Todos sabemos que os avanços tecnológicos têm custado caro à privacidade das pessoas. Por um lado, temos equipamentos sofisticados para rastreamento de ligações telefônicas ou para visualização a longa distância. O filme Syriana (Stephen Gaghan, 2005) mostra um indivíduo que é assassinado via satélite: um míssil teleguiado atinge em cheio o carro que o transporta, com tudo sendo visualizado em tempo real, a quilômetros de distância. Por outro lado, temos os equipamentinhos popularizados, que permitem a qualquer um gravar áudio e vídeo, ou fazer fotos (já que um simples telefone celular agrega essas funcionalidades e câmeras digitais, com maior alcance e resolução, estão mais acessíveis).
A par disso, os sítios de vídeos — dos quais o YouTube é o mais famoso — criam condições para que esse material seja divulgado para o mundo inteiro, sob o manto do anonimato (que não será quebrado a menos que haja uma determinação judicial e, ainda assim, com dificuldades).
Por conseguinte, fazer algo errado ou simplesmente "pagar um mico", nestes tempos em que vivemos, pode não ser apenas um fato a martelar na memória de alguém. Pode ser algo que tome proporções globais e não cesse, mesmo com a passagem do tempo.
Que o diga Cyril Jaquet (29), que há dois dias abandonou um reality show da TV espanhola para se proteger da superexposição. Motivo: há 15 anos, ele assassinou os pais. Apesar de ter sofrido as consequências que a legislação da Espanha previa — ou seja, ele nada deve à Justiça ou à sociedade espanhola — seu crime não foi perdoado pelos censores que hoje somos todos, se quisermos, e teve sua vida devassada e divulgada.
O rapaz afirma que mudou e, com efeito, não voltou a cometer crimes. Mesmo assim, foi crucificado. Ressocializar-se é uma tarefa cada vez mais difícil neste mundo.
PS — Jaquet disse que não deseja falar sobre o seu crime. "O passado está enterrado para mim", declarou. Convenhamos, tratando-se do que se trata, a expressão não cai nada bem.
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