Demorou, mas finalmente encontrei, no sítio oficial do governo do Estado, alguma informação sobre o festival de ópera deste ano. Trata-se de uma comunicação de que às 10 horas da manhã do próximo dia 30 haverá uma coletiva de imprensa para apresentar o festival. Mas a aparente falta de zelo com que o evento está sendo tratado começa daí, pois a convocação ou convite anuncia o evento para "30 de agosto". Na verdade, o festival começa em 3 de agosto e o dia 30 sequer é uma segunda-feira, como dito. Um erro pequeno? Não acho. Se eu convido alguém para algo e forneço o dia errado, é como pensar em matar a sede e esquecer de tomar água.
Justiça seja feita aos tucanos, eles criaram e popularizaram o festival de ópera. Acho que "popularizar" é mesmo um termo adequado, pois o preço dos ingressos realmente era pensado para viabilizar maior volume de público. Não dá para montar um espetáculo de porte e cobrar ingressos simbólicos e muito menos franquear. Não é porque posso pagar, mas considero o valor decente. Afinal, qualquer porcariazinha que toca no rádio vem a Belém fazer show e cobra 25, 30 reais, ou mais, e os interessados não reclamam.
Os tucanos fizeram algo correto: pensaram o festival como um empreendimento que deveria ser profissionalizado. Ocorrerá todos os anos, então precisamos de pessoas que o elaborem com visão de futuro, não como um acidente de percurso. Infelizmente, qualquer governo longo demais apodrece, levando consigo seus frutos. A São Paulo Imagem Data reinou como produtora do festival por anos. Nos últimos, como já falei aqui no blog em outras oportunidades, as montagens foram ficando péssimas. A ópera escolhida podia ser ótima e os cantores, um arraso. Mas a montagem era pífia: pobre, pouco criativa, até feia. Não sei se os responsáveis ficaram preguiçosos ou se o governo começou a cortar o dinheiro. O fato é que as montagens de Carlos Gomes, Os palhaços e A flauta mágica me encantaram, mas Madame Butterfly e Carmen me entediaram.
Com a mudança de governo, cresceu não sei de onde um discurso, que já existia, que ópera é elitista e blá-blá-blá. E que petistas, por serem de esquerda, não teriam gosto para isso e acabariam com o festival. Comentário de gente retardada, claro. Um governo, que tenha o que se possa chamar de política cultural, deve viabilizar eventos para todos os gostos e não pode abandonar um projeto que já provou, por A+B, que faz sucesso, que tem público e repercussão nacional. O meu temor é pela qualidade do que será apresentado...
Vêm aí, Il Guarani, de Carlos Gomes; Gianni Schicchi, de Giacomo Puccini e La Cenerentola, de Rossini. Aguardo ansioso.
2 comentários:
Amigo Yúdice,
nada contra a ópera. Mas imagine se hoje o governo decidisse dar todo apoio na área esportiva ao badminton. Todos diriam "mas e o futebol, o basquete, o vôlei?" E o governo diria que todo Estado precisa ter uma equipe de badminton. Que os melhores Estados do mundo têm e nós também teremos. E que o badminton use todo o dinheiro para a área esportiva. E que apesar de todo o dinheiro, as competições sejam apresentadas, digamos, cinco, oito vezes, cada uma delas, para apenas mil pessoas. Valerá a pena? Acho correto o governo PT continuar com a ópera, mas fico atento quanto ao que for gasto com ela e o que será gasto nas outras áreas.
Abs
Vindo de ti, Edyr, o comentário se torna ainda mais lúcido. Concordo que o mais importante é a qualidade do investimento a ser feito. Qualidade tanto no que tange ao produto, quanto no que pertine às licitações e afins. E, claro, há a questão das prioridades. Por mais imprescindível que seja a cultura, é complicado defender amplos investimentos nela quando há pessoas morrendo de fome.
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