Há alguns meses, levei um susto quando descobri que um de meus colegas de docência, o caríssimo Klelton Mamed — que leciona Direito Penal e processo penal, mas que ingressou na instituição para lecionar Filosofia do Direito —, é delegado de polícia. Fiquei pasmo ao pensar num delegado estudando e lecionando Filosofia (sim, eu me entreguei vergonhosamente ao clichê), a tal ponto que precisei me desculpar com Klelton pela reação exagerada. Mas ele, com a fidalguia que lhe é peculiar, disse que já estava acostumado. Desde então sempre conversamos sobre muitos assuntos edificantes.
Experimentei dia desses uma sensação parecida, quando li, na coluna "Espaço do leitor" do Diário do Pará, texto escrito por um policial militar defendendo a política de direitos humanos. Ele afirmava, com inteiro acerto, que o conceito de direitos humanos ainda não foi absorvido pela população. Posso ter me rendido de novo ao preconceito, mas não esperava ler isso da lavra de um PM.
Os momentos de alegria e esperança, contudo, cedem à rotina quando, na mesma seção do jornal, hoje, deparo-me com a carta de uma senhora detonando o aludido PM. A baboseira começa com "Só se for ao conceito dele que isso funciona." Segue-se o mesmo discurso de sempre sobre matar e morrer. A cidadã — uma professora! — diz ser "engraçado um PM defender os Direitos Humanos" e nessa frase resume toda a estultice com que ela e a esmagadora maioria das pessoas se posiciona em relação a questão essencial para toda a sociedade — e não apenas para os criminosos. Prossegue dizendo ser mãe de um PM, que não concorda com a tese do colega. A opinião correta, claro, é a do filho dela.
Por fim, misturando suas irresignação pessoal com problemas políticos de especial magnitude, passa a relatar o sofrimento dos policiais militares devido a sua humilhante remuneração. Nesse aspecto, empenho minha solidariedade, pois sei que o Estado maltrata seus agentes da lei. Mas não é por isso que eles devem descontar suas frustrações em ninguém, partindo para a porrada.
Essa senhora perdeu uma oportunidade de ficar calada. Quanto a mim, melhor ler um negócio desses do que ser analfabeto.
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