quinta-feira, 12 de julho de 2007

A palavra certa

Sempre tive medo de dar conselhos. Para meu espanto, contudo, desde muito cedo pessoas pediam minha opinião sobre suas inquietações. Eu recebia com enorme estranheza, e até incredulidade, pessoas mais velhas do que eu, ou que sequer tinham grande amizade comigo, abordando-me sobre questões importantes para elas. Eu me julgava incapaz de orientá-las, sendo esse um dos motivos de minha hesitação. O outro, que surgiu mais tarde, foi o medo da responsabilidade: já pensou se o cara faz o que sugeri e se dá mal? Um receio egoísta, admito. Mas eu era só um adolescente sem qualquer vivência especial. Como podiam as pessoas esperar tanto de mim?
Hoje, claro, os anos se passaram e as experiências se multiplicaram — as pessoais, as emocionais, as profissionais, etc. Mudei diversos pontos de vista, melhorei alguns, flexibilizei outros tantos. Ingressei numa carreira, a docência, em que volta e meia um jovem me pede algum tipo de apoio moral. A responsabilidade é grande e ainda estremeço diante dela. Mas não é o terror de antes. Já me consultaram sobre estágio, emprego, troca de curso, casamento e até abortamento. Nessas ocasiões, procuro fazer o consulente perceber que está apto a tomar uma decisão por si mesmo e aponto, se puder, os prós e contras que consigo enxergar.
Fizeram-me, assim, um arremedo de psicólogo desde cedo. E na vida adulta passei a apreciar tanto a Psicologia que, se voltasse no tempo, a decisão por fazer Direito talvez não fosse tão simples como antes. Conheço algumas psicólogas e aprecio a sabedoria das análises que fazem acerca da alma humana. Todos deveríamos ter noções de Psicologia na escola. É essencial. Há tantas coisas óbvias nos comportamentos das pessoas, que elas mesmas não percebem, nem quem está ao redor.
Evidentemente, o conhecimento da Psicologia, por si só, não faz de ninguém uma pessoa melhor, inclusive em se tratando de um profissional da área. Interessa como se usa esse conhecimento e como se pode fazer o bem para os outros com base nele. Ontem, p. ex., fizeram-me um enorme bem, daqueles que nos deixam realmente animados, revigorados.
Aprecio as pessoas que têm a palavra certa, para doutor nenhum reclamar. Que com serenidade e precisão, mostram-nos aspectos que serão úteis daqui por diante. Por isso, espero em Deus que eu, apenas um curioso da alma humana, consiga ser um pouquinho útil, se a ocasião se apresentar.
Espero que hoje todos escutem belas e sábias palavras. Sejam felizes.

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