segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Atropelado pela polícia — novas notícias

O estado de saúde de Lucas, atropelado por uma viatura policial ontem (vide, abaixo, a postagem original), piorou. O rapaz está com edema cerebral, o que inviabilizou a cirurgia para reconstituir os ossos da face e obriga os médicos a mantê-lo em coma induzido, a fim de controlar a pressão intracraniana. Infelizmente, já se fala em riscos de sequelas, mas por enquanto é difícil avaliar.
Paralelamente, as circunstâncias do atropelamento vão ficando mais nebulosas, a partir dos depoimentos de algumas testemunhas contactadas pelos familiares. De saída, o motivo alegado pelos policiais, para estarem na contramão, foi perseguição a ladrões que haviam assaltado a Cairu da José Malcher com 14 de Março. Todavia, não há confirmação de que tal assalto tenha mesmo ocorrido. Além disso, testemunhas disseram ter visto policiais mexendo na mochila de Lucas, o que poderia explicar o desaparecimento de alguns objetos (não sei quais), relatado por parentes.
Seja teoria conspiratória ou não, hipóteses muito drásticas estão sendo levantadas, mas por ora me escuso de enveredar por esse caminho. Prefiro aguardar maiores informações. Todavia, externo um sentimento que me ficou desde ontem.
Como motorista, já estive em situações de um pedestre ou ciclista aparecer subitamente na minha frente. E olha que não dirijo na contramão, por isso o aparecimento inopinado de um transeunte me assustou mais do que deveria a um condutor que sabe estar em situação irregular e, por isso, deveria redobrar a cautela. Pois bem, eu reduzi a velocidade, parei ou desviei. Tanto que jamais atropelei ninguém, graças a Deus.
Foi o que eu fiz...

Acréscimo às 8h08:
A mãe de Lucas telefonou para meu irmão há cerca de meia hora. O estado de saúde do rapaz piorou ainda mais. Seu coma não é induzido, e sim resposta do organismo ao edema cerebral. A mãe está atrás de fotografias ou filmagens da peça teatral de que ele participou com meu irmão, nessa última virada de ano, para instruir os procedimentos investigatórios que se espera sejam instaurados, a fim de demonstrar que tipo de vida levava antes de ser colhido pela viatura. Um pedido de investigações foi formalizado pela família ontem, com vistas a se apurar as causas reais desse episódio.
Paralelamente, um major telefonou para a família ontem, perguntando se estavam "precisando de alguma coisa". Estão. Da recuperação de Lucas. Isso, contudo, não foi possível oferecer.

4 comentários:

Carlos Barretto  disse...

É o tratamento clássico do "brain swelling" (edema cerebral) traumático.
A princípio, é iniciado quando a deterioração do nível de consciência ultrapassa determinado limite.
O nível de consciência é avaliado utilizando a Escala de Coma de Glasgow. Ela vai de III(coma mais profundo) a XV (paciente inteiramente alerta) e sua pontuação leva em consideração, abertura ocular, resposta a estimulação dolorosa e resposta a solicitações verbais.
Em Glasgow VII, recomenda-se que todos os pacientes de neurotrauma sejam entubados, sedados e mantidos em ventilação mecânica por algum tempo, de maneira e reduzir efetivamente o funcionamento do cérebro (reduzir o metabolismo cerebral), propiciando uma recuperação gradativa do "inchaço" cerebral. Além disto, sabemos hoje que o que de fato lesiona o cérebro traumatizado nesta circusntância são as alterações da pressão intracraniana. E elas ocorrem quando existe hipertensão arterial sistêmica, quando se espirra, tosse, grita, enfim, melhor estar dormindo neste momento.
Após este período, deve-se suspender os sedativos e aguardar. Não há solução cirúrgica para o edema cerebral. É meramente clínica (e isto não significa dizer que não está se fazendo nada, diga-se). A não ser quando ele estiver associado a um tumor intracraniano ou a um coágulo, o que não parece ser o caso.
O cérebro tem consistência "amanteigada" e se incha rapidamente frente a um trauma. O processo inverso, não é rápido, exigindo um descanso na atividade cerebral para que ele ocorra de forma natural. Qualquer consideração sobre sequelas ou prognóstico neste período é apressada.
Há que se ter calma para dar tempo a recuperação.

Abs

Yúdice Andrade disse...

Muito chique a tua explicação, Bar. Fiz referência a ela numa postagem de hoje.

Anônimo disse...

Estava pesquisando sobre o tempo de recuperação de um edema cerebral e achei realmente bem interessante as explicações do(a) Flanar.
Tenho um sobrinho de 19 anos que sofreu um acidente de carro no 08/06/2008, o diagnóstico dos médicos foi um edema cerebral. Ele passou 1 mês e 20 dias no hospital, sendo 26 dias na UTI. Hoje encontra-se em casa, mas ainda desorientado e se alimentando por sonda. Já responde algumas perguintas do tipo onde estuda, qual a disciplina que mais gosta,tem movimentos em todos corpo, já fica sentado na cadeira, mas ainda não reconheceu seus familiares.
É angustiante essa espera, sei que é tudo muito lento.
Passo horas na net procurando casos parecidos e o tempo de recuperação.
Os médicos falam que ele é um jovem de 19 anos e é possível ficar sem sequelas e que realmente a recuperação é lenta.

Jaqueline

Yúdice Andrade disse...

Jaqueline, antes de mais nada, minha solidariedade a você e a sua família, neste momento difícil. Espero que a recuperação de seu sobrinho ganhe em velocidade e qualidade. No mais, obrigado pela atenção ao blog.
Realmente, o Barretto, que é médico intensivista dos bons, já nos emprestou seus conhecimentos em mais de uma ocasião aqui no blog. Neste momento, ele está de férias em algum lugar do mundo, mas certamente ficará feliz de saber que pôde ajudar, com as informações prestadas em outro caso.
Um abraço. Volte sempre.