Faço de tudo para não ir a médicos e hospitais. Estou numa idade em que acredito que doente, mesmo, ficamos quando nos pomos nas mãos dessa turma de branco. Aqui no blog, já comentei em algumas ocasiões sobre o caos que é a saúde, hoje, para quem tem plano de saúde. Anos atrás, falávamos dos sofrimentos de quem dependia da rede pública. Quem pagava pelos serviços, escapava. Hoje, só quem ainda consegue um pouco de dignidade é quem paga desde a consulta, no bom e velho particular. Quem tem plano, tá lascado. Quem não tem, morre. Em alguns casos, literalmente.
A supervirose que anda derrubando meia Belém e que também me atingiu, mas já está indo, fez estragos maiores em meu afilhado de 12 anos. Por causa dele, avariado desde a última sexta-feira, precisei ir ao hospital que atende única e exclusivamente o plano de saúde ao qual está associado. Tentei escapar disso, falando ao telefone com uma pediatra. Justifiquei que seria uma bobagem enfrentar uma emergência para escutar a resposta que vive na ponta da língua de todo médico: "é uma virose". Mas a malvada ponderou que, devido à sintomatologia prolongada, o quadro viral já poderia ter sido substituído (ou se somado, sei lá) a um bacteriano, por isso a consulta era necessária.
Vou sintetizar: foram mais de duas horas e meia para dois rápidos atendimentos pela médica, um raio-X, uma medicação na veia e um aerossol por 10 minutos.
A recepção pediátrica sugeria que a cidade fora atingida por uma calamidade. Crianças de todas as idades chegavam ser parar, basicamente com os mesmos sintomas. Pais aflitos e funcionários azafamados se cruzavam o tempo inteiro. Boa parte das crianças chorava e gritava. Gritava como se o próprio demônio estivesse em seu encalço. Uns gritavam por conta de seus males. Outros, pela prelibação da furada de agulha ou mesmo pela tolice velha de guerra. De repente, a perspectiva do que seja uma enfermaria em zonas de conflito ficou mais clara para mim.
O excesso de demanda comprometeu o atendimento, para o qual o hospital também não estava preparado. A equipe até se esforçava. Era um tal de mãezinha pra cá, paizinho pra lá, tentativas de explicar as causas da espera interminável, dos exames que não retornavam, do chefe de setor que não respondeu, etc.
Como todos tinham pressa, seguiam os funcionários e invadiam a sala da enfermagem. Crianças eram atendidas sem qualquer privacidade ou respeito por sua angústia. Um menino ficou cerca de 20 minutos sendo manipulado por duas atendentes, que não conseguiam pegar uma veia para aplicar o soro. Estressado e com medo, ele se tremia todo, enquanto os curiosos olhavam. Minha tia disse que Mateus (meu afilhado) teve sorte, porque erraram a veia dele uma vez só.
Jesus...
Se for para morrer, que seja em casa.
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