terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Ranking do Exame de Ordem

A OAB ficou em sétimo lugar no ranking nacional da primeira etapa da prova do Exame de Ordem. A posição coloca a Seccional paraense acima dos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, e com apenas 6% de diferença da Seccional da Bahia, primeira colocada no certame. No Pará, o índice de aprovados foi de 35%.

É no Centro-Sul do país que se localiza a maioria das instituições de ensino superior de araque, aquelas que na verdade não possuem uma proposta educacional clara, mas que garante aos interessados ter um diploma, após 4 ou 5 anos (isto é, 48 ou 60 mensalidades). Sabe aquele negócio de metade do tempo por metade do preço? É por aí.
Um dos critérios pelos quais se pode reconhecer uma IES de araque, mesmo sem conferir os seus índices de desempenho, é analisar o currículo do curso, que pode ser encontrado pela internet. O problema é que o leigo, o cidadão comum, não dispõe dos conhecimentos necessários para analisar a fundo o currículo, pois ele precisa conhecer a progressão lógica das disciplinas.
Falando do curso de Direito, as disciplinas propedêuticas (Economia, Sociologia, Filosofia, etc.) estão no primeiro ano. Mas a Filosofia do Direito aparece no último ano. Não é à toa. É preciso que o aluno já esteja amadurecido no Direito para enfrentar as novas reflexões que esse campo da Filosofia pede. A sequência das disciplinas não pode ser atropelada.
Um dos exemplos mais absurdos que já vi foi colocar Medicina Legal no primeiro semestre letivo! O aluno não tem a menor noção de Direito Penal e muito menos dos conhecimentos interdisciplinares que as ciências forenses reclamam. Ou seja, a disciplina fica esvaziada a se reduz ao que a IES quer: ser um chamariz, para atrair candidatos desinformados, atraídos pelo clima CSI da coisa, mas sem saber que não usufruirão tudo o que a disciplina oferece.
Enfim, não me impressiono com os números acima. E vamos ao trabalho para torná-los ainda mais favoráveis a nós.

6 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Logo no segundo dia de aula, comentei com um colega de turma que se chegássemos ao fim do curso, veríamos apenas uns quinze dos cinqüenta calouros concluírem juntos. Por enquanto estou errando por uns oito ou nove, segundo nossas últimas contas do semestre passado.
Uma das conclusões que se pode tomar do elevado número de desistentes é a desilusão com as expectativas criadas antes de sentir a realidade do direito. Talvez aí esteja uma das vertentes que levam o estudante a, mesmo desiludido e desestimulado pela maçante carga de estudos, ir em frente, empurrar o curso com a barriga até a conclusão, e tentar o exame da Ordem na base da loteria. Primeiro escolheu o curso sem estar esclarecido e sem ter afinidade com a ciência jurídica, e vítima da inversão da ordem natural das matérias, tal como referido no post. Depois inverte o empenho pela sorte e abraça o título sem um adequado preparo.
Também não me impressiono com os números, amigo. Afinal, os piores são expressos pelas estatísticas dos índices de violência e impunidade, conseqüências que são também de um direito aplicado (ou não) por nossos próprios tribunais. É bonito saber o porquê. Mas é melhor ainda quando é eficaz.
No mais, penso que o exame deveria ser obrigatório também para os advogados com mais de dez anos de "prática" forense, com objetivo de tirar de circulação muitos que não sabem patavinas do que estão fazendo. Apenas estão fazendo porque são advogados e sentem-se obrigados a saber de tudo um pouco.
Pior do que não deixar entrar no mercado é deixar ficar o que não serve ou serve mal.
Um abraço

Ivan Daniel disse...

Quando eu estava cursando as disciplinas Civil I e Penal I, fazendo o 3º semestre de Direito numa tradicional faculdade de Brasília, algumas pessoas conhecidas estavam cursando o 1º semestre de Direito na UNIP e já tendo contato com Penal I e Civil I. Eu achava muito errado, mas a fama da UNIP de Brasília é de que se você deixar cair um documento na porta da faculdade, dias depois chega por correspondência um comunicado de aprovação no vestibular.

Yúdice Andrade disse...

A maioria das nossas turmas conclui o curso volumosas, Fred, em que pese sempre haver um número considerável de defecções, não apenas por desistência, mas por trancamento temporário de matrícula ou reprovações. No caso da tua turma, que é de meio de ano, essas dificuldades podem se avolumar, pois em geral é um vestibular que atrai um maior número de trabalhadores, que fazem Direito como segundo curso. Pelo menos atá aqui tem sido assim.
Quanto à tua proposta de advogados veteranos fazerem um exame de Ordem, ela é bastante recorrente, mas não vejo sentido nisso. Conheço excelentes advogados que atuam numa única área e, provavelmente, não seriam aprovados no teste. São, porém, profissionais de valor, cuja carreira já se consolidou em uma só área. Se procurados para outro tipo de causa, declinam ou recomendam um colega. Aliás, é por isso que os escritórios tendem a ser multidisciplinares. O Ney Sardinha, p. ex., mais de uma vez veio me fazer perguntas sobre Penal, admitindo não saber por onde passa. Qual a lógica de mandar avaliá-lo? E quem dirá que não se trata de uma das melhores cabeças que temos por estas bandas?
No caso dos neófitos, a maioria deseja seguir esta ou aquela área, mas todo começo de carreira envolve uma clínica geral.
Enfim, sou favorável a exames de proficiência para todas as profissões. Para advogado, é pouco.

Yúdice Andrade disse...

Ivan, eu não escrevi o nome, mas a faculdade... Enfim, adorei a piada sobre perder um documento. É por aí, mesmo.

Anônimo disse...

O que observo é um processo de banalização e "dogmatização" latente dos cursos de Direito. As faculdades (ou quase isso) cada vez mais enxugam de seus currículos disciplinas propedêuticas, basilares e, sob meu olhar, fundamentais para o estudo da CIÊNCIA DO DIREITO. Aliás este conceito de ciência é o que menos sê vê. Parece-me que formam rábulas com diplomas de bacharel, que sai da faculdade com o argumento do tipo: "Está na lei, esta é a lei" ou o ultrapassado jargão: "Dura Lex Sede Lex". Não consegue nem ao menos refletir o porquê e para que tal norma serve.

A agora Centro Universitário Estácio de Sá (sinceramente não sei o que isso vai mudar na minha vida), está com projeto de captação de alunos. Ou seja, os primeiros semestres são menos custosos e a medida que o curso afunila, o valor da mensalidade aumenta, mas aí, o índice de desistência em fases mais agudas é menor que nas fases iniciais.

Reduziram a carga horária de Filosofia, Sociologia e Economia e aumentaram as cargas de Direito Empresarial, unificando o currículo com a matriz do Rio de Janeiro, o que ao meu ver soa como desrespeito à regionalidade, afinal o campo de atuação para Dto Empresarial em SC não é muito amplo.

Posso até estar errado, mas o curso de Direito, salvo raras exceções, não se preocupa em formar bacharéis com consciência crítica, e sim pessoas capazes de manter a engrenagem do sistema funcionando por mais tempo.

Devo lembrar que é apenas a visão de um estudante da 5ª Fase de Direito, podendo então conter distorções.

Grande Abraço

Hellen Rêgo disse...

Fico revoltada ao ver que em cada "faculdade" que surge o curso de Direito é o primeiro a ser anunciado. Todo mundo hj quer fazer Direito, pq tem status, é bonito, da dinheiro, não passou em medicina (isso virou moda)e outras dessas coisas.
Até mesmo entre os amigos de curso, francamente, quanta futilidade, tanto ignoram os professores de filosofia: estes são os resultados!
E ainda tem quem defenda a possibilidade de acabar com o Exame de Ordem,td está perdido mesmo.
Não questiono em nenhum momento a vontade das pessoas crescerem, se realizarem profissionalmente, ou ter direito à educação superior. O que essas pessoas não lembram, é que muito antes de "arrumarem" suas vidas, estarão "arrumando" ou "desarrumando" a vida de tantas outras pessoas, seres humanos! Não estudamos a Lei pela Lei (ou não deveriamos pelo menos).
Não sei se fico triste ou feliz pelos resultados paraenses, sinceramente.
Vou linkar o seu blog no Medida Provisória.
Abraços
Hellen