O escritor Neil Gaiman é um ícone da cultura pop. Talvez menos por seus romances do que pelos quadrinhos antológicos que produziu, auxiliado pelo amigo e parceiro artístico, o ilustrador Dave McKean. Em seu portifólio estão títulos como as minisséries Orquídea Negra e Livros da Magia, além da graphic novel Stardust (posteriormente levada ao cinema por Matthew Vaughn, 2007) e da co-roteirização de Beowulf (dir. Robert Zemeckis, 2007). Nada, porém, que se compare ao sucesso cult do personagem Sandman, de longe o grande motivo pelo qual Gaiman é uma celebridade, tendo sido laureado com diversos prêmios, inclusive o famoso Will Eisner, por 13 vezes.
Em 2002, Gaiman lançou o romance Coraline, que recebeu, entre outros, o Bram Stocker* Award for Best Work for Young Readers em 2002. Visto por alguns como uma obra infantil no catálogo do sombrio escritor, Coraline é mais acertadamente comparado a uma versão de Alice no país das maravilhas, só que saída da mente de um sombrio escritor.
Muito em síntese, Coraline Jones é uma menina de 11 anos que detesta ser chamada de "Caroline" e se muda com os pais para uma outra cidade e, em meio a essa enorme sensação de não pertencer ao novo cenário, irrita-se com os pais, que nunca têm tempo para ela. O pai, inclusive, tenta distraí-la com tarefas bobas, a fim de mantê-la ocupada enquanto ele trabalha. E é numa dessas incursões que a menina encontra uma passagem secreta para outro mundo. Ocorre que esse outro mundo é uma cópia idêntica — ou quase — do mundo real em que a menina está inserida. Possui, inclusive, um pai e uma mãe, que a acolhem amorosamente (exatamente o que ela mais queria). Contudo, entregar-se a essas estranhas criaturas que têm botões em lugar dos olhos pode significar perder a alma para sempre.
Coraline é um terror juvenil, de excelente qualidade. Os botões que servem de olhos para os habitantes da outra dimensão, por sinal, foram inseridos no romance porque o autor tinha, na infância, uma espécie de fobia em relação a botões. Nada mais honesto do que colher medos íntimos e levá-los ao romance, que assim ganha uma genuína atmosfera assustadora.
Estreia hoje, em Belém, a versão cinematográfica de Coraline (no Brasil, Coraline e o mundo secreto,
dir. Henry Selick, 2009). Trata-se de um filme de animação (o que deve atrair levas de crianças ao cinema, sob a tosca suposição de que, se é animação, é infantil), com bons indicativos de ser uma ótima opção de lazer. Selick é um diretor americano especializado em filmes na técnica stop motion. Em sua filmografia estão títulos como o magnífico O estranho mundo de Jack (The nightmare before Christmas, 1993, escrito por Tim Burton) e o chatinho, porém bom para crianças, James e o pêssego gigante (James and the giant peach, 1996). Só lamento que o traço dado aos personagens foi suavizado (veja aí ao lado como os outros pais estão simpáticos), provavelmente para não assustar nenhum guri. O visual fofinho do desenho retirou as linhas angustiantes das ilustrações originais, mas talvez McKean não tenha topado participar do projeto.
Acabou de entrar na minha agenda do final de semana. Leia o livro e veja o filme.
* Abraham "Bram" Stocker, escritor irlândes (1847-1912), autor de Drácula, um dos maiores romances de terror de todos os tempos. O prêmio é concedido pela Horror Writers Association, sediada em Nova York.
3 comentários:
Excelente dica, Yúdice. Tenho pelo menos uns 8 volumes de Sandman em casa. A Teuly é louca pelos quadrinhos e eu aprendi a gostar.
Vou procurar assistir ao filme.
Abração.
Nunca li "Sandman", mas só tenho referências elogiosas. Será um programa para um mês de férias. Quanto ao filme, espero que ainda neste final de semana.
Acjei excelente essa animação...uma boa crítica! Mas se eu fosse criança, ficaria com medo..rsrs
Postar um comentário