terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Promotor de violência

Em minha atividade profissional, algumas vezes manuseei autos processuais em que atuava, como promotor de justiça, o nacional José Luiz Furtado. Não o conheço além do nome e da função pública. Mesmo assim, surpreendeu-me a notícia de que disparou nada menos do que cinco tiros de pistola calibre 7.65 contra a própria esposa, que escapou da morte — segundo repercutem os blogs, notadamente o 5ª Emenda e o do Hiroshi Bogéa — porque o agressor atira muito mal. O desfecho poderia ter sido muito pior mas, de qualquer maneira, já se soma aos lamentáveis episódios de violência contra a mulher, um dos mais tristes ranços de nossa sociedade. Aliás, parece haver um histórico de violência na relação, inclusive com uma ocorrência policial antiga.
Surpreendi-me porque, seja ingenuidade ou não, parto do pressuposto de que membros do Judiciário e do Ministério Público possuem um nível de educação e civilidade (além do que têm a perder, claro) que os incompatibiliza com a criminalidade violenta — ao menos com a violenta, que é mais aberrante. Mas na prática a teoria é diferente.
Não se sabe o paradeiro do promotor e já se especula, até mesmo, se não estaria sendo protegido na sede do Ministério Público em Marabá. Fosse um quase homicida menos concursado, menos instruído, hipossuficiente (e por que não dizer? mais moreninho), já teria sido rotulado de foragido e a polícia estaria no encalço do meliante. Como não é o caso, todos aguardamos o Sr. Promotor comparecer espontaneamente, para prestar esclarecimentos.
O sítio do Ministério Público do Estado do Pará, neste momento, na área destinada a notícias, exibe uma com a indicação ostensiva "Violência doméstica" — mas se trata do caso de Lílian Obalski, assassinada pelo ex-namorado há alguns dias. Sobre o assunto interno, nenhuma palavra. Todavia, segundo informa Hiroshi Bogéa, logo mais, às dez horas, haverá uma coletiva na sede do MP, em Marabá, para tratar do assunto.
O que se espera é que o fiscal da lei e senhor da ação penal faça o que a sociedade espera. Não se trata de condenar se julgamento, nem de pré-julgar, muito menos de demonizar o atirador, pois não me dou a esses desfrutes. Deixo isso para os Datenas da vida. Ocorre que, neste caso, a autoria do crime é conhecida. Portanto, urge que as leis sejam aplicadas como se deve.
Minha maior curiosidade neste caso é: magistrados e membros do MP, quando atuarem na ação penal que surgirá, se comportarão como? Vão querer a prisão preventiva, como fazem com os réus pobres, ou finalmente se recordarão da Constituição e dirão que a custódia cautelar somente deve ser aplicada em último caso?
A conferir.

Atualizado com notícias surrupiadas do Bogéa. Aliás, clicando aqui, você pode conhecer a versão do promotor e uma contestação policial.
Polícia de Marabá, durante busca na residencia do promotor José Luiz Furtado, recolheu 4 munições 1.40 milímetro; 13 balas calibre 32; 2 munições 9 milímetros; 1 bala 44 m, de uso exclusivo.
No arsenal do promotor, também três suportes para munição e 1 capa para arma de grande calibre.
Constararam também que haviam sido deflagradas 8 protéjeis em diversos pontos da casa, com marcas pelas paredes e móveis.
E numa guerra, como ninguém é de ferro, 11 caixas de uisque, devidamente vazias.
Para surpresa dos policiais, diversos animais silvestres compõem também a residencia do promotor. Agentes do IBAMA, acionados, efetuam o inventário do criatório.

Atualização às 10:42
O promotor Luiz Furtado já está trabalhando normalmente em seu gabinete, no Ministério Público de Marabá. Na edição de hoje do Correio do Tocantins, declara que no momento em que concedia, pelo celular, entrevista ao jornal, encontrava-se no interior de seu carro dirigindo-se a Belém, onde se apresentaria ao Procurador- Chefe do MPE.
Como já despacha normalmente em sua sala de trabalho, conclui-se: 1) ou o promotor desisitiu no meio do caminho de sua viagem a Belem, retorndo à cidade; 2) ou, em verdade, ele nunca saiu de Marabá.
O blog fica com a última dedução, reforçando rumores de que ele estava realmente em sua sala do Ministério Público trabalhando durante todo o dia de ontem, enquanto a polícia corria-lacoxia por outros lugares.

2 comentários:

Sergio Lopes disse...

YUDICE,é dificil você conceber um Estado de Direito, onde alguns dos componentes da cupula do poder judiciario utilizam-se de leis arcaicas é discriminatórias para livrar-se do devido processo legal. Infelizmente, em nosso País, alguns membros do poder se acham acima do bem e do mal, praticando atos ilicitos com a firme convicção de que a mão da justiça não ira apanha-los, e o pior é que eles tem razão.As noticias dão conta que o citado membro do parquet encontra-se trabalhando em seu gabinete e a policia não sabe onde localiza-lo. Você sabe quando este promotor será preso Yudice, no dia e que o Sargento Garcia Prender o Zorro ou seja nunca.

12:25 PM

Yúdice Andrade disse...

Ao escrever a postagem a intenção era alertar para a condução do caso, pois ela certamente mostrará que todos somos iguais perante a lei, mas uns são mais iguais do que os outros. Dinheiro, cargos, influências pessoais, acesso à imprensa... tudo faz diferença.
Vamos conferir. Isso é crônica de uma morte anunciada. Espero que não da esposa.