quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Canção sobre beijo gay numa aula de inglês

Um professor de inglês, de 25 anos, foi demitido da rede pública de ensino de Brazlândia (cidade-satélite de Brasília), por ter usado em uma de suas aulas a canção "I kissed a girl", de uma tal de Katy Perry. A direção da escola e a secretaria de educação juram pela fé da mucura que o professor fora advertido previamente de que não deveria usar a tal letra, porque ela incentivaria o consumo de álcool e ele trabalhava com alunos entre 12 e 14 anos. Teria desobedecido. Já o professor alega que a dispensa ocorreu pela temática homossexual, sendo que ele mesmo é homossexual. Seria uma retaliação pela orientação sexual.
Não sabemos quem fala a verdade. Mas o professor escolheu a melhor linha de defesa disponível. E você? Acha razoável mandar um trabalhador embora por causa da letra de uma canção?
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u505752.shtml

7 comentários:

Anônimo disse...

É inclusive polêmico saber se a canção da Katy Perry fala mesmo de um "beijo gay". Isso porque, embora ela, sendo uma garota, explicitamente mencione que beijou outra garota, e gostou ("I kissed a girl, and I liked it"), ela menciona o fato de ter um namorado ("I hope mmy boyfriend don't mind it"), de aquilo ter acontecido uma única vez ("That's not what I'm used to"), numa situação em que ela estava um tanto bêbada ("I got so brave, drink in hand"), de ela não ter planejado ("This was never the way I planned, not my intention") e "apenas para experimentar" ("I kissed a girl just to try it"), de modo que o quadro descrito na música se refere àquela prática, que tem se tornado usual entre meninas adolescentes, sobretudo da classe média de grandes cidades, de "ficarem" umas com as outras apenas para atender à curiosidade e ter alguma diversão extra. É homossexualismo? Não é? Não sei bem, fica naquela zona cinzenta em que algumas práticas moderninhas às vezes se colocam em relação às nossas categorias disponíveis de classificação das coisas. Para mim, que não sou pai de uma filha adolescente, é simples exercício de curiosidade sexual e ajuste a um modismo mais ou menos inofensivo. Que é assim porque vivemos numa sociedade patriarcal em que a torca de carícias entre garotas é objeto da fantasia de voieurismo masculino e que não haveria a mesma reação a um beijo "curioso" entre dois rapazes, não contesto, e penso que não há a menor dúvida. Apenas acrescento que, paralela à discussão sobre o uso na escola de uma música que alude a essa prática, há a discussão sobre a própria prática em si, que já dá certo pano para manga.

Yúdice Andrade disse...

Compreendo a tua ressalva, André, mas a nossa sociedade, devido exatamente aos predicados que mencionaste, não está apta a enxergar em certos comportamentos apenas uma experimentação inocente, quiçá útil ao processo de autodescoberta. Comportamentos sexuais são bastante exemplificativos do que digo.
Quando uma criança - e destaco que uma criança bem pequena - começa a tocar nos genitais, isso costuma provocar reações constrangidas, às vezes dramáticas e às vezes punitivas, motivadas por uma ideia de moral que a criança ainda não consegue compreender. Se é assim com crianças, imagina com adolescentes.
Para o indivíduo médio, se o sujeito experimenta - peço vênia para ser curto e grosso -, é porque é viado. Simples assim. Qualquer hipótese além disso fica por conta dos teóricos e psicólogos (eles próprios umas bichonas). Não é isso que se diz? É bem possível que apareça algum comentarista aqui, nessa linha.
Diante desta constatação, entendo que a canção - que desconheço; não sei sequer quem é Katy Perry - realmente alude a um beijo gay, seja porque assim seria percebido pelo senso comum, seja pelo motivo pragmático de que esse viés foi usado com a intenção descarada de vender o produto musical.
Digo isto apenas para ratificar a premissa da postagem. Mas se quisermos ir além dela, realmente o que sugeres é muito pertinente: discutir o real significado de certos comportamentos, p. ex. das experimentações dos jovens.

Lafayette Nunes disse...

Vamos por as coisas, onde as coisas devem ser postas.

Se numa aula de inglês, para adolescentes (Art. 2ª, parte final, do ECA), a tradução (ou não pois não se esqueçam que estamos numa aula de inglês) de letra musical, artigo, propaganda, o que quer que seja, leve, mesmo que "de leve", à "qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais." (Art. 5, idem), tal utilização é proibida.

É certo que, "Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento" (Art. 6º, idem), assim, se, e somente se, os adolescentes estivessem participando de aula de sexologia, ou educação e oreintação sexual, ou algo deste tipo, dentro da grade escolar, não haveria problema (isto é, desde que dentro dos limites legais, também).

E tanto e tantos outros direitos e obrigações de todos para com eles.

A questão é, numa aula de inglês, que presumo, no caso, o objetivo era traduzir uma letra de música do inglês para o português, não precisava, ou melhor, bem melhor dizendo, NÃO PODE o professor de adolescentes, utilizar texto de "cunho sexual" já que o ambiente não é o adequado e a finalidade não é correspondente.

Veja bem que não estou utilizando o termo gay, viado, homossexual, lésbico ou congênere, já que, no meu entender, isto é o que menos interessa no caso.

Trata-se de proteção legal. Ponto.

Ps.: Pô, o caro poderia utilizar "All You Need Is Love", dos The Beatles, que ainda estava por lá, trabalhando e não engrossando a fila dos desempregados.

"Tudo O Que Você Precisa É De Amor"

Amor, amor, amor
Amor, amor, amor
Amor, amor, amor
Não há nada que você possa fazer que não possa ser feito
Nada que você possa cantar que não possa ser cantado
Nada que você possa dizer, mas você pode aprender como jogar o jogo
É fácil

Nada que você possa fazer que não se possa fazer
Ninguém a quem você possa salvar que não possa ser salvo
Nada que você pode fazer, mas você pode aprender como ser com o tempo
É fácil

Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor, amor
Amor é tudo o que você precisa

Amor, amor, amor
Amor, amor, amor
Amor, amor, amor

Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor, amor
Amor é tudo o que você precisa

Não há nada que você possa saber que não possa ser conhecido
Nada que você possa ver que não possa ser visto
Nenhum lugar onde você possa estar que não seja onde você quer estar
É fácil

Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor, amor
Amor é tudo o que você precisa

Tudo o que você precisa é de amor
(Todos juntos agora)
Tudo o que você precisa é de amor
(Todos)
Tudo o que você precisa é de amor, amor
Amor é tudo o que você precisa
Amor é tudo o que você precisa
Isso é tudo o que você precisa
Isso é tudo o que você precisa
Isso é tudo o que você precisa
Isso é tudo o que você precisa
Isso é tudo o que você precisa
Isso é tudo o que você precisa
Isso é tudo o que você precisa
Ela te ama, yeah yeah yeah

Anônimo disse...

Não entendi a interpretação do ECA dada por vc, Lafayette. Em que momento a música utilizada, ou sua tradução, se amolda às circunstâncias da lei mencionada?

A meu ver, é justamente o contrário: o impedimento de seu uso sim - mormente pela atitude dos gestores da escola, em demitir o professor - configura absurda discriminação e opressão, arrimado em uma premissa totalmente teratológica: o "incentivo" ao consumo de álcool e drogas (sem mencionar o evidente motivo oculto: o medo da homossexualidade).

Francamente. O caso, guardadas as devidas proporções, assemelha-se à relativamente recente discussão a respeito da existência de instrutores gays nos escoteiros dos EUA (financiados pelos mórmons. Já viu). Até hoje, todo instrutor homossexual assumido foi defenestrado dos escoterios, sob o argumento de que não apenas poderiam abusar dos meninos como também "incentivariam" a homossexualidade.

Pior: a Suprema Corte, anaisando em caráter final uma ação de um dos instrutores contra os escoteiros, decidiu que não poderia ordenar sua volta pois significaria afirmar que "ser gay é bom".

Em ambos os casos, as "autoridades" partem de pressupostos equivocados e patentemente contaminados pelos preconceito para atingir metas aberrantes.

E, em ambos os casos, tendo em vista a idade das crianças e o fato de estarem em formação, inclusive e principalmente do caráter, o melhor seria simplesmente - ao invés de expulsar os "intrusos" por condutas "moralmente incorretas", o que demonstra irracionalidade extremada - ensinar respeito e tolerãncia com comportamentos diferentes dos nossos.

Afinal, a maneira adequada de combater um argumento não é com ódio e intransigência, mas simplesmente com um argumento melhor.

Anônimo disse...

Yúdice, não sei se já falei aqui, mas se não agora te digo, acho uma merda papear com anônimo. É a mesma coisa que alguém ligar para minha casa, pedir pra falar com o João, eu falar que não mora aqui, é engano, e o cara continuar perguntando sobre minha vida, o que jantei ontem e tal, mas, enfim...

Yúdice, como falei pra ti, na minha análise, do caso em comento, não co-relacionei o fato do professor ser homossexual com a escolha de uma música com letra sobre um relacionamento homossexual. Ora, achar que uma coisa tem a ver, ou leva a outra, aí sim seria um pensamento homofóbico, preconceituoso.

Tanto faz o professor ser homo, hetero, bi, enfim, não interessa a sua opção sexual, porém, utilizar fora do contexto, texto como o utilizado, leva o ato às regras legais.

Aliás, o texto também contém um "q" de apologia ao uso de álcool. Será que isso é "bacana", dentro de uma sala de aula? Fora já não é, imagine dentro.

Se tivesse um filho ou filha e soubesse algo parecido dentro da sala do colégio deles, iria à direção, ou até mesmo ao professor, ou professora, para saber qual a metodologia, o conceito educacional empregado, qual o preparo pedagógico para ministrar o assunto.

E amigo, na real, a questão só pegou carga contra a demissão porque o professor é homossexual.

Imagine a cena, e o que a mídia faria: professor de uns 50 anos, mal vestido, meio tímido, barba por fazer, com certa dificuldade de se expressar em frente às câmeras, e tal. Ah meu caro, não tenha dúvida que iam cair de paulada no cidadão (mesmo que o cara fosse, na verdade, um grande cristão rsrsrsrs), e vivas à direção da Escola, inclusive o anônimo.

Yúdice Andrade disse...

Lafayette, alguns anônimos trazem contribuições muito interessantes. As que não são, sequer são publicadas. Penso que a réplica que ele te fez tem argumentos relevantes e, honestamente, consigo encontrar uma via de conciliação nessa divergência. Em suma, os dois têm um pouco de razão. O teu argumento é mais técnico e o dele, mais social. Sou um pouco mais inclinado a este, mesmo que isso não implique em dar a ele toda a razão no caso concreto.
Eu preferiria que o papo continuasse.

Cristiane disse...

Gente, o que se planta, se colhe. Os frutos da libertinagem da atual cultura ocidental já se fazem presente, estamos em uma sociedade com altos índices de desequilíbrio emocional, depressão, pedofilia, abuso de drogas e álcool, não adianta negar que isso se relaciona com a desestruturação das famílias, com o cultivo excessivo do individualismo, da falta de valores etc Adolescentes em uma idade cheia de curiosidades definitivamente não precisam de incentivo a experimentar sua sexualidade, porque instintivamente já é o que eles querem, na geral... Só que não tem maturidade, não sabem administrar, enfim é uma idade boa pra fazer muita besteira. Não adianta reprimir, mas também não precisa incentivar, a gente sabe que na geral não é uma galera firme, bem resolvida, pelo contrário, por exemplo, depois daquela novela da rede globo que tinha um casal um monte de garotinhas inseguras querendo aparecer saíram por aí se beijando de mãos dadas, puro modismo, enfim.