para a generalidade dos brasileiros, não permite que ele tome medidas enérgicas que soem antidemocráticas. Foi mais quem ficou contra ele. Ainda me lembro do Jornal Nacional defendendo a liberdade de imprensa — um dos mais férteis argumentos para crimes, chicanas e patifarias que este país possui.
Definitivamente, Venezuela não é Brasil. O que, sob certos aspectos, é bom. Tanto FHC quanto Lula foram acusados de governar através de medidas provisórias e de engendrarem uma espécie de golpe branco de Estado. Até agora, nada aconteceu. Está difícil estabelecer uma nova ditadura neste país. Afinal, daqui a pouco começam as preocupações com o Natal e, passado este, o ano novo só começa depois do carnaval. Não há projeto político que sobreviva ao jabaculê dos brasileiros.
Devemos agradecer por isso?

2 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Chaves é a versão sul-americana de Idi Amin Dada Oumee. Sua própria loucura o destruirá.

Yúdice Andrade disse...

O problema, caro Fred, é que antes de se autodestruir ele pode e vai causar muito estrago. Provavelmente, mais do que tudo para os venezuelanos. Ele já está criando para si uma aura divinal de infalibilidade que, a mim, enoja.
Por escrever isto, tornei-me automaticamente um fantoche do imperialismo e estou proibido de entrar na Venezuela.