quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Para que serve o casamento

Matrimonii finis primarius est procreatio atque educatio prolis, secundarius mutuum adjutorium et remedium concupiscentiae.
(O fim primário do matrimônio é a procriação e a educação da prole; o secundário é a ajuda mútua e o remédio da concupiscência.)

A anotação é do grande professor Jorge Pinheiro, em seu livro Latim jurídico contextualizado (Belém: Escola Superior da Magistratura do Pará, 2004, p. 150), apontando a influência do Código de Direito Canônico sobre o Direito laico. O mais divertido é a parte final.

5 comentários:

Anônimo disse...

Isso me provocou inquietantes questionamentos: o casamento é mesmo necessário? Será que é mesmo impossível ser feliz sozinho? Será que é justo, que é lícito abdicar da própria individualidade (ou seja, se anular) para ter um relacionamento saudável com o sexo oposto?

Tenho minhas próprias respostas.


Paul McCartney Anônimo

Anônimo disse...

Yúdice, é de fato uma expressão interessante, extraída, se não me falha a informação, do Código Canônico (de 1917, chuto). A doutrina de que a concupiscência (que era o vício em que o desejo carnal pelo prazer sexual, não devidamente controlado ou canalizado, dava vazão à promiscuidade e à sodomia) pode ser remediada pela sublimação do desejo sexual, tornando-o veículo de expressão do amor espiritual por certo ser humano do sexo oposto, não deixa de ter a sua beleza poética. A concupiscência, que, deixada por si mesma, seria um mal que levaria o homem à perdição, poderia ser, contudo, transmutada numa forma superior de comunhão espiritual com outra alma, com quem os laços de afeição e a unidade de propósito religioso espiritual garantissem um tipo superior de vida comum. Assim, se o sexo era a repetição do pecado original, recordação da natureza decaída e pecaminosa do homem, que o afastava de Deus, o casamento era, em oposição, a forma sublimada de exercício da comunhão sexual, forma na qual o sexo, tocado e transmutada pelo amor, se convertia de instrumento de queda em instrumento de elevação e representava uma forma de adoração a Deus, em vez de afastamento dele. Embora eu seja ateu, embora eu esteja consciente de que a encarnação social prática dessa doutrina desmentiu muito do seu espírito, por causa da inferiorização da mulher, da permissão tácita ao adultério do marido, da separação hipócrita entre práticas sexuais permitidas e proibidas entre esposos - que praticamente esvaziava o leito conjugal da plenitude sexual e realimentava o imaginário do adultério masculino e da prostituição - e embora aquela não seja exatamente a minha concepção sobre a forma ideal (exclusiva) do exercício da atividade sexual, não posso deixar de admirar a extrema beleza, profundidade e engenhosidade daquela doutrina.

Anônimo disse...

Vou colaborar com uma estatística interessante:

100% dos pedidos de divórcio começam com um casamento.

Abraços!!!

Anônimo disse...

Em verdade, foi o casamento que corrompeu o concubinato. O cristianismo deveria ser tratado no brasil como problema de saúde pública, como tratamento de dependência, pois afeta até mesmo ateus....

Yúdice Andrade disse...

Paul, não acho de modo algum que a companhia seja indispensável à felicidade e, ainda que se procurando por ela, o casamento seria apenas uma das opções. Contudo, acredito que passamos a vida buscando um chnelo velho que nos esquente os pés nas noites geladas. Por isso, se a natureza não nos impulsionou a essa entrega amorosa, nós mesmos nos fizemos assim.
Por outro lado, como homem casado, posso te dizer que um casamento exige, sim, muitas renúncias, mas não anulação. Jamais me anulei e estou convicto de que minha esposa também não. As renúncias entram num pacote de custo-benefício cujo saldo nos parece altamente positivo. Afinal, todo investimento envolve riscos. E uma vida muito parada não teria a mesma graça.
Abraços.

É uma coisa muito interessante, André, encontrar valor em ideias com as quais não concordamos, ainda mais quando elas se originam numa fonte inesgotável de oposições extremas. Concordo que, enquanto ideia poética, a proposta do Direito Canônico é charmosa. Mas acaba aí.

Ou não, caro Jean. Há pessoas que não se casam (sequer moram juntas) e mesmo assim se separam. Não é um divórcio, tecnicamente, mas é uma separação. E os ônus são tão grandes ou até piores. Chegar-se a alguém sempre envolve uma boa dose de perigo.

Das 23h04, seu comentário me fez rir muito. "Problema de saúde pública" foi demais! Obrigado por me trazer essa alegoria, que com certeza usarei adiante.